Cidades

Luta das mães dos seis jovens desaparecidos em Luziânia é reconhecida

Em audiência pública realizada no Senado, autoridades apontam falhas do Estado e prometem cobrar agilidade na elucidação do caso

Naira Trindade
postado em 07/05/2010 08:05
O mistério que envolve o desaparecimento de jovens de Luziânia ; município distante 66km de Brasília ; continua. Vinte e seis dias após o início dos exames de identificação dos seis corpos encontrados na Fazenda Buracão, a Polícia Federal ainda não concluiu todos os laudos. Ontem, durante uma audiência pública realizada no Senado Federal, as mães dos garotos cobraram mais agilidade na realização dos testes. A demora, segundo elas, levanta a suspeita de que os corpos podem não ser dos desaperecidos. Empenhada em divulgar os nomes, a Polícia Federal colheu material genético de Benildes dos Santos, 50 anos, mãe de Eric dos Santos(1), 15, sétimo adolescente a sumir no município goiano. Eric não está incluído no inquérito policial que investiga o caso.

A ausência de notícias sobre o estudante começou em 22 de março deste ano, quando as seis mães de Luziânia já lutavam para que o caso dos primeiros adolescentes não caísse no esquecimento. Auxiliar de produção, Benildes dos Santos não teve oportunidade de se afastar do trabalho para abraçar a causa como as demais. Teve de lutar sozinha para que os policiais civis goianos iniciassem as buscas pelo filho. O inquérito da investigação demorou um mês para ser aberto e, após 45 dias do sumiço, não há nem suspeita do paradeiro dele. Ao receber a notícia de que o caso dos seis adolescentes começava a ser desvendado, Benildes teve esperança de que o filho também fosse encontrado.

Ela esperava ser chamada para reconhecer as roupas do filho entre as peças recolhidas no quarto do pedreiro Ademar de Jesus Silva, 40 anos, assassino confesso dos jovens, que foi encontrado morto em uma cela da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), em 18 de abril. Mas, apesar da pouca distância entre a residência da família de Erick, localizada no Parque Industrial Santa Fé, da casa onde morava o pedreiro, no Parque Estrela Dalva, os policiais não vincularam os dois casos. As investigações correm paralelas e a principal hipótese investigada é a de fuga. Esta semana, a PF resolveu cruzar os materiais genéticos das ossadas ainda não identificadas com o sangue da mãe de Eric, supostamente para realizar um exame de compatibilidade.

O delegado da Polícia Federal Hellan Wesley Almeida Soares alega que o tempo é necessário devido à precisão dos exames. ;Não podemos errar;, pontuou. Segundo ele, os laudos serão divulgados em breve, todos juntos. O titular da 5; Delegacia Regional de Polícia de Luziânia, José Luiz Martins, responsável pela investigação do sumiço de Eric dos Santos, afirma que a polícia não descarta nenhuma possibilidade e que, na semana passada, agentes estiveram em Brasília à procura do menino depois de receber uma denúncia anônima.

Força-tarefa
Corajosas, valentes, guerreiras. Vítimas de falhas e do descaso do Estado, cinco mães de Luziânia tiveram a luta reconhecida por senadores e deputados na manhã de ontem, em audiência pública na Comissão de Diretos Humanos do Senado Federal. A sessão em homenagem ao Dia das Mães ; que contou com a presença do presidente do colegiado, Cristovam Buarque (PDT-DF), e pelos senadores José Neri (PSOl-PA) e Serys Slhessarenko (PT-MT) ; também foi marcada por pedidos de maior agilidade na identificação dos corpos encontrados em 11 de abril e de mudanças legislativas, em especial na lei dos crimes hediondos.

;Essa demora é inaceitável. Não podemos mais prolongar a dor e o sofrimento dessas mães. Na próxima segunda-feira enviaremos um ofício à Secretaria de Segurança Pública de Goiás e à Polícia Federal cobrando agilidade;, afirmou o senador Cristovam Buarque. Para a deputada distrital Érika Kokay, que também participou da audiência pública, é necessária uma mobilização para que os exames sejam divulgados rapidamente. ;É preciso uma força-tarefa para concluir esses exames. Essas mães vivem uma cadeia de vitimização. Primeiro, tiveram que esperar pela abertura do inquérito, depois pela entrada da Polícia Federal no caso. Foram mais de três meses de espera até que se encontrassem os corpos e, agora, a demora na identificação;, pontuou.

A saga das mães de Luziânia, segundo a senadora Serys Slhessarenko, vai servir para impedir que outras milhares de mulheres vivam o mesmo problema. ;Essas mães usaram a voz para conseguir encontrar os filhos. Elas serão eternamente lembradas. Vamos lutar para que haja uma mudança na legislação de soltura de criminosos.; Para a contadora Valdirene Fernandes da Cunha, mães de Flávio Augusto, 14 anos, o cidadão não pode ser punido pelas falhas do Estado. ;Se as penitenciárias estão superlotadas e resolvem soltar (os presos), nossos filhos não têm culpa alguma;, lamentou. ;Essa dor tem que acabar. Não somos de ferro;, resumiu Aldenira, mãe de Diego Alves, 13 anos, primeiro a desaparecer.


1 - Sem notícias
Eric dos Santos, 15 anos, desapareceu em 22 de março, depois que saiu de casa, por volta das 11h, para ir à Escola Estadual Santa Fé, onde estudava, no turno da noite, e dava aula de dança, durante o dia. O colégio fica perto da casa do adolescente, localizada na Rua 9, da Quadra 48. Eric vestia uma camisa branca, um short vermelho e preto e calçava sandálias com tiras vermelhas. Apesar de possuir celular, o adolescente não levou o aparelho.

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