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Em entrevista ao Correio, a vice-governadora afirma que processos de regularização voltarão a ser liberados

Além disso, apenas 300 de 2.500 obras licitadas têm condições de ser finalizadas. Saúde é outra prioridade do mandato-tampão

postado em 16/05/2010 13:21
Na próxima quarta-feira se completa o primeiro mês de gestão do governador Rogério Rosso e da vice, Ivelise Longhi. Arquiteta, servidora concursada do GDF, Ivelise foi repentinamente alçada de suplente de deputada distrital ao segundo posto mais importante do Executivo local. E foi designada a assumir não só o papel de vice, mas de gestora de áreas importantes do governo. Está à frente da Comissão de Monitoramento de Obras e também é responsável pela área habitacional. Ela adianta que, das 2,5 mil obras licitadas na gestão do ex-governador José Roberto Arruda, apenas 300 têm condições de continuidade de execução. ;Muitas foram licitadas sem nem haver previsão de recursos. Vamos priorizar agora as que estão causando transtornos viários e as da Saúde;, explica.

Além disso, apenas 300 de 2.500 obras licitadas têm condições de ser finalizadas. Saúde é outra prioridade do mandato-tampãoEm entrevista exclusiva ao Correio, a vice-governadora faz um balanço desses primeiros dias da sua administração com Rogério Rosso, ambos do PMDB. Não disfarça que há muitos problemas a serem enfrentados, mas dá a boa notícia na área habitacional: cerca de 70 condomínios estão prestes a serem regularizados. Em breve, o governador assinará o decreto de regularização dos parcelamentos. ;São processos que já estavam bem adiantados. Estamos fazendo uma rápida revisão por cautela, mas será possível logo resolver essa questão;, adianta.

A política local em Brasília está fazendo tradição na conquista feminina na esfera de poder. Ivelise é a quarta mulher a exercer o cargo de vice-governadora do Distrito Federal, depois de Márcia Kubitschek, Arlete Sampaio e Maria de Lourdes Abadia. Ivelise, 54 anos, foi empurrada para a política depois de exercer cargos de confiança das principais lideranças partidárias da capital, tanto no Executivo como no Legislativo.

Participou inclusive dos governos de Joaquim Roriz e Arruda, ambos envolvidos em denúncias. Garante, no entanto, que o fato não ameaça a isenção da atual equipe do governo. ;Eu e Rogério não respondemos a processo algum, não estamos citados em denúncia alguma. Trabalhamos para a cidade no governo deles. Desenvolvemos um trabalho técnico;, afirma, garantindo independência até do presidente regional do PMDB, deputado federal Tadeu Filippelli. ;Temos no momento papéis distintos. Nós governamos e ele cuida da articulação político-partidária, que foi determinante para chegarmos aqui.;

Entrevista Ivelise Longhi
Como está o andamento das obras deixadas pela gestão anterior?

Nós levantamos que há 2,5 mil obras, entre as iniciadas e as licitadas. Muitas foram licitadas, mas não havia nem recursos para realmente iniciá-las. Verificamos que cerca de 300 efetivamente estão encaminhadas. Estas serão nossa prioridade. Pedimos para os administradores regionais e secretários que apontem o que é prioridade. A partir disso, faremos um calendário semanal de entrega de obras. Não serão inaugurações, com festas, nada disso. Nosso compromisso é entregar a obra à comunidade.

Já existe algum calendário?
Esperamos começar esse cronograma a partir da semana que vem. Não queremos marcar data e depois desmarcar porque apareceu alguma pendência não percebida antes. Por isso, vamos evitar um cronograma fixo e longo. Só vamos marcar para entregar o que tivermos certeza de que está pronto. Não adianta inaugurar obra que depois não pode funcionar direito. É esse cuidado que queremos ter.

Quais obras serão prioridade?
A nova Rodoviária, a EPTG, a F-5, aquela na saída da Terceira Ponte, viadutos como o do Piriquito, no Gama. O esforço será concluir as obras viárias que estão provocando bastante transtorno à população. A previsão da EPTG, pelo menos da parte viária, é para outubro. Mas as obras na área da Saúde também terão ênfase.

O que mais preocupou a nova equipe do governo quando tomou conhecimento da situação da máquina administrativa?
Confesso que foi a Saúde. Foi um susto. Nós suspendemos a entrega de lotes do Pró-DF, por exemplo. Isso pode esperar, ninguém vai morrer por causa disso. Mas, na saúde pública, se você não tem o atendimento imediato, temos fatalidades.

E o que está sendo feito para melhorar a situação?
Percebemos que existe esforço enorme da equipe da Saúde em querer acertar. Mas existe uma dificuldade muito grande na gestão. A primeira coisa que o governador Rogério Rosso e eu fizemos foi visitar os hospitais. Fomos ouvir as equipes, perguntar o que era preciso para melhorar a situação. E ouvimos de forma unânime o pedido de descentralização de decisões e compras. Apenas um lugar na secretaria coordenava tudo e comprava tudo. Verificamos que as regionais de saúde têm condições de resolver seus problemas. Por isso, demos mais autonomia às tesourarias regionais.

Mas os servidores estão capacitados para isso?
Percebemos que não. Não basta fazer o decreto dando autonomia. Estamos agora capacitando os servidores para saber realizar esse trabalho, saber fazer uma licitação. Agilizar o processo de compra de medicamentos. Também já identificamos que o local onde os medicamentos são armazenados não é adequado e que não temos pessoal treinado para esse tipo de logística. Pedimos a colaboração dos Correios. Eles estão nos passando o know-how que têm sobre recebimento, armazenamento e distribuição de material. Assim, evitaremos desperdícios. Temos medicamentos vencendo na prateleira, enquanto faltam outros nas emergências. A boa notícia é que até o fim do ano teremos toda a rede hospitalar informatizada.

E na área habitacional, como estão os projetos deixados pelo governo anterior?
Estamos avaliando três pontos: a produção de novas áreas e unidades para moradia; os critérios de distribuição e a regularização fundiária. Precisamos saber qual a oferta que vamos ter de novas áreas habitacionais. O que está mais bem encaminhado é a regularização de condomínios. Os processos, cerca de 70, estão bem adiantados. Em breve, será possível o governador assinar o decreto aprovando os projetos de parcelamento, e assim o pedido de registro em cartório será encaminhado. Daí, a Terracap começa a venda direta nos terrenos públicos. Mas a maioria é em área particular.

Que áreas estão nesse pacote?
Estrutural, condomínios como Pôr do Sol, Porto Rico, Sol Nascente, entre outros.

E o setor Mangueiral?
É um projeto habitacional importante que queremos dar continuidade. Era para ser a Cidade do Servidor, o que seria muito justo. Mas o Tribunal de Contas questionou, alegando que nenhuma categoria pode ser privilegiada na política habitacional. Também existiram denúncias de irregularidades no cadastro de pré-habilitação, de favorecimento de pessoas. Por isso, o projeto parou. Mas estamos procurando resolver as questões para dar prosseguimento a ele.

O que a atual equipe do governo gostaria de resolver, mas que não haverá tempo devido ao curto mandato, que se encerra em dezembro?
O problema de gestão, capacitação e informatização da máquina administrativa. Nosso tempo é curto para isso. Imagino que o próximo governo deveria se dedicar seriamente a esses três aspectos. Assim, o processo andará mais rápido e ficará sujeito a menos erros. Há irregularidades que ocorrem não por má-fé, mas por desconhecimento da equipe envolvida em certos projetos.

Como está agora a relação do GDF com a Câmara Legislativa? O presidente do Legislativo local, Wilson Lima, comentou que a relação com o governador Rogério Rosso está ;rosso;, insinuando dificuldades entre os dois poderes;
Estamos trabalhando na linha de que os poderes são independentes, mas devem ser harmônicos. E, é claro, que nessa luta de cada um por seus interesses podem naturalmente haver choques logo no início. Estamos imprimindo nossa forma de condução de governo e nisso, às vezes, a gente fere alguns interesses.

Que interesses?
Ah, quando, por exemplo, a gente reorganiza um órgão, mexe com pessoas que simpatizam mais com ;A; ou ;B;. Isso traz dificuldades num primeiro momento, mas são coisas que se ajustam. O importante é o respeito entre os poderes.

Wilson Lima, que reassumiu a Presidência da Câmara após a derrota na eleição indireta em que a senhora e Rosso foram vitoriosos, lançou o bloco dos independentes. Como estão lidando com isso?
Não é a primeira vez que isso acontece na Câmara. É uma maneira de ele se impor, de marcar posição em relação ao Executivo. Isso é natural no processo democrático.

Qual a influência do deputado federal Tadeu Filippelli no GDF, já que é presidente regional do PMDB, seu partido e do governador Rosso? É ele que manda?
A postura dele é extremamente elegante. Nossos papéis são bem definidos. Ele é o articulador político. Se hoje eu e Rogério estamos no governo, isso se deve ao trabalho político dele, com o trânsito nacional e com partidos locais que ele tem. Isso foi determinante. Mas eu e Rosso governamos com independência. E Filippelli fica com a negociação política. Não é conflitante. Podem haver algumas divergências de ideias entre nós, mas isso é natural, nada que não se resolva com conversa. Ele nos respeita.

O PMDB, afinal, quer ou não a aliança com o PT para as eleições ao GDF?
Nós não fechamos a porta de todo. Não fechamos o caminho, que ainda é longo. O PMDB é partido forte, em nível nacional está alinhado com o PT, em diversas cidades isso se repete. Aqui no DF, nada nos impediria de fazer essa coalizão. No entanto, o que a gente decidiu na última reunião é deixar claro que o PT não é nossa única opção. Temos outros caminhos. Coligar com outro partido, sair sozinho;

A senhora e o governador Rogério Rosso participaram dos governos Roriz e Arruda. Duas gestões envolvidas numa série de denúncias. É possivel garantir a isenção da gestão, se desvincular desses políticos?
Se fossem outros governadores, teríamos participado do mesmo jeito, porque realizamos trabalhos técnicos. Eu já trabalhei com diversos governadores, como Ornelas e José Aparecido. Existe a independência. Eu e Rogério não respondemos a processo algum, não estamos citados em documento algum, porque sempre desenvolvemos trabalhos puramente técnicos. Fomos requisitados por esses governos para trabalhar para a cidade. Foi o que fizemos.

A senhora é um exemplo de mais uma conquista de espaço da mulher nas esferas de poder. Qual sua posição sobre cota para mulher na política?
Isso não é uma briga de gêneros, é uma briga de competência. Sou contrária a esse negócio de ter sair catando pessoas para atender percentual mínimo de candidaturas de mulheres. Essa opção de termos candidatas deve ser uma consequência do trabalho delas. Existe ainda um pouco daquele ranso de não nos acharem capazes para certas funções. Mas isso vem diminuindo. Para mim, o problema somos nós mulheres. Somos nós que não nos lançamos nessa empreitada. Porque pensamos muito, a gente não desliga daquela coisa de administrar bem a casa. A gente quer fazer tudo, quer ser a esposa lindona, a mãe que resolve tudo, a superprofissional. Mas, hoje, temos mais espaço para conciliar tudo isso. Nossos maridos e filhos já estão mais preparados para essa realidade. Eu, particularmente, tenho um marido e filhos que me apoiam muito.

Há a tendência em se definir a mulher com base apenas em dois extremos: ou é a frágil ou é a mandona. Como você lida com isso na função de vice-governadora?
Esse é o desafio. Tem a hora que a gente tem que dizer: olha, não sou mulher, aqui sou uma profissional em primeiro lugar. Tem hora que é o contrário. A gente tem que saber o momento certo de se impor e o de ser mais doce. Tem a hora que acham que não somos duras o suficiente, que temos coração mole. Ou, se somos mais rigorosas, viramos a sargentona. Temos que saber mesclar, nem muito salgado nem muito doce (risos). E acho que as mulheres têm seus direitos adquiridos, como merecer o cavalheirismo do homem. Não abro mão de receber uma flor (risos).


"Nós suspendemos a entrega de lotes do Pró-DF, por exemplo. Isso pode esperar, ninguém vai morrer por causa disso. Mas, na saúde pública, se você não tem o atendimento imediato, temos fatalidades;

;Temos medicamentos vencendo na prateleira, enquanto faltam outros nas emergências. A boa notícia é que até o fim do ano teremos toda a rede hospitalar informatizada;

;Eu e Rogério não respondemos a processo algum, não estamos citados em documento algum, porque sempre desenvolvemos trabalhos puramente técnicos;

;Tem a hora que a gente tem que dizer: olha, não sou mulher, aqui sou uma profissional em primeiro lugar. Tem hora que é o contrário"

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