Luiz Calcagno
postado em 17/05/2010 08:21
Em meio à lama, na Fazenda Buracão, em Luziânia, familiares tentaram encontrar respostas para o desaparecimento do jovem Diego Rodrigues, 13 anos, uma das vítimas do pedreiro Ademar de Jesus Santos, 40 anos. Durante as buscas na área, que não está isolada pela Polícia Civil de Goiás, a mãe e a irmã do menino encontraram ontem ossos que aparentemente seriam de um braço e mão humanos, além de fios de cabelo. Os restos estavam no local onde a polícia retirou, no último dia 11, as ossadas da suposta sétima vítima do maníaco. Aldenira Alves de Souza, 51, e a filha Gláucia Gomes de Souza, 26, procuravam pela corrente que Diego usava quando desapareceu. Três amigos da família ajudaram no trabalho. O grupo também encontrou um enxadão e uma foice camuflados no matagal.Embora a polícia tenha localizado mais um corpo no início da última semana, o vale permanece desguarnecido, à mercê de curiosos. Quem quiser pode entrar e revolver a terra. Aldenira, a filha e os amigos chegaram à fazenda às 8h. A mãe ouviu de um agente da Polícia Civil, no dia em que policiais retiraram a última ossada, que o corpo estaria próximo a uma das covas apontadas por Ademar, em uma trilha que passava por um cupinzeiro. As referências foram suficientes para que as cinco pessoas encontrassem o local exato. Duas enxadas foram utilizadas para trazer à tona os ossos.
Por volta das 15h50, peritos da Polícia Civil e do Instituto Médico Legal (IML) de Luziânia recolheram os ossos e os objetos descobertos pela família. De acordo com um dos agentes, os ossos serão agora comparados com o corpo para saber se pertenciam à mesma pessoa. Caso a resposta seja negativa, será necessária uma nova busca no local. Os agentes também explicaram aos familiares que as ferramentas tinham grandes chances de terem sido esquecidas pelas equipes de resgate. Mesmo assim o material foi fotografado e recolhido para perícia no IML. A polícia suspeita que a sétima vítima seja o garoto Diego, o primeiro a desaparecer. O exame de DNA que deve confirmar a identidade está previsto para o próximo dia 26.
Para Aldenira, faltam muitas respostas. A mãe se revolta de ter sido a única a não enterrar o filho, desaparecido em 30 de dezembro. Ela disse que entrará no local quantas vezes for necessário para entender o que aconteceu com Diego. ;Vou procurar mais coisas dele. Quem sabe eu não acho? É muita angústia. Isso já deveria ter acabado;, desabafou. Gláucia sente esperança de os ossos não pertencerem ao rapaz. ;Jamais pensei que ia passar por algo assim, em um lugar desses, mexendo em restos mortais, para ver se achava alguma coisa do meu irmão;, disse.
Outras ossadas
Essa é a segunda vez que parentes das vítimas vão à Fazenda Buracão e encontram ossos dos meninos desaparecidos. Em 15 de abril, um cunhado de Paulo Victor de Azevedo Lima, 16, encontrou um osso de 10cm que também parecia ser de uma mão humana. O titular da 1; Delegacia Regional de Goiânia, Juracy José Pereira, também responsável pelo inquérito dos desaparecidos, disse que muitas vezes os restos podem ser separados por animais ou levados pelo riacho. Para ele, pode, inclusive, haver mais ossos das vítimas perdidos pelo vale.
De acordo com o delegado, como o terreno é difícil por ser bastante acidentado, nas buscas os agentes também encontraram ossos distantes dos corpos das vítimas. ;Estamos procurando provas de que Diego foi assassinado ali. A polícia não busca todos os ossos do corpo, mas as evidências que comprovem um acontecimento. No último resgate, encontramos partes o suficiente de ossos para dizer que uma pessoa morreu. Sei que a família fica transtornada. Mas esses restos só terão relevância se ficar provado que são de um oitavo corpo;, explicou.
Juracy Pereira disse ainda que somente o exame de DNA poderá dizer se o sétimo corpo é de Diego. Para o delegado, não há necessidade de interditar o vale. ;Não vejo preocupação nesse sentido. O local já foi violado. Nós não buscamos mais provas para vincular a pessoa do Ademar aos corpos existentes. Então, não vejo preocupação;, afirmou. Para o titular da 5; Delegacia Regional de Luziânia, José Luiz Martins de Araújo, é cedo para afirmar qualquer coisa. ;Não sei nem se o osso é humano. Ele será reconhecido no IML. Além disso, muita gente joga animais ali;, justificou.
Depoimento
;A espera não acabou;
;O que me trouxe aqui foi a vontade de saber onde esse monstro botou meu filho. Mexendo na terra, eu achei mais ossos. Me admira muito a polícia deixar restos dos corpos no local. Tem horas que fico pensando como ele (Ademar) teve a audácia de trazer os meninos pra cá ainda vivos. Acho que não pode ser. Tem muita coisa que ficou por resolver. Para mim, ele tinha um comparsa. Quero saber como foi que tudo aconteceu. Ainda pretendo voltar aqui novamente. Vou procurar mais coisas do meu filho. Quem sabe eu não acho? É angustiante. Isso já devia ter acabado. As outras mães já enterraram seus filhos, mas eu não enterrei o meu. A espera ainda não acabou. No fundo do poço, parece ter uma ;luzinha;, mas, ao mesmo tempo, eu penso que ele (Diego) não apareceu. Bate uma dúvida. Eu preciso vir aqui para ver com meus próprios olhos. Para ter certeza do que está se passando comigo, porque as vezes, não dá para acreditar.;
Aldenira Alves de Souza, 51 anos
Aldenira Alves de Souza, 51 anos
Memória
Sequência de mortes
Entre dezembro de 2009 e março de 2010, o pedreiro Ademar de Jesus Santos, 40 anos, matou com frieza sete adolescentes. Todos com idades entre 13 e 19 anos. O assassinato em série chocou o Brasil. O mistério teve início em 30 de dezembro do ano passado, com o desaparecimento de Diego Alves, 13. Ele saiu de casa pela manhã, para ir a uma oficina mecânica e nunca mais retornou.
Apenas seis dias depois do desaparecimento de Diego, Paulo Victor Vieira Lima, 16, também sumiu. Em seguida, o adolescente George Rabelo dos Santos, 17. As vítimas tinham perfil semelhante. Eram do sexo masculino e todas adolescentes. Após o sumiço de George, também desapareceram Divino Luiz Lopes da Silva, 16 anos, Flávio Augusto Fernandes dos Santos, 14, Márcio Luiz Souza Lopes, 19 e o último a sumir foi Eric dos Santos, 15.
Somente três meses após o desaparecimento de Diego, as polícias Federal e Civil de Goiás chegaram ao paradeiro do maníaco. Ademar confessou ter matado os garotos e indicou seis covas. Porém, antes de prestar mais esclarecimentos sobre o crime, foi encontrado morto enforcado, em 18 de abril, em uma cela da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos de Goiânia.
O caso ainda sofreu outra reviravolta. No último dia 11, quando saiu o exame de DNA dos seis corpos apontados por Ademar, foi constatado que a vítima que se pensava ser Diego era, na verdade, Éric. No mesmo dia, foi encontrada a sétima ossada no local. (LC)