Cidades

Mulher corre contra o tempo para encontrar a mãe biológica

Uma das metas é obter informações úteis ao tratamento que ela faz para combater um câncer

postado em 06/05/2010 09:28
No próximo domingo, é Dia das Mães. Cada uma passará a data de uma maneira diferente, com a família, em meio a homenagens, abraços, beijos e presentes. Há quem vai chorar de tanta alegria, mas muitas vão derramar lágrimas de dor e tristeza. A comerciante Marta Cléria de Lima, 45 anos, planeja ficar em casa com o marido e os três filhos, como faz todos os anos, mas, pela primeira vez, a data será angustiante. Marta foi abandonada pela mãe biológica quando era bebê, com no máximo três semanas de nascida. Cresceu sem saber que era adotada e apenas aos 17 anos foi informada do fato por meio de uma vizinha. Em novembro do ano passado, exames identificaram um tumor no cérebro. ;Se o câncer evoluir, o médico me dá só seis meses de vida;, revelou, com olhar triste. Ela começou, então, uma verdadeira peregrinação em busca da mulher que a gerou. ;Não quero morrer sem antes conhecê-la.;

Marta Cléria só soube aos 17 anos que não era filha de quem imaginavaNa esperança de descobrir pistas que a levem até a mãe biológica, Marta resolveu postar vários anúncios na internet e em blogs. A única coisa que sabe é que nasceu no antigo Hospital de Pronto Atendimento Psiquiátrico (Hpap), atual Hospital São Vicente de Paula, e que foi registrada pela mãe adotiva, Alzira da Costa Lima, atualmente com 90 anos, em 17 de janeiro de 1965. Segundo ela, a mãe biológica se chama Nair e ficou hospedada alguns dias na casa de um casal de espanhóis, na QSB 16 de Taguatinga.

Na hora de ir embora, a mulher deixou com Alzira um álbum costurado à mão com a foto de um bebê na capa. O documento, entretanto, só foi revelado há pouco tempo, após quatro décadas do abandono. ;De tanto eu insistir, ela disse que a única coisa que minha mãe deixou foi o álbum. Já abri ele todo para ver se encontrava alguma coisa importante dentro, mas não achei nada. Para todo canto que eu vou eu carrego este tesouro comigo.;

O mundo ruiu
Enquanto não sabia da verdade, Marta Cléria levava uma vida normal, embora com alguns traumas na infância que prefere não abordar. Depois de uma discussão com a vizinha, aos 17 anos, ela soube que era adotada. Os pais adotivos negaram a informação e ela resolveu sair de casa. Engravidou no mesmo ano a fim de fugir do pesadelo. A revolta era tamanha que não pretendia mais voltar para casa. Na década de 1980, era uma das melhores jogadoras de vôlei da seleção brasiliense e já havia sido aprovada em um concurso da antiga Fundação Hospitalar, mas, por causa da idade não pôde assumir a vaga.

Diante desses conflitos, Marta resolveu dar um rumo em sua vida e dedicou-se aos estudos para garantir seu futuro. Formou-se em jornalismo, contabilidade e turismo. Durante 18 anos, foi chefe do Ginásio Nilson Nelson, até ser exonerada, em janeiro de 2007, pelo então governador recém-empossado José Roberto Arruda. ;Em 2006, eu descobri um câncer de mama e também tive trombose. Ele me demitiu porque eu estava doente e não servia mais para trabalhar;, acredita.

O mundo de lá para cá desmoronou ainda mais. Marta Cléria superou o câncer de mama e a cirurgia de retirada do tumor foi bem-sucedida. Um ano depois, vieram fortíssimas dores de cabeça ; ela nem consegue encostar no travesseiro. Ao retornar para o Hospital Regional de Taguatinga (HRT), foi pega de surpresa com a descoberta de um novo tumor, desta vez no cérebro. Chegou a tomar 78 comprimidos de um medicamento para controlar as fortes dores de cabeça, e conta que, nos últimos meses, elas passaram. ;Tenho que fazer quimioterapia constantemente porque, se o tumor estiver evoluindo, não vai adiantar abrir para a cirurgia, porque já estará enraizado. Daí eu posso contar seis meses de vida;.

Pistas
Uma das informações que Marta recebeu do casal de espanhóis é que sua mãe biológica tinha entre 18 e 20 anos quando a abandonou. A jovem seria casada e o bebê seria de outro homem. Marta, porém, não tem certeza da informação. Outra pista é que a mulher supostamente chamada Nair entregou Marta para Alzira, que na época sofria de depressão por ter perdido um filho de 14 anos. No ano passado, a comerciante ouviu comentários de que sua mãe legítima esteve em Taguatinga, na CSB 16, mesmo bairro onde a deixou. Se isso aconteceu ou não, a verdade é que os burburinhos alimentaram ainda mais o sonho de Marta conhecer a sua verdadeira mãe. A vizinha espanhola teria garantido que Nair mora em uma fazenda em Unaí (MG). Por causa disso, somente este ano Marta foi três vezes ao local pedir ajuda da prefeitura, do serviço de inteligência da Polícia Militar e do serviço social para localizar a mãe.

Uma busca minuciosa levou Marta a 18 nomes de senhoras com a mesma idade que hoje teria Nair. Ela acredita que a mãe tenha entre 60 e 65 anos. No Distrito Federal, Marta Cléria procurou saber o nome completo de Nair por meio do arquivo morto do Hpap, onde nasceu. Mas até hoje não conseguiu obter a documentação. ;Acho que enterram de vez o arquivo morto;, brincou, quebrando um pouco a tensão de falar no assunto. A assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde do DF informou que, para começar um procedimento investigatório do arquivo morto, é preciso haver um pedido formal da delegacia da cidade.

Mesmo diante de tanta burocracia, Marta Cléria não perde a fé. A mulher de pele e olhos claros e cabelos ondulados promete não desistir de realizar o seu maior sonho. ;Sinto um vazio dentro de mim. Não tenho raiva dela. Não sinto nada, mas eu gostaria muito de saber como ela é e o que a levou a me abandonar. Preciso saber também se há histórico de câncer na minha família, porque só assim os médicos podem descobrir a origem da doença e eu ter uma chance de vencê-la;.

A ficha
Nome: Marta Cléria de Lima, 45 anos
Moradora de Taguatinga Sul

Mãe: Nair
Foi entregue a um casal de espanhóis que morava na CSB 16 de Taguatinga Sul. Eles a entregaram para Alzira da Costa Lima, que a criou.
Nasceu no antigo Hospital de Pronto Atendimento Psiquiátrico (Hpap) e atual Hospital São Vicente de Paula.

Registro: 17 de janeiro de 1965


Você pode ajudar?
Quem tiver alguma informação da mãe de Marta pode ligar para os telefones: 3351-7193 ou 9604-2920

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