postado em 24/05/2010 07:59
O condutor da lancha que afundou, o técnico em informática José da Rocha Costa Júnior, 33 anos, é praticante de wakeboard (uma espécie de esqui aquático) e conheceu o estudante de psicologia Matheus Tafuri, 22, em um dos encontros esportivos. Há dois anos, eles resolveram comprar em sociedade uma lancha de 18 pés, da marca Esquimar, e a chamaram de Front Rool. A embarcação fica guardada na casa de Matheus, na QL 15, conjunto 9, Lago Norte, onde foi realizado o churrasco na última sexta-feira e de onde o grupo de 11 pessoas partiu para o passeio aquático. Segundo o advogado de Júnior, Emerson Érico da Silva, seu cliente não conhecia parte do grupo que subiu na lancha. ;Eram amigos do Marcos Paulo (França Mercaldo, 20 anos) e do Matheus;, garante.O advogado não crê que o fato de o número de passageiros, acima da capacidade, tenha provocada o acidente. A suspeita de Emerson é que tenha havido uma infiltração por conta de uma possível rachadura no casco da embarcação de que o condutor não tinha conhecimento, o que teria enchido de água o porão do barco. O advogado não descarta que a causa do acidente tenha sido adversa. ;Pode ser um caso, que não dependeu do condutor. Nesse caso, ele certamente não será culpado.; Além do advogado, o dono do barco, José da Rocha Costa Júnior conversou com o Correio. Veja como ele descreve o acidente na madrugada de sábado.
O churrasco e o passeio
;Tinha chegado do trabalho e fui de carro para a casa do Matheus. Chegamos umas 17h na casa dele para conversar. Aí resolvemos comprar uma carninha. O Marcos Paulo ligou para a namorada (Júlia) e ela trouxe as amigas. Da hora que eu cheguei até sair de barco fiquei na casa do Matheus. Mais tarde, por volta de 23h, meia-noite, resolvemos passear de lancha. Demos uma volta, passamos do lado do barco de festa que fez a filmagem, ficamos olhando o pessoal e voltamos. Estava todo mundo conversando, brincando, ouvindo música. Isso foi mais ou menos uma hora antes de o barco afundar.;
Superlotação
;Como os lastros estavam vazios, colocamos mais gente. O barco é bem baixo. Ele fica bem lá embaixo, perto da água. Pela legislação, concordo que tinha gente a mais. Se passasse a fiscalização, iam me multar. É como se eu estivesse num carro com seis pessoas, também iriam me multar. Para mim, não é crime. Nunca iria imaginar que o excesso de pessoas pudesse ocasionar o acidente. Não sei se a causa foi essa.;
Hora
;Por volta das 2h40, só escutei uma pessoa atrás dizendo que estava entrando água na lancha. Quando vi, acelerei mais um pouco para ver se a água parava de entrar. O povo deu passo para trás, veio uma onda e o barco começou a afundar. O barco foi puxado para o fundo. Nadei até a superfície e, como fui um dos últimos a sair, vi o pessoal nadando junto, peguei um banco e falei: ;vamos ficar todo mundo junto;. Ficou três meninas, elas queriam subir no banco, mas como não aguentava, soltei do banco e fui nadando. Pensei que ia morrer. A água estava muito fria. Fui nadando de costas, mirando nas estrelas até a margem, consegui chegar no Parque das Garças e fui até a casa do Matheus, que é do lado, e chamamos os bombeiros. A única coisa que passava na minha cabeça era a vontade de viver.;
Motivo
;Acho que o motivo do naufrágio não foi a quantidade de pessoas. A bomba do porão pode ter parado de funcionar e, de uma hora para oura, afundou. Até agora, foi inexplicável. Aglomerou muita gente na parte de trás. É a única razão plausível, mas só quando resgatar o barco e fizer perícia é que dá para saber. O barco navegou o tempo todo sem nenhum problema, se fosse pelo excesso de pessoas, com meia hora a lancha já tinha afundado.;
Ajuda
;Na hora do resgate com os bombeiros, as outras quatro meninas choravam muito e falavam para eu não me preocupar, que eu não tinha culpa. Minha proposta era só achar mais gente. Não fugi hora nenhuma, ajudei em tudo, fiz o teste do bafômetro na maior espontaneidade (o teste deu negativo).;
Tristeza
;Estou muito abalado, chorei muito. Acho que foi uma tragédia, sinto muito pela família que perdeu duas filhas. Estou muito sentido. Poderia ter acontecido com a minha família.;
Álcool
;Parei de beber umas 18h, 19h. Bebi duas latinhas de cerveja e passei a tomar energético. As meninas levaram um pouco de licor para a lancha e outros entraram com três latinhas de cerveja na mão, era o tinha sobrado do churrasco. Eu, o Hugo e o Marcelo (que também estavam no barco) tomamos energético.;
Revisão
;A última revisão da lancha deve ter uns 45 dias. Não foi constatado nada quebrado.;
Coletes
;Como era barco de wakeboard, sempre tem vários coletes, 10, 11, 12. No momento que saímos, não contei. Não sei a quantidade de coletes, não sabia nem a quantidade de gente. O Hugo colocou um colete uns 15 minutos antes do naufrágio, ele não sabe nadar. Você não vê ninguém passeando de lancha com colete, não é obrigatório.;
Abastecimento e lastros
;O barco já estava abastecido. Não saí para abastecer. O barco possui dois lastros (tanques) de 200 litros. Quando encho, para fazer marola para a prática de wakeboard, a lancha suporta seis passageiros e um tripulante, com os lastros cheios. Já andei com a minha família com os lastros vazios. O lastro já fica vazio, não tem como tirar a lancha da água com lastros cheios, fica muito pesado. Antes de tirar da água, esvaziamos. Quando saímos para o passeio, o barco estava em terra.;
Veja o vídeo com as imagens da lancha pouco antes do naufrágio