Cidades

Empresas usam redes sociais para atrair consumidores

postado em 23/05/2010 07:15
As redes sociais ; canais online de troca de conteúdo como Twitter, Facebook e YouTube ; vêm alterando a forma como as pessoas se relacionam e têm acesso à informação em todo o mundo. A velocidade com que circulam dados, críticas e elogios sobre toda sorte de assuntos chegou a tal nível que ninguém que dependa, em algum grau, da opinião pública, pode se dar ao luxo de ficar de fora do processo. Políticos, por exemplo, têm se esmerado em interagir com os usuários dessas ferramentas interativas. Para acompanhar gostos, sentimentos, reações e desejos dos clientes, empresas também têm sido obrigadas a esquecer a época em que marcar presença na internet significava ter um site. É preciso estar por toda parte. No Distrito Federal, empresários estão se adaptando à nova realidade, e já existe até consultoria para ajudar a cuidar da imagem virtual.

O fenômeno (1)das mídias sociais com a força que elas possuem nos dias de hoje é recente. O serviço de microblog Twitter, por exemplo, atualmente o canal mais popular dentre todos, foi criado em 2006 e, no Brasil, só se tornou realmente conhecido no ano passado. Entretanto, no universo das redes da web, as coisas acontecem tão rapidamente que quem deseja seguir o ritmo é forçado a tomar decisões antes mesmo de entender o que está se passando.

Foi o que aconteceu com a artista plástica e empresária brasiliense Mariana Dap, proprietária da loja de peças de design Mercado Cobogó. Mariana, que organizava exposições, abriu um espaço fixo de vendas na Asa Norte no ano passado. Na época, sabia por intermédio de amigos que ferramentas da rede mundial de computadores começavam a se mostrar eficazes na divulgação de negócios. Ainda sem ter muita intimidade com as mídias, resolveu ousar. ;Comecei a fuçar com a ajuda deles, e decidi que ia fazer tudo de graça, usando esse tipo de canal;, conta.

Atualmente, não é exagero dizer que a empresa da artista plástica está espalhada por toda parte. O Mercado Cobogó tem conta nos conhecidos e campeões de acessos Twitter, Facebook, YouTube e Flickr, e até no mais recente e nem tão ilustre LinkedIn (veja quadro). A loja também está devidamente cadastrada para ser localizada pelo Google Earth e Google Maps, serviços, respectivamente, de fotografias via satélite e coordenadas da Google. Por fim, usa o serviço de blogs Blogspot.

Os canais são tantos que Mariana tem que manter, ao lado do computador, um roteiro com as senhas para acessar cada um deles. Ela faz questão de frisar que a presença em todos esses espaços não é somente nominal. ;Monitoro tudo, atualizo diariamente. Até comecei a usar uma ferramenta da Google chamada analytics, que me mostra o histórico de cada acesso ao nosso blog. Sei se a pessoa chegou a nós via Facebook ou Twitter, em que ponto do mundo ela mora, em qual post ficou mais tempo. Desse jeito, posso me planejar e dar preferência às estratégias de divulgação que deram mais certo;, conta.

Proprietário da Brasília Multiesportes, empresa que organiza competições na capital federal, o atleta e empresário Alexandre Carrijo também agiu ainda no escuro em relação às mídias sociais.

;Em fevereiro de 2009, estávamos montando nosso site e ouvindo alguns amigos que entendiam do assunto, decidimos dar algum foco a ferramentas como Twitter, Facebook, Flickr. Você vai aprendendo, refinando. Hoje adotamos algumas estratégias, como segmentação de conteúdo. Não dá para bombardear todo mundo com tudo;, diz Carrijo. De acordo com ele, há uma interação boa com interessados em esportes, e a quantidade de atletas inscritos em eventos realizados pela empresa cresceu 37% no último ano.

Em outra empresa do DF, a Beiramar Imóveis, a inserção em redes sociais se deu com assessoria técnica. O diretor comercial, Pedro Fernandes, conta que há um mês a imobiliária ganhou uma diretoria de web, com 25 funcionários. Destes, 20 são corretores e cinco, além de ter formação na área de internet, são afinados com a administração de novas mídias. A equipe se relaciona com clientes por meio do site da empresa, Twitter, Facebook e Orkut. ;O nosso foco é mesmo em resultados, não é uma estratégia institucional. Hoje, essa área é responsável por quase 15% do nosso faturamento;, conta Fernandes.

Planejamento
Há cerca de dois anos o empresário Bruno Ladeira, que comanda a empresa de consultoria Webadvisor, detectou um nicho no mercado do Distrito Federal. Percebeu que poderia oferecer serviços de diagnóstico e orientação a empreendedores com dificuldades em inserir seus negócios no mundo digital. ;A gente funciona há nove anos, mas antes éramos focados no desenvolvimento de aplicativos para facilitar a postagem de conteúdo. Com o surgimento das redes sociais, apareceu essa ideia de avaliar a imagem das empresas na internet e mostrar como melhorar;, relata.

Bruno diz que, com a popularidade crescente dessas mídias, a complexidade do trabalho está cada vez maior. ;Você precisa se planejar. Saber que linguagem usar em cada canal, o momento e o lugar certo para divulgar uma promoção. Se você não faz um plano, pode perder a oportunidade e até causar danos à sua imagem;, alerta.

1 - Recursos recentes
As primeiras redes sociais virtuais surgiram há pouco mais de 10 anos, mais precisamente em 1997 com o lançamento do Sixdegrees. Esse site foi o primeiro a possibilitar a criação de um perfil virtual combinado com o registro e publicação de contatos, o que viabilizou a navegação por perfis alheios. Embora a partir de 2000 tenham surgido vários serviços de rede social, como Live Journal, Asianevenue, Blackplanet e Fotolog, aquele que mais se assemelhava ao mundo das redes de atualmente era o Friendster, lançado em 2002. O serviço não foi tecnicamente capaz de suportar o crescimento do número de usuários. As redes sociais como as conhecemos hoje, com milhões de usuários em todo o mundo, iniciaram suas atividades a partir de 2003. MySpace e Orkut foram as primeiras.

Principais ferramentas

Twitter
; O serviço de microblog é a febre do momento. Permite ao usuário compartilhar com os seguidores informações em textos de até 140 caracteres. Permite divulgar vídeos, fotos e direcionar o leitor para outras páginas da web por meio de links. Empresas têm usado a ferramenta para campanhas publicitárias inteiras pensando apenas no público que possui conta no Twitter. As notícias circulam tão rápido que os usuários ficam sabendo de um fato antes de ele ser noticiado por sites e emissoras de rádio e TV.

YouTube
; Permite compartilhar vídeos ou fazer o upload de produções próprias. Para divulgar o conteúdo, é preciso abrir uma conta, com o fornecimento de nome, e-mail e dados pessoais. Várias empresas se aproveitam da popularidade do endereço na net para anunciar seus produtos.

Orkut
; O site de relacionamentos é quase considerado velharia hoje. Foi criado em 2003 com o objetivo de ajudar os usuários a fazerem amizades e trocarem ideias e informações. Fez tanto sucesso que foi incorporado pela Google. Menos ágil do que os similares, é um canal válido para empresas no país porque congrega um número enorme de brasileiros. Eles já foram a maioria dos cadastrados no Orkut, e, atualmente, perdem para os indianos.

Facebook
; Permite a criação de perfil com fotos e informações pessoais à semelhança do Orkut, mas o usuário é estimulado a postar dados de forma mais concisa, e as atualizações circulam mais rápido por sua rede de amigos. É um precursor do Twitter. Empresas criam perfis e utilizam a ferramenta para divulgar eventos e campanhas.

LinkedIn
; É uma rede de relacionamentos adulta, com perfis que se assemelham a currículos. As informações disponíveis são sobre formação profissional e acadêmica, deixando de fora dados como música e livros preferidos. Empresas aproveitam o espaço para marcar presença e para caçar novos talentos.

Blogs
; É como se os usuários tivessem seu próprio site para divulgar qualquer tipo de conteúdo, sem a necessidade de pagar pela hospedagem e pelo uso do domínio. Se o internauta comum aproveita a plataforma de divulgação gratuita, as empresas também, principalmente as iniciantes, que não podem gastar muito com publicidade. Também é usada por empresas com nome consolidado no mercado, quando querem fazer campanhas mais descontraídas e com maior apelo popular. Os serviços de blog mais conhecidos são o Blogger, o Blogspot e o Wordpress.

Flickr
; É um site cujo foco é o armazenamento de fotografias. Serve para amigos compartilharem álbuns. É considerado útil por empresas que desejam divulgar imagens de produtos e de eventos.

Palavra de especialista
Brasileiros estão conectados

Nas redes sociais, as pessoas contribuem com opinião e informações por sua livre vontade. O Brasil, por algum motivo, é campeão disso. Um levantamento recente feito pelo Ibope mostrou que mais de 80% dos brasileiros estão conectados a essas ferramentas.

Algumas empresas temem entrar nesses espaços, porque entendem, e corretamente, que estarão colocando a cara a tapa. A questão é que não adianta nada não colocar. Você pode achar que não está na internet, mas as pessoas vão falar sobre a sua marca e ponto final.

A empresa pode monitorar, intervir, e, se possível, alterar a percepção sobre um produto ou acontecimento de negativa para positiva. Não dá para estar na web de um jeito passivo, só criando um site ou uma conta em rede de relacionamento. Tem que fazer isso, mas tem também que ir atrás do que estão dizendo sobre você.


Roberto Resende Moreira, especialista em Marketing e diretor de Comunicação da Universidade Católica de Brasília (UCB)

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