postado em 09/05/2010 09:30
Filas de carros no estacionamento, empurra-empurra dentro das lojas, esbarrões nos corredores e muitas sacolas para segurar. Quem deixou para a última hora e encarou as compras na véspera do Dia das Mães não teve direito a tranquilidade. Os shoppings abriram as portas uma hora mais cedo, às 9h, na certeza de que os retardatários apareceriam. Acertaram em cheio.Filhos e filhas saíram de casa dispostos a gastar. Atenderam ao chamado do comércio e, por tradição, obrigação, amor ou tudo isso junto, não abriram mão dos presentes, apesar do sufoco para tê-los em mãos. Foi preciso paciência, muita paciência. A começar pela procura de uma vaga, mesmo nos estacionamentos pagos. O buzinaço ajudava a tirar o sossego nas imediações do Conjunto Nacional.
Glória Afonso, mãe, autônoma, 49 anos, cansou antes mesmo de chegar ao shopping. ;Simplesmente não tem vaga, você vai sair?;, perguntou ela, na esperança de finalmente conseguir um lugar para estacionar. Acompanhada do casal de filhos, Glória estava rodando com o veículo havia 10 minutos. Resistia a entregar as chaves aos flanelinhas. ;Deixei para a última hora, é assim mesmo;, conformou-se.
O corre-corre no shopping era grande àquela altura. Pouco depois das 10h, os corredores ferviam em passos apressados e olhares atentos diante das vitrines. O técnico em informática Dorivan Pereira, 29 anos, caminhava atordoado em busca do presente da mulher, a mãe do filho Caio, 3. ;Mulher é complicado. Não é qualquer coisa que elas aceitam;, disse.
Ao contrário de Dorivan, muitos chegavam às lojas e, sem pensar muito, garimpavam alguma peça. ;Homem compra com mais facilidade. Você mostra algumas opções e ele escolhe rapidamente;, contou a vendedora Hérola Cristine Maia, 19 anos, cansada, mas feliz da vida com o movimento intenso. Ontem, o trabalho só terminaria às 23h, uma hora depois do horário tradicional.
Com a ajuda de Hérola, o servidor público Elso Lopes Godinho, 54 anos, decidiu o presente da mulher: um pijama. A negociação, porém, durou uns cinco minutos. ;E esse aqui?;, perguntou a vendedora. ;Não, acho que vai ficar grande;, opinou Elso. Enfim, ele saiu satisfeito. ;Sapato e bolsa, eu não erro nunca. Vamos ver dessa vez;, comentou.
O número de trocas na semana seguinte ao Dia das Mães costuma ser grande. ;Aí não vale. Comprar para ela não gostar é complicado, por isso escolho bem;, reforçou Elso. Ouvindo a conversa, a vendedora Hérola comentou que os homens têm aprendido a comprar e, diferentemente de épocas anteriores, se esforçam para atender ao gosto das mulheres.
Mais uma chance
Muitos pais, ainda não tão seguros, circulavam pelos corredores com os filhos e seguiam à risca os palpites deles. Quase sempre o destino eram as lojas de roupas, calçados, lingeries ou perfumarias. Para esses segmentos, o faturamento no Dia das Mães chega a superar até mesmo o do Natal, quando o comércio bate recorde de vendas.
Hoje, os shoppings abrirão das 14h às 20h. Será mais uma chance para os atrasados e para os comerciantes, que esperam ver os lucros crescerem 6,65% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com levantamento do Instituto Fecomércio(1). A Câmara de Dirigentes Lojistas do Distrito Federal (CDL-DF) projetou alta ainda mais otimista: 8%.
Quem também aguarda o dia de hoje com expectativa são os donos de bares e restaurantes. O Dia das Mães se firmou como a data mais promissora para o setor. ;É quando até mesmo as mães que fazem questão de cozinhar são arrancadas de casa pelos filhos;, afirmou o presidente do Sindicato dos Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares do DF (Sindhobar-DF), Clayton Machado.
A recomendação para quem quiser fugir das filas de espera na porta dos restaurantes é tentar reservar mesas com antecedência. Para atrair as famílias, restaurantes oferecem bebidas e sobremesas de graça para as mães, distribuem rosas e mensagens. ;É uma data que vai além do apelo comercial, se torna um momento da família;, comentou Machado.
1 - Otimismo
A Fecomércio ouviu empresários dos segmentos tradicionalmente beneficiados com o Dia das Mães. O de eletroeletrônicos foi o mais otimista, com expectativa de aumentar o faturamento em 25%, na comparação com 2009. As joalherias ficaram em segundo lugar, à espera de ganhos 15% superiores. Em terceiro, as lojas de departamentos, com estimativa de vender 14% a mais do que no ano passado.
Eu acho...
;Não caio nessa cilada de gastar muito, nessa onda consumista provocada pelo comércio. Presente é, sim, importante, mas ele por si só não serve para nada. Não preenche como um afeto verdadeiro. O carinho e a presença do filho são para sempre. São coisas mais profundas, menos supérfluas. Vim ao shopping passear com minha neta e fiquei reparando nesse corre-corre. O engraçado é que, se você pensa assim e não gasta como as outras pessoas, é como se ficasse à margem;
Vera Pereira, 55 anos, dona de casa, quatro filho e quatro netos
Homenagem
Um gesto simples, de alguém mais simples ainda, emocionou as mães que, na última semana, passaram pelo Setor Policial Sul, próximo ao Cemitério Campo da Esperança. ;Ivanildo, que está no skate, manda um abraço para todas as mães. Deus as abençoe!”, diziam as cinco faixas colocadas por José Ivanildo Leandro da Silva, 38 anos, há 10 como pedinte nas ruas do Distrito Federal. O alagoano de Murici teve paralisia infantil. Deixou de andar, mas não de viver. Todos os anos, homenageia as mães no ponto onde ganha dinheiro. ;Fico feliz em ver as mães felizes. Elas merecem. Passam aí o dia todo, buzinam, mandam beijo. É bom demais;, contou o filho de Maria Helena da Conceição, 58. (DA)