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Aluguel de pontos comerciais vira pesadelo para empresários

Empresários reclamam dos preços exorbitantes cobrados na locação de imóveis no Plano Piloto e da pressão dos proprietários. Eles atribuem o fenômeno à impossibilidade de expansão na área

postado em 09/05/2010 10:12
A carência de pontos comerciais inflacionou o mercado de aluguel nas entrequadras do Plano Piloto. Nos últimos dois anos, os preços dobraram, e os donos dos imóveis passaram a cobrar dos novos inquilinos a chamada luva ; valor adiantado pago para assinatura de contrato em áreas muito valorizadas. Empresas da cidade e de fora têm dificuldade para se instalar nas asas Sul e Norte: falta espaço e, quando ele surge, as propostas assustam. Quem tem lugar garantido é pressionado pelo locador a pagar mais caro pelo uso do estabelecimento.

Um ponto na 409 Sul, às margens da Avenida L2, onde há pouco tempo funcionava o Habib;s, vale nada menos do que R$ 1,2 milhão de luva, mais R$ 50 mil mensais. Em comerciais movimentadas, o valor a ser pago na assinatura do contrato varia entre R$ 40 mil e R$ 80 mil, somado a um aluguel que pode chegar a R$ 20 mil. ;Brasília não tem mais espaço, o miolo não tem para onde expandir;, diz o comerciante Edmar Ferreira, dono de três estabelecimentos na 107 Sul, todos alugados. ;Quando um espaço fica livre, é só anunciar que fecha negócio na hora;, conta.

Cidade nova, mercado fértil, população com renda alta e constante, público exigente, carente de variedades e novidades. Tudo isso torna a capital do país um ambiente promissor para a economia. Empresas que não estão em Brasília e querem se instalar na cidade, esbarram justamente na falta de espaço ou em preços exorbitantes. ;A saída seria voltar a povoar a W3, só que ainda há muita restrição. Falta estacionamento e estrutura;, avalia a presidenta da Associação Comercial do Distrito Federal (ACDF), Danielle Moreira.

Quem decide abrir um negócio não o faz em qualquer lugar. Faz questão de visibilidade e de movimento garantido. Empresários que topam investir alto apostam em um bom retorno a curto e a médio prazo. Depois de dois anos de negociação, donos do restaurante carioca La Plancha conseguiram um espaço definitivo, na 209 Sul, para começar as obras. ;Maior do que a dificuldade de encontrar um ponto em Brasília é o quanto se paga por ele;, diz o sócio-gerente Luís Andres Júnior, que prefere não divulgar o preço do aluguel acertado.

Tarefa difícil
Encontrar um ponto comercial se transformou em tarefa tão difícil nas asas Sul e Norte que o Subway chegou a propor a instalação da franquia em lugares onde já funcionam lojas. ;Se o ponto é muito bom, conversamos com o comerciante, mesmo que ele não se torne necessariamente um franqueado;, detalha o diretor de Operações do Subway no Centro-Oeste, João Aníbal. Em todo o DF, existem 42 unidades da franquia, cerca de 50% do total na região. O número só não é maior, por enquanto, por falta de espaço e pelos preços. ;Estão supervalorizando e os preços estão fora da realidade;, afirma Aníbal.

A pouca oferta de pontos comerciais no Plano Piloto atinge empresários que pagam aluguel e contribuíram para a valorização desses imóveis. A chef Mara Alcamim, dona de quatro restaurantes na cidade, conta que o preço sobe praticamente todos os meses. Há dois anos, em uma das lojas, ela pagava R$ 5 mil de aluguel. Hoje, cobram R$ 8 mil. ;Está terrível, virou uma máfia. Ou você paga um valor surreal ou arca com o custo de sair daquele ponto que foi você quem fez para montar outro;, reclama. ;Parece que a filosofia é a seguinte: se você não quiser, logo outro vai querer;, completa.
Cansado dos aumentos do aluguel, o cabeleireiro Adriano Nascimento, 36 anos, decidiu procurar um ponto próprio. ;Em 2005, eu pagava R$ 710 por mês. Ano passado, já eram R$ 1,6 mil. Fiquei desesperado;, lembra ele, que começou com uma loja na 114 Norte. À procura de outro espaço, Adriano descobriu que, fora do Plano Piloto, os preços eram mais em conta. Mas ele não queria abrir mão da clientela conquistada na Asa Norte. Após muita procura, acabou comprando dois pontos, um deles para investimento. ;Foram dois achados. Um milagre;, diz.

Loja em shopping é para poucos

Com a falta de espaço no Plano Piloto, toda boa oportunidade que surge fora dele vira logo alvo de cobiça. Em seis meses, 16 dos 30 primeiros pontos comerciais lançados no Noroeste ganharam dono. ;Brasília tem um espaço limitado, por isso o mercado responde assim;, analisa Bruno Bontempo, diretor da Markimob, uma das incorporadoras do Neo Empreendimento, no futuro setor. O tamanho das lojas varia entre 55m; e 85m;. O metro quadrado vale R$ 12 mil.

Na medida em que fica mais difícil encontrar um espaço nas asas Sul e Norte, a tendência é que os preços dos pontos comerciais fiquem ainda mais caros. ;Não é bom para o mercado, porque inflaciona, mas os negócios se sustentam. Se estão vendendo a esse preço, é porque o mercado está absorvendo;, diz Bontempo. ;Não se pode subestimar o potencial de Brasília, essa é a realidade;, emenda Jaqueline Vieira, da Espaço y Engenharia, a outra incorporadora do Neo.

Alternativa
Em 2008, quando o ParkShopping abriu espaço para 23 novas lojas, a velocidade de comercialização superou as previsões da empresa. ;A procura foi tão grande que a ideia da nova expansão foi imediata;, conta o superintendente Marcelo Martins.

Em outubro do ano passado, o shopping inaugurou a mais nova ala praticamente toda locada. Das 78 lojas, 50% delas eram inéditas em Brasília, marcas que queriam ter se instalado antes na cidade, mas não encontravam espaço.

No Iguatemi Brasília, 70% das 160 unidades estavam comercializadas seis meses antes da inauguração, em março deste ano. O shopping precisou segurar as vendas para garantir espaço a parceiros, principalmente grifes internacionais. Muitos interessados acabaram ficando de fora do mix privilegiado do centro comercial.

;A pressão por pontos comerciais existiu e ainda existe;, afirma o gerente interino do Iguatemi, Fernando Simões.

Apesar de ser uma alternativa ao problema, se manter em shoppings não cabe no bolso de todos os comerciantes. Nos maiores da cidade, a luva custa, em média, R$ 4 mil o metro quadrado. O aluguel varia entre R$ 180 e R$ 220, também o metro quadrado. ;O novo polo de expansão será o Setor de Indústrias;, acredita o diretor da Brasal Incorporações, Dilton Junqueira. Em dois meses, 40 lojas de um empreendimento da empresa no setor foram vendidas a R$ 8 mil o metro quadrado.

Em agosto, a MGarzon Empreendimentos Imobiliários lançará 30 lojas, sendo duas âncoras, espalhadas pelas oito torres de um empreendimento às margens da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), com previsão de entrega para 2012. ;Não tenho dúvida de que venderemos tudo rapidamente. Não há oferta em Brasília para pontos comerciais. Quando surgem novos espaços, é fácil conseguir interessados;, diz o diretor da empresa, Fabrício Garzon.

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