Luiz Calcagno
postado em 18/05/2010 07:00
Agentes da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul) identificaram, na tarde de ontem, o segundo acusado de agredir o oficial da Aeronáutica Anísio Oliveira Lemos. Edécio Borges, 22, foi reconhecido e interrogado. De acordo com o titular da DP, Watson Warmling, Edécio é o que aparece no vídeo fingindo que ajudava o militar após espancá-lo. O delegado diz que ele responderá por lesão corporal, mas, após a liberação do laudo pericial, essa tipificação pode mudar para tentativa de homicídio. ;Ele disse que não queria participar das agressões, mas separar. Não é o que identificamos pelos vídeos;, explicou o delegado.De acordo Warmling, as equipes continuam nas ruas à procura dos demais agressores (sete no total). ;Além disso, pedimos à Secretaria de Ordem Pública e à PM para intensificarem a fiscalização no posto, para evitar fatos semelhantes;, afirmou. Seis pessoas tinham sido ouvidas até ontem na 1; DP. O delegado ressalta que denúncias sobre o caso podem ser feitas pelo telefone 197.
Além das imagens do circuito interno do Bloco K da 214 Sul, onde ocorreram as agressões, os policiais procuraram imagens gravadas pelas câmeras do posto de gasolina, mas eles foram informados que elas não funcionam desde abril. ;Para os proprietários do posto não seria interessante ter gravações das festas que eles faziam à noite. O que produziria provas contra eles mesmos;, explicou.
Segundo Warmling, Daniel Benquerer, 23 anos, filho da dona do posto, que também participou das agressões, foi indiciado por lesão corporal, perturbação do silêncio e dano ao bem público, já que o prédio onde mora Anísio pertence à Aeronáutica ; o vidro da portaria do edifício foi quebrado pelos agressores. Se condenado, Daniel pode pegar até quatro anos de prisão. O rapaz deve responder em liberdade, já que se apresentou espontaneamente no sábado. ;A delegacia também entrou em contato com a Administração de Brasília, para que reavalie o alvará de funcionamento da loja de conveniência. A intenção é que eles restrinjam o horário ou até cassem o documento e fechem a loja;, concluiu o delegado.
Ontem, o clima no Bloco K era de apreensão. A loja de conveniência abriu às 13h e funcionou até as 18h. Segundo moradores, o posto ficou apagado na noite de domingo. ;Depois da confusão, eles sossegaram;, disse a professora Regina Pereira, moradora do bloco. (LC)
Análise da notícia
Estado omisso
O episódio de selvageria ocorrido no último sábado, quando um grupo de seis homens que bebiam e ouviam música alta em um posto espancou um oficial da Aeronáutica que fora reclamar do barulho, deve servir de marco para Brasília. A cidade, que acaba de romper a barreira dos 50 anos, ainda não encontrou um bom termo. De um lado, os moradores reclamam dos excessos provocados por bares com música ao vivo, carros de som e festas. De outro, há uma cidade que tenta consolidar uma vida cultural e boêmia ainda incipiente.
Em qualquer cidade do mundo, moradores e frequentadores da noite convivem às turras. A diferença é que, onde o Estado é mais presente (e eficiente), o poder público surge como intermediador. Quem desrespeita as leis é de fato punido. Diferentemente do que ocorrer aqui, onde o cidadão fica impotente. Quem é responsável por fiscalizar a poluição sonora (Ibram) diz não ter estrutura. A Agefis, que tem como papel disciplinar o uso dos espaços públicos, lava as mãos. E a PM, a quem caberia coibir abusos, costuma não comparecer aos locais quando solicitada.
Enquanto isso, quem quer sossego fica desamparado. Não se está aqui defendendo a adoção de postura radical, como o estabelecimento de uma lei do silêncio. O que se defende é o combate aos abusos, chegando a um meio-termo em que os cidadãos possam conviver em paz ; sem intolerâncias, de ambas as partes. Bastaria o Estado fazer seu papel. O que não vem ocorrendo.