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Comunidade da Vila Telebrasília aguarda creche anunciada ano passado

postado em 18/05/2010 07:43
Creche foi criada há 15 anos e está sem condições de receber o público: pouco espaço, instalações precáriasPais e mães que precisam deixar seus filhos em uma creche segura enquanto se encontram no trabalho estão em apuros na Vila Telebrasília. O único estabelecimento do gênero que existe na cidade é um sinônimo de precariedade. A estrutura é feita de madeirite e telhas de alumínio. As fendas da construção improvisada são portas de entrada para a chuva e para ratos. Atualmente, a creche opera em capacidade máxima e atende a 15 crianças, que dividem apenas um quarto e um banheiro. As duas mulheres que mantêm as atividades da casa o fazem porque não sabem como deixar outras mães, como elas também são, abandonadas. ;Minha irmã até me arranjou um emprego melhor, mas eu acabo ficando aqui. Parece que alguma coisa prende a gente aqui;, revela a voluntária Inaura Borges Batista, 28 anos. Como o lugar é mantido por meio de doações, os pais precisam pagar uma taxa de R$ 60 por mês se a criança passa meio período no local e R$ 100 pelo período integral. O valor mal dá para cobrir as contas da casa.

Funcionando há 15 anos, a creche foi criada pela própria comunidade da Vila. Ao longo desse tempo, foram muitos solavancos, inclusive ameaças de ter as portas fechadas, tamanha a falta de condições para continuar. Em março de 2009, a então primeira-dama do Distrito Federal, Flávia Arruda, anunciou que uma parceria entre o Instituto Fraterna(1) e a Unieuro resultaria na construção de uma creche com capacidade para atender todas as crianças da Vila. ;Até comentei com a minha mãe que isso seria uma bênção;, afirma Regina Rodrigues, mãe de Sabrina, 5 anos, e Daniel, 6. A promessa permaneceu no discurso e a única coisa que cresceu no terreno destinado à futura creche foi o mato.

Sem conforto
Há alguns anos, a lavadeira Maria Sônia Juvino, 49 anos, teve de deixar dois netos na creche para poder trabalhar, bem como seus filhos. ;Não há conforto para as crianças. A creche continua pelo esforço dos voluntários, que já vêm lutando há muito tempo;, reitera. Regina, por sua vez, como tantas outras mães, não pode trabalhar porque não tem com quem deixar os filhos. ;É uma vergonha uma creche assim. Muitas vezes passo dificuldades em casa porque não trabalho e a renda fica curta.; As contas também ficaram apertadas para a creche em dezembro do ano passado. ;Não tínhamos a menor condição. Faltava tudo e nós estávamos sem receber;, conta a cozinheira da casa, Rosinalda Matias de Alencar. O salário que ela e Inaura recebem era custeado por um voluntário, que não pôde mais arcar com os R$ 1.200 sozinho.

A solução foi ligar para a psicóloga Alana Dias Mendes, que ajudava a creche desde 2007. ;Pensei: isso não pode acontecer. Foi através de uma rede de solidariedade, com muitos voluntários, que conseguimos arrecadar recursos;, lembra ela. O esforço dos voluntários conseguiu doações para a manutenção do serviço que a creche presta, como uma parceria com um verdurão que doa semanalmente hortifrutigranjeiros. Bazares, campanhas do agasalho e festas são outras ações promovidas para abastecer as necessidades das crianças. Além dos problemas do dia a dia, Alana afirma que a infraestrutura precária do local não pode ser resolvida porque o terreno onde foi erguida a creche não é próprio. ;É temeroso investir recursos em um terreno que é ilegal;, adverte.

Regina, com os filhos Sabrina e Daniel: dificuldades de acomodaçãoNinguém do Instituto Fraterna foi encontrado para dar explicações sobre a promessa não cumprida. A Unieuro, por sua vez, alega que a universidade não levantaria paredes, mas faria uma doação em dinheiro para contribuir na construção. A pró-reitora administrativa, Flávia Marão Fecury, avalia: ;Ainda não há valores porque ainda não há custo total. Temos todo interesse em participação na construção da creche via doação, mas de uma forma correta;.

Apesar de haver um espaço cercado com uma placa explicando que aquele terreno será a futura creche da Vila Telebrasília, não há nenhum documento que comprove a doação por parte da Terracap. O motorista Eude Santos reclama que o problema da creche não é o único da cidade. ;A Vila vai completar 54 anos e a carência de hoje é a mesma. A comunidade fica à espera de uma coisa que nunca chega. Há espaço reservado para uma escola, para um Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e para um posto de saúde, mas nada nunca sai do papel;, critica.

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Alvo de suspeitas
O Instituto Fraterna foi citado pelo ex-secretário de Relações Institucionais do Governo do Distrito Federal Durval Barbosa no suposto esquema de propina comandado pelo governador cassado José Roberto Arruda. Em depoimento ao Ministério Público Federal em dezembro passado, Durval contou que 10% do dinheiro da propina seriam usados para pagar as contas do Fraterna, associação civil presidida pela então ex-primeira-dama do DF, Flávia Péres Arruda. A entidade foi criada por Flávia em abril de 2009.

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