Cidades

Condutor da lancha que naufragou é indiciado por homicídio culposo

Laudo preliminar da Polícia Civil mostra que a embarcação não tinha avaria no casco

postado em 26/05/2010 07:50
Após passar por perícia da Polícia Civil no fundo do lago, a lancha foi retirada ontem pelos bombeiros. Novos testes vão avaliar se a embarcação apresenta problemas técnicosO técnico em informática José da Rocha Costa Júnior, 33 anos, condutor da embarcação que naufragou no Lago Paranoá na madrugada do último sábado, foi indiciado ontem por homicídio culposo(1) (quando não há intenção de matar). O delegado que conduz as investigações, Silvério de Andrade, chefe da 9; DP (Lago Norte), decidiu adiantar sua conclusão devido à combinação de três fatores: o laudo preliminar dos mergulhadores do Instituto de Criminalística da Polícia Civil, que não constatou nenhuma avaria no casco do barco; a superlotação da lancha e o fato de o piloto não orientar as pessoas que não sabiam nadar a usarem coletes salva-vidas. Pela manhã, os corpos das irmãs Juliana, 21 anos, e Liliane Queiroz de Lira, 18, foram localizados no lago. A embarcação também foi retirada. Nela, os militares recolheram uma garrafa de licor e uma lata de cerveja.

[SAIBAMAIS]Outro fato que pode agravar a situação de Júnior são os exames de alcoolemia que serão feitos por legistas do Instituto de Medicina Legal (IML) nos cadáveres das jovens. Ao Correio, Silvério disse que o procedimento é capaz de indicar com precisão quanto de álcool elas ingeriram no momento da tragédia. ;Sabendo o quanto as jovens beberam, podemos ter uma noção do quanto ele (o piloto) bebeu;, ressaltou o delegado.

Ontem, o webdesign Welvis Fernandes da Silva, 24 anos, prestou depoimento. Ele filmou a embarcação lotada momentos antes de ela afundar. Ao delegado, o jovem disse que viu, sim, algumas pessoas com garrafas e copos na mão. ;O depoimento dele serviu para corroborar que havia gente consumindo bebida na embarcação;, reforçou Silvério. A irmã das vítimas, a cabeleireira Rita de Cássia Queiroz, 26 anos, iria depor ontem à tarde, mas o delegado entendeu que ela não tinha condições psicológicas de comparecer à 9; DP.

ColetesNo barco retirado, foram encontradas uma lata de cerveja e uma garrafa de licor
Até agora, sabe-se que a lancha dispunha de cinco coletes salva-vidas. Três foram encontrados pelos bombeiros no dia do naufrágio, um outro foi entregue ontem na 9; DP. Um coronel da PM, cujo nome não foi divulgado, disse que nadava no lago quando viu o equipamento flutuando. Já o quinto colete estava preso à lancha. Ou seja, a embarcação trafegava com seis coletes a menos, já que havia 11 pessoas a bordo ; seis a mais que a capacidade da lancha, que foi periciada pela Polícia Civil no fundo do lago. ;Ele (Júnior) agiu com negligência;, afirmou o delegado.

O IML liberou os corpos das irmãs, por volta das 17h de ontem. A primeira avaliação dos peritos aponta para afogamento. As certidões de óbito, porém, não vieram com as causas das mortes. É preciso esperar até 10 dias pelo resultado do laudo cadavérico. Um outro teste, este com material retirado das vísceras suprarrenais, pode dizer se as duas gastaram o estoque de adrenalina do corpo ou seja se houve luta pela sobrevivência e durante quanto tempo. ;Como os corpos ficaram três dias na água, fica difícil ter esse tipo de resposta pelo estado de decomposição;, afirmou o diretor do IML, Malthus Fonseca.

O trabalho dos peritos começou ao meio-dia. O primeiro passo foi identificar oficialmente os corpos, por meio das impressões digitais. Em seguida, os médicos fizeram exames radiográficos (para saber a situação dos ossos), ectoscópico (uma inspeção externa dos cadáveres) e interno ; para identificar as condições dos órgãos e cavidades, com enfoque para o sistema respiratório. Os corpos estavam em fase enfisematosa, um período de formação de gases. ;Ainda não tinham boiado porque estavam em uma profundidade muito grande (25m). Iam demorar mais um dia pra boiar;, concluiu o diretor do IML.

1 - Punição
A pena para homicídio culposo é de um a três anos. Já para o homicídio doloso (quando há a intenção de matar), o Código Penal Brasileiro prevê de 12 a 30 anos.

Resultado em até 20 dias
A perícia na lancha feita pelo Instituto de Criminalística deve ser concluída entre 15 e 20 dias. Será avaliado o sistema mecânico da embarcação, pois não está descartado que a bomba possa ter parado de funcionar, facilitando a entrada de água. O procedimento não mudará a tipificação penal no inquérito que o condutor responde, mas ajudará os investigadores a esclarecer a dinâmica da tragédia.

"A perícia agora vai mostrar os motivos do afundamento, o que nos ajudará a apontar os responsáveis"
Rogério Leite, delegado fluvial e comandante da Capitania dos Portos

O número
22 km/h

Velocidade que o condutor disse estar conduzindo a lancha no momento do acidente.
Com o lastro vazio, a embarcação pode chegar a 50km/h

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