Cidades

Equipamentos da Administração do Varjão são flagrados em obra particular em Sobradinho

postado em 26/05/2010 08:17
O único trator com pá mecânica a serviço da Administração Regional do Varjão passa mais tempo no Condomínio Império dos Nobres, em Sobradinho, do que na cidade carente de infraestrutura. O Correio constatou que pelo menos desde o último fim de semana o equipamento é usado para a construção de uma piscina em área particular. Tanto a máquina quanto os funcionários envolvidos na obra são vinculados a uma cooperativa contratada pelo órgão público para prestar serviços exclusivos nas ruas do Varjão, localidade próxima ao Lago Norte.

A reportagem flagrou veículos contratados por órgão público em área privada de condomínioO terreno, situado no Conjunto E da Quadra 4, abriga um sobrado, que chama a atenção pelo tamanho e o luxo. É onde fica a casa 19 do condomínio, hoje valorizada por conta de investimento público. Além da pá mecânica, um caminhão-caçamba é operado por mais dois funcionários também ligados à Cooperativa dos Caminhoneiros Autônomos de Carga e Passageiros (Coopercam). Às 11h30 de segunda-feira, os homens e o maquinário podiam ser vistos por qualquer visitante ou morador do conjunto de residências do Império dos Nobres.

O casal de proprietários do local disse à reportagem que contratou o serviço sem intermédio da Administração Regional do Varjão. Disse também ter um contrato firmado com a Coopercam, mas não mostrou o documento. ;Eles estão aqui porque são autônomos e vão receber pelo serviço;, explicou o dono do imóvel, que se identificou apenas como Enóquio. Em seguida, ameaçou a equipe de jornalistas do Correio Braziliense ao se dizer policial civil. Mesmo assim, não mostrou qualquer identificação da Polícia Civil do Distrito Federal.

A versão dele diverge ainda daquela contada pelo operador da pá mecânica. À reportagem, Inácio Bonfim da Silva revelou: ;Estou aqui a mando da Administração do Varjão;. O motorista do caminhão, porém, acabou repreendido pela mulher de Enóquio. O Correio voltou ontem ao condomínio de Sobradinho, mas os dois veículos não estavam mais no local. ;Eles saíram ontem (segunda-feira) mesmo;, limitou-se a dizer um funcionário do Império dos Nobres, que preferiu não se identificar por temer represálias.

Parentesco
A reportagem apurou que, apesar de os funcionários e os equipamentos pertencerem à Coopercam, só poderiam ser empregados com ordem do gerente de Manutenção e Conservação da Administração Regional do Varjão, Sandro Brito Eloi. Segundo alguns funcionários do órgão, que pediram para não ser identificados, a ordem teria partido de outra diretoria: a de Administração-Geral, sob o comando de Alexandre Santos Justino.

O imóvel localizado em Sobradinho seria inclusive de um parente desse servidor. Mas ele negou qualquer vínculo com os moradores responsáveis pela construção da piscina. ;Puxa, jamais faria isso. Principalmente agora que a administração é alvo de denúncias na imprensa;, alegou, referindo-se a fraudes na lista da Codhab supostamente cometidas por um servidor do órgão. Por telefone, ele argumentou que o maquinário usado no Império dos Nobres não seria o mesmo contratado pela administração. Mas os dois veículos continuavam estacionados no pátio da Administração Regional do Varjão. A administradora do Varjão, Luiza Helena Werneck, evitou comentários sobre o crime(1).

Já o presidente da Coopercam, Edmar Sousa, afirmou que tanto os funcionários como o equipamento só fazem serviços a mando da administração. ;Quem dá a ordem para se realizar qualquer serviço é o órgão. Nós proibimos que qualquer funcionário ou máquina entre sequer em área particular. Se houve a irregularidade, é rolo da administração;, defendeu. Enquanto isso, 175 famílias instaladas provisoriamente na área de transição da Quadra 11, no Varjão, sofrem com a falta de infraestrutura. Vivem, por exemplo, em meio a entulho, lixo e ruas sem asfalto.


1 - Caso de polícia
Utilizar recursos humanos e materiais públicos é considerado crime de prevaricação, segundo o Código Penal Brasileiro. Se condenados, os responsáveis podem pegar de três meses a um ano de prisão. Ainda de acordo com o código, a falha pode representar tráfico de influência, cuja pena varia de dois a cinco anos de reclusão.

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