Adriana Bernardes
postado em 11/05/2010 07:40
Cada vez que o ponteiro dos minutos dá uma volta completa no relógio, os equipamentos eletrônicos registram 2.725 flagrantes de excesso de velocidade, em média, nas vias do Distrito Federal ; a média é de 45 infrações registradas por minuto. A sinalização e os painéis luminosos que avisam ao motorista sobre a proximidade dos pardais e barreiras eletrônicas parecem insuficientes para fazê-los tirar o pé do acelerador, ainda que apenas para evitar a multa. O aumento de flagrantes diários desse tipo de infração é de 12,7% nos quatro primeiros meses deste ano, na comparação com 2009.O balanço parcial do Departamento de Trânsito (Detran) revela ainda uma queda nos flagrantes diários de duas das cinco infrações mais frequentes: avanço de sinal e estacionamento em local proibido. Em contrapartida, chama a atenção o aumento das multas por falta de cinto de segurança (55,8%) e por dirigir sob efeito do álcool (44,9%). O diretor de Segurança de Trânsito do Detran, Silvain Fonseca, lembra que a fiscalização elegeu como prioridade combater as infrações que mais provocam acidentes e mortes. Por isso foram montadas operações especiais para coibir a falta do cinto de segurança, o excesso de velocidade, e as combinações álcool e celular ao volante.
Essa estratégia de fiscalização explica, em parte, o aumento desse tipo de multa. Mas também é preciso considerar o aumento da frota e a imprudência do motorista. Silvain Fonseca lembra que, antes mesmo da exigência de sinalizar a localização dos equipamentos de fiscalização eletrônica, o Detran já adotava tal prática. ;Aqui não era para o condutor ter desculpa;, comenta.
Atualmente, o depósito do Detran está abarrotado com cerca de 6 mil veículos apreendidos por conta de irregularidades. Segundo Fonseca, existe uma prática muito comum de o proprietário vender e não transferir o veículo. ;Com o carro em nome do antigo dono, a pessoa sai cometendo todo tipo de infração, uma vez que as multas e os pontos serão computados para o nome que consta no documento;. Dos 6 mil carros apreendidos, pelo menos 2,5 mil estão nessa condição. E, com o fim do parcelamento das multas, menos carros são recuperados pelos donos, permanecendo no depósito por mais tempo.
Estacionamento
Apesar do protesto dos comerciantes da Asa Sul contra a Operação Fila Dupla, iniciada no segundo semestre do ano passado, está em queda o número de multas por estacionamento em local proibido ou em desacordo com as normas do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Ao longo de 2009, a média diária desse tipo de infração foi de 302,9. Nos quatro primeiros meses deste ano, o número caiu para 183, em média, uma redução de 39,5%.
Assim que tirou a carteira, o professor Marcos Lameira, 27 anos, foi multado pelo menos 10 vezes por excesso de velocidade em um período de três anos. Também levou uma multa por estacionamento proibido ; ele parou o carro em frente à garagem de sua própria casa. Depois dessas experiências, passou a ter mais cuidado. ;Na dúvida, dirijo a 60km/h e acabei decorando onde ficam os pardais. Aqui em Brasília, há uma reclamação generalizada por conta de velocidades diferentes na mesma via. É preciso muita atenção;, recomenda.
Serviço ampliado
Os boletos emitidos pelo Departamento de Trânsito também podem ser pagos, a partir de agora, nas mais de 10 mil lotéricas espalhadas pelo DF e nas agências da Caixa Econômica em todo o país. Antes, os pagamentos só podiam ser feitos no Banco de Brasília e do Brasil. Somente as multas cometidas em outros estados não poderão ser pagas nas agências da Caixa ou nas lotéricas.
O número
lei seca
44,9%
Crescimento do total de flagrantes de motoristas embriagados na comparação entre os quatro primeiros meses de 2009 e de 2010.
Sem cinto, a multa que mais cresce
A média diária de motoristas multados por falta de cinto de segurança no Distrito federal cresceu 55,4% nos primeiros quatro meses deste ano, na comparação com a média diária de todo o ano passado. O número de flagrantes saltou de 92 para 143 por dia. Também houve aumento de 44,9% nas multas aplicadas aos condutores que ignoram a proibição de dirigir alcoolizado. A média este ano foi de 27 casos diários, contra 19 ano passado. No primeiro caso, atribui-se o crescimento ao arrocho na fiscalização. No segundo, há controvérsias: para uns, é resultado da fiscalização. Para outros, é o motorista que já não respeita mais a Lei Federal 11.705/08, a lei seca (leia O que diz a lei).
O empresário João Martins (nome fictício), 37 anos, pego dirigindo alcoolizado no início de março, diz ter apostado na falta de fiscalização. ;Parei de ver blitz no trajeto dos bares que frequento até a minha casa. Vários amigos diziam o mesmo. Sai para uma cervejinha após o trabalho acreditando que nada aconteceria e dei de cara com uma dessas operações da Polícia Militar;, conta. O empresário faz parte do grupo que considera a lei seca radical e não vê problema em dirigir após beber duas ou três cervejas. ;Sempre bebi e dirigi e nunca aconteceu nada. Acho essa lei um absurdo.;
Mesmo sem nunca ter dirigido sem o cinto de segurança, a estudante de administração Renata Oliveira, 20 anos, acabou multada. O pai dela, que andava de carona no banco de trás do carro, se recusa a colocar o equipamento. ;Ele reclama que incomoda no pescoço, diz que atrás não é perigoso e não há quem o convença do contrário;, diz Renata. ;Quando fui parada na blitz, pedi ao agente que aplicou a multa que explicasse ao meu pai a importância do cinto. Nem assim ele se conscientiza;, lamenta.
Na avaliação do comandante do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), coronel Alessandro Venturim, o aumento dessas infrações se deve ao rigor da fiscalização. ;Mas, no caso do condutor alcoolizado, acho que é uma combinação de fatores: sinto que os motoristas estão perdendo o respeito à lei e nós tornamos a fiscalização mais eficiente, com mais homens na rua. Com isso, é natural que os flagrantes sejam maiores; avalia.
Quanto às desconfianças de que a fiscalização aos condutores alcoolizados está menor, as autoridades garantem que não. Segundo o coronel Venturim, desde o ano passado, dobrou o número de equipes nas ruas à noite. Para o diretor de Segurança de Trânsito do Detran, Silvain Fonseca, os condutores mudaram o comportamento. Muitos deixaram de beber e dirigir por longas distâncias achando que, assim, evitariam as blitzes.
Ao perceber a mudança de comportamento dos condutores, os órgãos de fiscalização também mudaram a estratégia de fiscalização, passando a percorrer pontos estratégicos nas cidades satélites. ;Infelizmente, o condutor não mudou por medo de morrer ou matar, mas para não ser punido com multa e perda da carteira;, atesta Fonseca. Entre as mulheres, Fonseca nota uma conscientização maior. Segundo ele, é mais comum a abordagem de veículos em que a amiga da vez está ao volante. (AB)
O que diz a lei
A Lei Federal n; 11.705/08, conhecida como Lei Seca, em vigor desde 20 de junho de 2008, fixou a tolerância zero à combinação álcool e volante. Quem desrespeita a norma é punido de duas formas. Quando o teste aponta até 0,29 miligrama de álcool por litro de ar expelido dos pulmões, o condutor é punido administrativamente com multa de R$ 957, perde sete pontos na carteira e ainda responde a processo de suspensão do direito de dirigir por um ano. Se o teste aponta índice igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool, além da punição administrativa, o motorista responde criminalmente por dirigir alcoolizado. É detido e só sai da cadeia após pagar fiança, que varia de R$ 600 e R$ 2 mil.