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Captação de eventos, um potencial pouco explorado

A capital federal está entre as cidades que mais realizaram encontros internacionais em 2009, mas perdeu três posições em relação a 2008. Empresários do setor cobram mais investimentos do governo

postado em 19/05/2010 08:34
A capital federal está entre as cidades que mais realizaram encontros internacionais em 2009, mas perdeu três posições em relação a 2008. Empresários do setor cobram mais investimentos do governoSegura, com infraestrutura satisfatória, acessos viários fáceis e um aeroporto estratégico, por ser o segundo do país em número de conexões. Este é o perfil que está tornando Brasília referência na realização de eventos nacionais e internacionais. A capital se confirmou como vedete desse filão mais uma vez este ano, voltando a figurar entre as 10 cidades brasileiras que mais recebem encontros internacionais, segundo a disputada lista da Associação Internacional de Congressos e Convenções (ICCA), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur). No entanto, caiu três posições no ranking, que sempre leva em conta as realizações no ano imediatamente anterior ao de sua publicação. Enquanto em 2008 a capital federal recebeu 11 eventos que mereceram o selo da ICCA, em 2009, foram somente oito. Com isso, a cidade foi do quarto para o sétimo lugar no relatório da associação. Para o setor privado, o recuo sinaliza que a vocação brasiliense para esse tipo de turismo merece mais atenção do governo local.

;Brasília está superbem estruturada para receber congressos, convenções. É o centro do poder administrativo. Isso torna fácil, se necessário, garantir a presença de representantes de ministérios e secretarias nacionais. Além disso, o Aeroporto Juscelino Kubitschek só fica atrás de Congonhas, em São Paulo, na quantidade de conexões. São quase 300 pousos e decolagens diários. Também temos alguns bons espaços, como o Centro de Convenções Ulysses Guimarães e o Brasil 21. Poderíamos fazer uma captação bem maior de eventos, mas falta apoio do poder público;, afirma Jackeyline Reis Mapurunga, diretora executiva do Brasília Convention & Visitors Bureau (BCB), que congrega empresários dos segmentos de turismo e de eventos.

De acordo com ela, periodicamente o BCB busca de encontros que se encaixem no perfil da capital e disputa-os com outras cidades, preparando projetos e apresentações e financiando passagens aéreas e hospedagem para as comissões de inspeção. ;Cada captação dessas custa em torno de R$ 80 mil, que saem do bolso dos associados do BCB, do trade turístico do DF;, diz Jackeyline, que se queixa da ausência de contribuição do Governo do DF nessas despesas. ;Em 2009, graças ao nosso trabalho, Brasília recebeu 72 eventos nacionais e internacionais que geraram R$ 17 milhões em arrecadação do Imposto sobre Serviços (ISS). Deveria haver uma contrapartida do GDF;, cobra.

Para Ana Alice da Costa e Silva, diretora da A Eventos, empresa que cuidou da organização da Cúpula Social do Mercosul, realizada em 2006, e da Reunião Brasil-Comunidade do Caribe (Caricón), ocorrida este ano em Brasília, o potencial da capital federal para receber congressos (1) e afins é enorme.

;Aqui, você fecha tranquilamente o trânsito para passarem chefes de Estado, coisa que em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo é complicado. Além disso, Brasília não tem a violência dessas capitais. Por isso, a gente brinca que pode até perder congressos médicos, porque o pessoal quer cidade com praia, mas evento com chefe de Estado, não, por causa da segurança;, afirma a empresária. Ana Alice diz que a capacidade hoteleira e o padrão da hospedagem no DF também são pontos positivos na atração de eventos, citando os 22 mil leitos disponíveis e a presença de hotéis de redes internacionais.

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Agenda lotada
Mesmo com a queda de posição no ranking da ICCA e com a reivindicação de apoio e melhorias por parte do empresariado, Brasília tem eventos internacionais importantes na agenda para os anos de 2011, 2012 e 2013. No ano que vem, o ginásio Nilson Nélson receberá o Campeonato Mundial de Patinação Artística. Em 2012 e 2013, acontecem no Centro de Conveções Ulysses Guimarães o 8; Congresso Mundial sobre Derrame e o 34; Congresso Internacional de Psicologia. Eventos desse porte costumam custar de R$ 3 milhões a R$ 5 milhões para serem organizados. No entanto, a economia das cidades em que acontecem sempre é beneficiada. Turistas estrangeiros dispendem, em média, US$ 400 por dia, segundo estimativa da A eventos.

Espaços exigem obrasAna Alice destaca as virtudes da cidade, como trânsito e baixo índice de violência. Para ela, Brasília não pode perder encontros internacionais
A proprietária da A Eventos elogia a estrutura da capital federal, mas também faz ressalvas. Para ela, o Centro de Convenções Ulysses Guimarães, com capacidade para receber 10 mil pessoas, é um dos melhores espaços do Brasil para congressos, convenções e afins, mas carece de melhorias. ;A terceira etapa do Centro de Convenções, que seria a construção da praça de alimentação, jamais foi concluída. Muitas vezes, temos que montar toda uma estrutura de cozinha em tendas do lado de fora, porque não tem como instalar botijões de gás no interior do prédio;, comenta. Ana Alice diz que o estacionamento do Ulysses Guimarães também precisa ser ampliado. ;Já vi participante de evento parar o carro na calçada e ser multado.;

Quanto a outros locais da capital que recebem eventos, como o Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade e o Ginásio Nilson Nélson, na opinião da empresária eles carecem de modernização e adaptação da estrutura.

A diretora executiva do Brasília Convention Bureau, Jackeyline Mapurunga, afirma que, recentemente, Brasília perdeu a oportunidade de receber o Congresso Nacional de Cardiologia porque o Pavilhão do Parque da Cidade, espaço cogitado para a realização do evento, não reunia as condições necessárias para abrigá-lo. ;O governo havia se comprometido conosco a reformar o Pavilhão no início do ano passado, o que não aconteceu;, disse.

O presidente da Empresa Brasiliense de Turismo (Brasiliatur), João Oliveira, diz que de fato existe um projeto de reforma e ampliação do Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, mas que está parado porque a verba necessária para as mudanças é alta. ;Adequar o espaço custaria em torno de R$ 80 milhões. É um recurso que nós temos que buscar, estamos tentando;, afirmou.

Oliveira declarou que a conclusão do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, com a realização da terceira etapa das obras, deverá ser prioridade da Secretaria de Obras apenas em 2011. ;O governo cuidou de obras mais estruturantes, como estradas, viadutos, hospitais;, diz, lembrando que o poder público do DF viveu um momento de turbulência política, e, por isso, diversas ações ligadas ao turismo ficaram de lado. O presidente da Brasiliatur diz que a empresa tem intenção de firmar uma parceria com o Brasília Convention & Visitors Bureau para ajudar financeiramente no trabalho de captação de eventos para a capital, mas não há previsão de quando o acordo poderá ser fechado.

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