Naira Trindade, Luiz Calcagno
postado em 26/05/2010 07:59
Mais de 80 horas depois do naufrágio da lancha que afundou com 11 pessoas a bordo, mergulhares do Corpo de Bombeiros conseguiram resgatar os corpos das irmãs Juliana Queiroz de Lira, 21, e Liliane,18, a 25 metros de profundidade no Lago Paranoá. As duas moradoras de Taguatinga morreram afogadas na madrugada do último sábado após embarcarem em uma aventura com outras nove numa embarcação que comportava apenas seis tripulantes. As jovens estavam desaparecidas desde o acidente. A recepcionista Juliana estava a 50m do ponto onde o barco foi encontrada na segunda-feira. A irmã dela, que trabalhava em um salão de beleza, foi localizada à 20m da embarcação.Ontem, o trabalho dos mergulhadores da Companhia de Salvamento Aquático do Corpo de Bombeiros começou cedo. O sol ainda não havia nascido quando os oficiais mapeavam os pontos onde iriam procurar as jovens.Por volta das 8h, a primeira dupla mergulhou num raio de 25m da lancha. Os serviços divididos por quadrantes seguiram até as 9h, quando a terceira equipe de mergulho obteve sucesso nas buscas. Juliana não estava presa a nada. ;Sabíamos que elas não estavam distantes porque essas duas vítimas não sabiam nadar. Por isso, fizemos um quadrado de 100m, dividido em quadrantes menores;, explicou o comandante de operações do Corpo de Bombeiros coronel Rogério Soares.
A água turva da região onde aconteceu o acidente dificultou a ação. ;Lá embaixo, é breu total. O trabalho é no tato. Os militares têm auxílio de lanternas que não alcançam mais de 2m de distância. O fundo do lago é irregular, tem muitas árvores, troncos, pedras e até carcaças de veículos da época da construção de Brasília. É um trabalho braçal, técnico e minucioso;, detalhou. Após a localização, os oficiais trouxeram o corpo à tona. O resgate não durou menos de 20 minutos. Rapidamente, os bombeiros retiraram-no da água e o levaram para o camburão do Instituto de Medicina Legal (IML), que aguardava no 1; Batalhão de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros, localizado na Vila Planalto.
Meia hora depois, o Corpo de Bombeiros retomou as buscas para encontrar Liliane Queiroz e um novo quadrante começou a ser explorado. As 9h45, o corpo foi encontrada. Como não estava preso, a retirada da água foi facilitada. ;A partir de um determinado momento, o corpo submerso sofre a ação de gases. Ele pode vir a tona após 48h, mas isso depende da temperatura da área e até da última refeição da vítima;, explicou o coronel Rogério Soares. No entanto, parentes de Liliane aguardaram mais tempo para sua retirada da superfície. O corpo boiou por cerca de 20min até que os bombeiros preparassem, nas margens, novamente o camburão do Instituto Médico Legal.
Segundo o comandante da operação, Rogério Soares, a intenção era encontrá-las o mais rapidamente possível para confortar os parentes. ;Com a nossa experiência, sabemos que encontrar os corpos significa muito para a família. Havia uma pequena possibilidade de encontrá-las com vida. Elas podiam estar machucadas às margens ou terem sido socorridas por alguém. Mas, com esse desfecho, os familiares vão ao menos dar um enterro digno a elas.;
"Sabíamos que elas não estavam distantes porque essas duas vítimas não sabiam nadar"
Rogério Soares, comandante de operações do Corpo de Bombeiros
Rogério Soares, comandante de operações do Corpo de Bombeiros
Lancha içada
O trabalho de retirada da lancha Front Roll, de 18 pés (cerca de 6m), afundada no sábado demandou mais tempo da equipe de resgate no último dia de operação no Lago Paranoá. Foram mais de três horas para rebocar a embarcação do local do acidente até o píer do 1; Batalhão dos Bombeiros. Para ser transportado, o barco precisou ser içado sob uma boia, denominada globo elevador. Depois de levado até o fundo do lago, o equipamento fez com que o barco flutuasse, mas não emergisse totalmente. Depois da operação, a lancha ficou ainda a três metros de profundidade. Troncos de árvores atrasaram o resgate, que terminou no fim da tarde de ontem.
Ainda submersa nas proximidades no batalhão, a lancha passou por mais uma perícia. Apesar de encontrada na segunda-feira, a lancha só pôde ser retirada na tarde de ontem após os bombeiros resgatarem os corpos das duas vítimas. A embarcação serviu como ponto de referência para uma busca mais precisa das vítimas. Os bombeiros levaram mais de 58 horas para encontrar o barco.
Uma garrafa de licor e uma lata de cerveja ainda permaneciam dentro da lancha, mesmo após ela ter sido transportada por mais de 2km. A chave do barco ainda estava na ignição. A perícia também encontrou um aparelho celular, um colete salva-vidas que estava preso ao banco do condutor, uma calça amarrada às hastes da capota e um aparelho de localização global (GPS). ;Nosso trabalho se encerra aqui. Entregamos a lancha para a Marinha e para a Polícia Civil, que vão trabalhar nas investigações;, afirmou o coronel Rogério Soares. A perícia deve ser finalizada hoje. (NT e LC)
Confira videorreportagem sobre o resgate das duas vítimas do naufrágio