Turma de Batista das Cooperativas, exonerada por desvio de função, volta a trabalhar para GDF

Demitidas em abril, cinco funcionárias da Administração de Águas Claras que trabalhavam em uma cooperativa ligada a distrital foram readmitidas nas secretarias de Habitação e de Governo

postado em 20/05/2010 08:15

A turma do Batista das Cooperativas (PRP), aquela que tinha sido exonerada por desvio de função, voltou a trabalhar para o GDF. A demissão dos servidores indicados pelo deputado distrital durou pouco. Os funcionários flagrados trabalhando numa cooperativa ligada a Batista, que funciona em prédio de propriedade do parlamentar, foram demitidos da Administração de Águas Claras em abril. E cinco dos sete foram recontratados nesta semana para cargos da Secretaria de Habitação que, segundo determinação do governador Rogério Rosso (PMDB) anunciada ontem, deixará de existir (leia mais na página 43 ).

Desde o governo de José Roberto Arruda, a Administração de Águas Claras é reduto de Batista, repartição onde o deputado abriga parte de seus cabos eleitorais. Com a eleição de Rogério Rosso, o deputado ampliou sua área de influência para a Secretaria de Habitação e ocupou um espaço antes do deputado Paulo Roriz (DEM). Na última segunda-feira, 14 servidores dessa secretaria foram demitidos. O Correio apurou com fontes do governo que as exonerações ocorreram porque se tratava de empregados fantasmas. Estavam lotados no órgão, mas não compareciam ao local para trabalhar. Seriam pessoas ligadas diretamente a Paulo Roriz , o titular da pasta até março.

O que seria uma medida saneadora do GDF, no entanto, acabou abrindo brecha para um outro arranjo político. No lugar dos exonerados, estão sendo nomeadas pessoas ligadas a Batista das Cooperativas. O Diário Oficial do DF do dia 17 confirma que Daiane Garcia de Jesus, Valdenice Vieira Rocha e Stephanie de Souza foram admitidas para exercer cargos de confiança na Secretaria de Habitação (veja fac símiles). A publicação do DODF de 13 de maio, por sua vez, informa que Vanessa de Oliveira Lima e Edneide Gomes Fernandes Sena foram contratadas para trabalhar na Secretaria de Governo. Todas elas por meio da indicação de Batista. Na Secretaria de Habitação também foi nomeada Elizabete Camelo Pinho, que namora um dos filhos do deputado distrital para exercer um CNE 7, com salário de R$ 4,7 mil.

Horário
Em 16 de abril, o Correio mostrou que Daiane, Valdenice, Stephanie, Vanessa e Edneide aproveitavam o horário de expediente na Administração de Águas Claras para atuar como secretárias em uma cooperativa que funciona no prédio de Batista em Recanto das Emas, além de divulgar atividades de campanha do distrital. Após a reportagem, as servidoras foram exoneradas por determinação do então governador Wilson Lima (PR). Outras duas pessoas na mesma situação também perderam o emprego no governo por desvio de função.

Procurado, Batista das Cooperativas afirmou que não ;vê nenhum problema; em empregar pessoas que ;nas horas vagas trabalhem numa cooperativa;. ;Já disse e repito, sou o Batista das Cooperativas, as pessoas indicadas por mim são do mesmo ramo, portanto, qual é o problema de elas serem descobertas trabalhando numa cooperativa?;. Da mesma forma, o distrital não vê irregularidade na indicação da namorada de um filho, Renato Torres Batista. ;Ela é gente, não é um câncer, nem um vírus, o que as pessoas têm de ver é se tem competência ou não;, acredita Batista. O deputado, no entanto, não confirmou que Elizabete seja ligada a seu filho. ;Não sou obrigado a saber quem meu filho namora.; Quando ao fato de a Secretaria de Habitação ser extinta, Batista acredita que vai remanejar os servidores para outros setores ligados à área, como a Seduma.



Fantasmas descobertos
O governador Rogério Rosso (PMDB), por meio de sua assessoria, informou que vai usar como critério para a montagem da equipe que trabalhará na Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Urbano e Meio Ambiente (Seduma) a formação técnica dos funcionários. Paulo Roriz, que foi acusado de manter funcionários fantasmas na Secretaria de Habitação, sustenta que ;é natural quando muda uma gestão que, aquele que toma posse, queira imputar irregularidades ao antecessor. Não havia servidor fantasma algum. E, entre os exonerados, estão servidores do quadro que foram retirados apenas dos cargos de confiança;.

Fontes do GDF informaram, no entanto, que um dos motivos para o governador extinguir a Secretaria de Habitação foi ter chegado à conclusão de que o órgão estava servindo apenas como um cabide de empregos e que teria sido criado por José Roberto Arruda somente para abrigar Paulo Roriz e seus cabos eleitorais no governo. Mas parte da secretaria também era controlada por Batista das Cooperativas.

Na prática, Rosso está limpando da secretaria a turma de Paulo Roriz, que não foi seu aliado na eleição indireta na Câmara Legislativa. Paulo Roriz também faz parte do bloco dos deputados independentes que se comporta como oposição. Já Batista, votou em Rosso. No entanto, a relação do governador com todos os parlamentares está difícil. Eles pressionam para abocanhar cargos no Executivo e como não estão conseguindo cruzaram os braços. Há um mês, não se vota nenhum projeto do GDF na Câmara.

O governo informou que, com a extinção da Secretaria de Habitação, os cargos comissionados serão reduzidos. O atual secretário da pasta, Luiz Bandeira, que está prestes a perder o cargo, lamentou a decisão. ;Considero temeroso mexer na estrutura de governo a sete meses do fim do mandato. Redistribuir o serviço nem sempre significa maximizar eficiência;, comentou Bandeira, que já foi secretário-adjunto de Planejamento do governo de Joaquim Roriz e passou pela BrasiliaTur, no governo Arruda. (SS)

"É natural quando muda uma gestão que, aquele que toma posse, queira imputar irregularidades ao antecessor"
Paulo Roriz, deputado distrital