postado em 08/05/2010 08:01
Pivô do episódio que culminou com o afastamento da delegada Martha Vargas da chefia da 1ª DP (Asa Sul), a paranormal Rosa Maria Jaques prestou depoimento nesta sextana Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida). Ela confirmou que se apresentou espontaneamente à polícia, no fim de outubro do ano passado, para colaborar com as apurações do crime da 113 Sul. Segundo ela, estava cumprindo uma "ordem espiritual".
As declarações de Rosa são consideradas relevantes para a delegada Mabel de Faria, atual responsável pelo inquérito que apura as mortes de José Guilherme Villela, 73 anos, da mulher dele, Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e da empregada do casal, Francisca Nascimento da Silva, 58. Os três foram assassinados a facadas no apartamento dos Villela, o 601/602 do Bloco C da SQS 113, em 28 de agosto de 2009. A importância do depoimento da paranormal, segundo a delegada Mabel, não se refere aos homicídios, mas, sim, à conduta da delegada Martha durante a primeira fase de apurações.
[SAIBAMAIS]Martha Vargas afirmou ter recebido a visita da paranormal em sua sala, na 1ª DP, dias antes de prender dois homens em Vicente Pires que supostamente estavam com a chave que abre a porta de serviços do apartamento dos Villela. As detenções ocorreram em 3 de novembro passado. Numa conversa reservada com jornalistas à época, Martha contou que usou a orientação de Rosa para chegar àquela prova material. A partir do depoimento dos dois homens presos, a delegada deteve um terceiro suspeito, também morador de Vicente Pires. O problema é que, em abril deste ano, a própria polícia admitiu que a evidência não tinha validade, conforme o Correio publicou com exclusividade. A chave recolhida na casa dos suspeitos era a mesma que investigadores haviam apreendido no cenário da tragédia, no dia em que os corpos foram encontrados, em 31 de agosto de 2009.
Dinheiro
Em entrevista exclusiva ontem ao Correio, Rosa Maria disse que confirmou à polícia a versão da delegada. Contou que recebe mensagens do casal assassinado. "Eles me pedem para ajudar a fazer justiça." A paranormal explicou que não poderia entrar em detalhes sobre o depoimento porque o caso corre em sigilo, mas que foi perguntada pela polícia se tinha ganhado dinheiro para colaborar. "Não recebi coisa alguma de ninguém. É uma missão que estou cumprindo", destacou.
Rosa chegou ontem à Corvida por volta das 15h acompanhada do marido e de um advogado. O casal foi ouvido por cinco horas e meia em separado. Por orientação das entidades espirituais que acompanham os médiuns, a paranormal não falou com a imprensa ao sair da delegacia. Mas encarregou o advogado, Marcos Vinícius Barroso Cavalcante, de prestar alguns esclarecimentos. Ele confirmou que Rosa Maria oficializou as declarações que tinha dado anteriormente à delegada Mabel de Faria.
Rosa não ajudará nas investigações do misterioso triplo assassinato. "Precisamos desfazer alguns nós que comprometeram muito a investigação. A Corvida não trabalhará com esse tipo de serviço", completou a policial, referindo-se à clarividência. Apesar disso, a paranormal fez questão de afirmar no depoimento e ao Correio que Adriana, filha do casal, não tem envolvimento algum com o crime. "Recebo mensagens dos pais dela. A maior preocupação deles é inocentar a filha", disse Rosa. No último mês, Adriana depôs pela primeira vez na condição de suspeita no caso.
A paranormal é conhecida nacionalmente pelo trabalho de clarividência, fazendo atendimentos individuais e consultoria para empresas. Já foi objeto de tese de doutorado na Universidade de Brasília. Rosa procurou a delegada Martha Vargas porque disse ter recebido a missão de revelar onde estava uma prova do crime - que seria a chave do imóvel das vítimas. Mas o objeto foi desqualificado como evidência, após análise feita pelo Instituto de Criminalística da Polícia Civil. O resultado do exame acabou provocando a exoneração de Martha Vargas da 1ª DP. A delegada também se licenciou da corporação por um mês.
A Polícia Civil arcou com as passagens de Rosa, que mora em Porto Alegre (RS) para Brasília. Após o depoimento, a paranormal seguiu imediatamente para o aeroporto, onde pegou o voo de volta para casa.