Cidades

Parentes de jovens que estavam na embarcação compartilham momentos de agonia

Familiares e amigos das duas garotas desaparecidas acompanharam durante todo o dia o trabalho dos bombeiros. Irmã que sobreviveu à tragédia desmaiou ao chegar ao local

postado em 25/05/2010 08:02
Ademir Barbosa de Lira, pai das duas jovens que ainda estão desaparecidas, acompanhou o trabalho de resgate ao longo de todo o dia de ontemAs famílias dos 11 jovens envolvidos no acidente com a lancha Fronte Roll ; que afundou na madrugada do último sábado no Lago Paranoá ; têm compartilhado momentos difíceis. Quem sobreviveu não consegue esquecer as horas de frio, pânico e os gritos de socorro dos amigos que estavam na água. Já os parentes das jovens Juliana, 21 anos, e Liliane Queiroz de Lira, 18, ; que ainda não foram encontradas até o fechamento desta edição ; vivem um misto de desespero com um traço de esperança. Amigos e familiares dos envolvidos no acidente estiveram ontem no 1; Batalhão de Busca e Salvamento, no Setor de Clubes Norte, para acompanhar o trabalho dos bombeiros.

A chegada de Rita de Cássia Queiroz de Lira, 26 anos, por volta das 15h, causou comoção. Ela é irmã de Juliana e Liliane e estava na lancha. Rita teve alta do Hospital Regional da Asa Norte na tarde de ontem e seguiu para as margens do lago, onde estavam os outros irmãos, o pai, alguns tios e primos. Quando se aproximou do local, Rita chorou muito e gritou: ;Cadê as minhas irmãs, cadê as minhas irmãs?;.

Em seguida, ela teve um princípio de desmaio e saiu carregada pelo tio Altair de Queiroz Lira. O clima de tristeza tomou conta de todos e ninguém conteve as lágrimas. Minutos depois, a família se retirou do local. De acordo com parentes da jovem, Rita dormia no momento do acidente e não sabe dizer como conseguiu se salvar. Ela criava as irmãs há 8 anos, desde que elas se mudaram com o pai, de Barra (BA), cidade natal, para Brasília. As meninas vieram para o DF depois da separação dos pais.

Ademir Barbosa de Lira, 53 anos, pai das jovens desaparecidas, estava de plantão no lago desde as 7h para se certificar de que estaria presente quando as filhas fossem encontradas. Mal conseguiu dormir. Também não se alimentou. Às 15h, ainda não havia almoçado. ;Nem me fale em comida. Só quero saber onde estão as minhas filhas;, disse Ademir a uma sobrinha que lhe ofereceu uma refeição, com lágrimas nos olhos.

Última a ter alta do hospital, Rita de Cássia sentiu-se mal após chegar ao local onde é feita a busca pelas irmãs Juliana e LilianeEle insistiu para entrar no Lago Paranoá com os bombeiros em uma lancha. Conseguiu autorização e acompanhou o momento em que a embarcação foi encontrada pelos mergulhadores. ;Tenho certeza que os corpos delas estão dentro desse barco;, lamentou. A suspeita do pai, no entanto, não foi confirmada. ;Elas estavam estudando muito, trabalhavam, nunca me deram trabalho;, revelou, utilizando o verbo no tempo passado para se referir às filhas. A mãe das meninas, identificada apenas como Josefa, saiu ontem de Barra (BA) e deve chegar hoje à capital.

Deane Cavalcante, 24 anos, irmã por parte de pai de Juliana e Liliane, mora com elas e outros dois irmãos, Ariomar e Maurício Queiroz de Lira, em Taguatinga Norte, na CNB 2. Deane chegou a se arrumar para ir ao churrasco que terminou com a tragédia, mas sentiu-se mal, cansada e desistiu de sair. Ela guarda em uma câmera digital as últimas imagens da irmã antes de sair de casa na sexta-feira. ;Nós fizemos fotos da gente se arrumando. Onde uma ia, todas iam;, lembrou Deane. ;Quando cheguei em casa depois de receber a notícia do acidente, tinha a esperança de encontrar as minhas irmãs lá dormindo. Tudo está como elas deixaram;, relatou.

Sobreviventes
Ontem, cinco dos jovens que estavam na embarcação também esperavam por notícias das amigas desaparecidas no 1; Batalhão de Busca e Salvamento. Marcos Paulo França Mercaldo, 20 anos, detalhou os momentos logo após o acidente. ;Todo mundo ficou tentando se salvar. A gente teve que se afastar um do outro para não morrer. Cada um nadou para um lado;, relatou. Os parentes de quem escapou sentem alívio, mas não deixam de sofrer pelas desaparecidas. O funcionário público Mayron Maéssio, 47 anos, pai de Júlia e Natália, prestou solidariedade à família das amigas das filhas. ;A gente nunca acha que algo assim vai acontecer;, disse. ;O sofrimento deles é muito maior. Eu era amigo das meninas também. É triste, mas foi uma fatalidade e não pensamos em processar ninguém;, disse Maéssio.

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