Cidades

Segundo dono de empresa que confeccionou lancha, embarcação só comporta seis pessoas

Em hipótese nenhuma, barco poderia ter 11 passageiros. A afirmação derruba argumento de piloto, que deve ser indiciado por homicídio culposo

postado em 25/05/2010 07:36
Os bombeiros demarcaram com uma boia o ponto exato onde a lancha foi achada ontemA lancha que afundou no Lago Paranoá na madrugada de sábado não comporta mais que seis pessoas, independentemente do fato de estar ou não trafegando com o lastro vazio. É o que garante o empresário João Carlos Beu, dono da Esquimar, a fabricante da embarcação envolvida no acidente. Essa afirmação complica ainda mais a situação do técnico em informática José da Rocha Costa Júnior, 33 anos, o piloto que conduzia o barco com 11 pessoas ; quase o dobro da capacidade. A Polícia Civil adiantou que tem elementos suficientes para indiciá-lo por homicídio culposo (quando não há intenção de matar). Por volta das 14h de ontem, a lancha foi encontrada no fundo do lago. O Corpo de Bombeiros não conseguiu localizar as duas irmãs até o fechamento desta edição.

A informação do fabricante derruba o argumento usado por Júnior para justificar o excesso de passageiros. Em entrevista ao Correio no domingo, o piloto disse que o lastro ; o compartimento usado para dar estabilidade à embarcação ; estava vazio e que, portanto, poderia ter levado mais cinco pessoas no passeio. O naufrágio resultou no desaparecimento das irmãs Juliana e Liliane Queiroz, 18 e 21 anos, respectivamente. A lancha afundou entre a QL 15 do Lago Norte e a Ponte JK.

Conclusão do caso
Para o chefe da 9; Delegacia de Polícia (Lago Norte), Silvério de Andrade, a superlotação contribuiu para a sua conclusão no caso. Segundo ele, caso as mortes das jovens sejam se confirmadas, ele vai indiciar o piloto por homicídio culposo. Ao contrário do delegado, especialistas consultados pelo Correio acreditam que o excesso de peso na lancha influenciou diretamente na tragédia. ;Em hipótese alguma esse modelo de embarcação poderia levar mais do que seis passageiros, seja com lastro vazio ou cheio;, disse João Carlos Beu.

Ontem, mergulhadores do Corpo de Bombeiros localizaram o barco, que deve ser içado na manhã de hoje. Boias serão amarradas na embarcação, que está a 25 metros de profundidade, e infladas, fazendo a lancha flutuar. Paralelo a isso, as buscas pelas irmãs moradoras de Taguatinga continuam hoje.

Esqui aquáticoEm hipótese nenhuma, barco poderia ter 11 passageiros. A afirmação derruba argumento de piloto, que deve ser indiciado por homicídio culposo
A lancha acidentada foi projetada para atender a praticantes de wakeboard (esqui aquático com apenas uma prancha). De acordo com o proprietário da Esquimar, que tem sede em São Paulo, a embarcação suporta, no máximo, seis pessoas, quando os lastros estão vazios. Ao enchê-los, a recomendação é que o número de ocupantes não passe de três. ;É uma embarcação que pode ser usada para recreio, desde que os lastros estejam vazios e que não mais de seis pessoas estejam a bordo. Quando você coloca 11 dentro de um barco como esse, a probalidade de ocorrer um acidente aumenta. É igual a um carro. Imagine você dirigir com oito pessoas dentro?;, comparou João Carlos Beu.

Segundo o empresário, o peso limite que a lancha suporta é de até 500kg. Considerando a média de peso dos brasileiros com mais de 18 anos, que é de 66,5kg, a embarcação estaria com 731,5kg. Ou seja, 231,5kg a mais do que o estipulado pelo manual do fabricante. Beu também acredita que se a embarcação estivesse munida de alguns equipamentos básicos de segurança, as vítimas que não sabiam nadar poderiam ser salvas. ;A pessoa que adquire uma embarcação deve comprar os equipamentos obrigatórios. No caso desse acidente, além dos coletes salva-vidas, umas três boias circulares poderiam salvar todas as pessoas, pois uma boia dá para manter duas pessoas na superfície;, comentou.

O vice-presidente da Federação Náutica de Brasília (FNB), Homero Corrêa Martins, elencou três hipóteses para a tragédia (veja arte). A mais provável, segundo ele, é que o piloto tenha desacelerado a lancha bruscamente. A manobra teria deslocado as 11 pessoas para a popa e o peso extra pode ter feito com que a embarcação enchesse de água e afundasse em menos de 20 segundos. ;Acho que o único erro dele (do condutor) foi esse excesso de passageiros;, ressaltou. Em entrevista ao Correio, no domingo, José da Rocha Júnior disse não acreditar que o excesso de passageiros tenha causado o naufrágio. ;Se fosse isso, com meia hora, a lancha teria afundado;, defendeu-se.

Colaboraram Mara Puljiz e Luiz Calcagno

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