postado em 22/05/2010 10:24
Oito meses e 18 dias. Esse foi o tempo que durou a versão de um filho sobre as causas que levaram o pai à morte. Em 2 de setembro do ano passado, o carro dos dois pegou fogo numa área rural do Gama. Com queimaduras de 2; e 3; graus no corpo, Francisco Justino Ferreira, 58 anos ; dono de duas importantes empresas do ramo de laticínios, 20 fazendas e alguns imóveis ;, morreu em virtude dos ferimentos. O filho primogênito, Helvys Humberto Pereira Ferreira, 31, teve parte das pernas e das mãos atingida pelas chamas. Mal recebeu alta do hospital, ele reivindicou a herança. Não contava, no entanto, que a versão apresentada por ele seria investigada e desmontada pela polícia. Agora, Helvys é acusado de ter orquestrado a morte(1) de Francisco.O crime ocorreu por volta das 16h de 2 de setembro de 2009, na Gleba B, em Ponte Alta do Gama. Na época, Helvys Ferreira explicou que o fogo começou porque o pai havia acendido um cigarro enquanto limpava o para-brisas do veículo ; um Corsa, de placa NKO 1350-GO, de propriedade de uma das filhas do empresário.
Helvys foi detido na manhã da última quinta-feira. Ele estava numa padaria perto de sua nova residência, no Setor Sudoeste, quando os policiais anunciaram a prisão. Ao ser questionado sobre o motivo, o delegado que comandou a ação foi incisivo. ;Você está sendo preso porque é acusado de matar o seu pai;, disse Francisco Duarte, titular da 20; Delegacia de Polícia (Gama Oeste). Apesar de os laudos do Instituto de Criminalística (IC) apontarem contradições sobre alguns pontos das versão de Helvys, ele continua negando a participação no crime e está em uma cela provisória no Departamento de Polícia Especializada (DPE).
Cinto de segurança
A primeira dúvida levantada pela polícia sobre a história narrada por Helvys se referiu a quem conduzia o veículo no momento do acidente. ;A marca do cinto atravessava do ombro direito para o esquerdo, na altura da cintura. Apenas uma pessoa sentada no banco do passageiro poderia ter aquele sinal;, explicou Francisco Duarte. ;Ele queria comprovar que o pai havia ido para Ponte Alta do Gama por conta própria, pois o local fica perto da casa onde mora um amigo da vítima;, disse o delegado. ;Porém, esse amigo não falava com o empresário havia muito tempo por conta de uma dívida.;
Segundo Helvys, Francisco Justino teria vindo de Goiânia para conhecer os pais da noiva do filho. No caminho, o pai teria se deslocado para visitar o tal amigo. O acusado, no entanto, foi desmentido pela própria mulher, Renata Cardoso Ferreira, 24 anos. Em depoimento à polícia, ela afirmou que os pais nunca estiveram na capital federal. A contradição fez com que as suspeitas em relação ao crime aumentassem. Mas a prova fundamental que suscitou a desconfiança dos investigadores foi a filmagem do momento em que o veículo pegava fogo.
Com um aparelho celular, um policial militar gravou a cena. ;O PM disse que viu um homem com o corpo em chamas sair do banco do passageiro e rolar no chão. Em seguida, ele testemunhou o motorista chutando a vítima, que estava caída;, afirmou o delegado Duarte. As imagens estão sendo analisadas pelo IC. ;Ao pedir socorro, o policial dizia se tratar de uma execução;, completou. Questionado sobre a cena gravada pelo aparelho, Helvys negou que tenha chutado o pai. ;Ele afirmou que tentava apagar o fogo utilizando terra;, relata o chefe da 20; DP. O carro, o cenário do crime, está nas dependência da unidade.
Sigilo
As queimaduras em Helvys e na vítima levantaram as suspeitas dos policiais. ;Como o Francisco poderia ter as costas e as nádegas queimadas se ele estava sentado no banco e o fogo veio da frente?;, destacou. ;Para nós, o filho dopou o pai, o levou para o Gama e ateou fogo nele;, arrisca o delegado. ;A queimadura nas mãos de Helvys também é uma evidência de que ele tentou prender o pai no cinto.;
Ao quebrar o sigilo telefônico de Helvys, a polícia flagrou uma conversa dele com a mãe, que está nos Estados Unidos. ;Ela tinha combinado de arranjar um casamento com uma cidadã norte-americana para conseguir o green card ; visto de permanência ; e fugiria. Então, resolvemos pedir a prisão dele. Agora, ele terá de responder ao processo na prisão;, disse. O motivo do crime, segundo o delegado, seria a herança do pai. Apesar da prisão de Helvys, o caso ainda não foi encerrado. Para Francisco Duarte, Helvys pode ter contado com a ajuda de outra pessoa.
1 - Motivo torpe
Helvys Humberto Pereira Ferreira foi indiciado por homicídio qualificado ; com o agravante de o motivo do crime ser torpe e por não ter permitido à vítima (o próprio pai) chance de reagir. Se for condenado, ele pode pegar de 12 a 30 anos de prisão.