Naira Trindade
postado em 18/05/2010 07:24
Um mês após o pedreiro Ademar de Jesus Silva ; assassino confesso de seis dos sete jovens desaparecidos em Luziânia ; ser encontrado morto em uma cela de 6m; na Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), no complexo da Polícia Civil em Goiânia (GO), o Instituto de Medicina Legal da capital goiana ainda não concluiu os laudos que devem explicar a misteriosa morte. Para a polícia, Ademar morreu por asfixia provocada por enforcamento. Em 18 de abril, depois de almoçar, dois agentes flagraram o pedreiro com uma corda enrolada ao pescoço. O material teria sido trançado com o pano que envolvia o colchonete. Apesar dos indícios de suicídio, apenas os exames de dosagem alcoólica e análise toxicológica realizados pelo IML vão poder comprovar o que realmente aconteceu naquela tarde de domingo.A Corregedoria da Polícia Civil de Goiás instaurou um inquérito para apurar a causa da morte de Ademar dentro da delegacia mais segura do estado. Durante as investigações, o corregedor Sidney Costa de Souza ouviu os presos de celas vizinhas à de Ademar e também agentes e delegados que estavam de plantão naquele dia. Foram adicionadas ao inquérito as imagens de uma câmera de segurança que filmou os corredores próximos à cela ocupada por Ademar. Agora, o encerramento do inquérito policial depende apenas dos laudos do IML.
O diretor do Instituto de Medicina Legal de Goiânia, Décio Marinho, informou que as análises já chegaram à etapa final, mas precisam ser atestadas em laudos. Marinho acredita que não haverá surpresas com o resultado, fazendo referência às causas já apontadas pelo perito Paulo Afonso Mendes Campos, responsável pela necropsia realizada no dia da morte. O laudo atestou a causa: asfixia provocada por enforcamento.
Enxada
No dia seguinte à prisão, em 11 de abril, Ademar foi transferido do Centro de Polícia Penitenciária (CPP) de Luziânia para Goiânia. À época, a polícia considerava arriscada a presença dele no município onde cometeu os crimes. A remoção teria objetivo de oferecer mais segurança e ampliar as investigações. O propósito era descobrir possíveis novas vítimas do maníaco. A morte do pedreiro, no entanto, impediu a resolução do sumiço do último jovem a desaparecer na cidade, Eric dos Santos, 15 anos. Ele desapareceu 21 dias antes da prisão de Ademar. Segundo a família, ele seguiu para aula de dança numa escola a 400m de onde morava e nunca mais foi visto.
A polícia chegou a descartar o envolvimento de Ademar de Jesus no desaparecimento do adolescente. Na terça-feira passada, no entanto, a notícia de que o corpo do estudante estava entre as seis primeiras ossadas encontradas pela polícia na Fazenda Buracão chocou os pais e também os familiares de Diego Alves, 13 anos, sumido desde 30 de dezembro do ano passado. O jovem foi o primeiro a desaparecer. A família de Diego está inconformada com o descaso da polícia goiana. No último domingo, a dona de casa Aldenira Alves de Souza, 51 anos, e a filha Gláucia Gomes de Souza, 26, varreram novamente o local onde foram encontrados os primeiros corpos e onde, na semana passada, a polícia encontrou uma sétima ossada. A polícia acredita tratarem-se dos restos mortais do filho de Aldenira. Munidas de enxadas, as duas cavaram e encontraram restos de ossos deixados pelos peritos. ;Minha intenção era encontrar algum objeto do meu filho para acabar com esse tormento, mas o que achei foram restos mortais;, lamentou Aldenira.
[SAIBAMAIS]Para o promotor de Justiça de Luziânia, Ricardo Rangel, se ainda há ossos enterrados no local, eles devem ser retirados. ;Se houver qualquer ossada, em qualquer lugar que não seja o destinado, deve ser removida para o devido sepultamento. A fazenda não é um cemitério. A retirada deve ser feita até por questões ambientais;, pontuou. ;Se os restos forem do meu filho, não terei nem a dignidade de enterrá-lo por inteiro. É um desrespeito;, desabafou Aldenira Alves.
Delegados em greve
Os delegados da Polícia Civil de Goiás paralisaram totalmente as atividades. Desde ontem, as delegacias de todos os municípios do estado não registram ocorrências. O Sindicato de Delegados de Polícia Civil do Estado de Goiás (Sindepol) reivindica para a categoria um aumento de 25% no piso salarial ou a reestruturação da carreira. Goiás conta com 371 delegados. Não há previsão para o fim da greve.