Helena Mader
postado em 26/05/2010 08:42
Michele saiu para encontrar amigos e nunca mais voltou para casa. Paulo Henrique foi à padaria comprar leite, como fazia diariamente, mas desapareceu misteriosamente. Delson estava em uma feira com o pai e os irmãos quando foi levado por uma desconhecida. Sara fugiu de um abrigo em Taguatinga em 2001 e, nove anos depois, ninguém ainda conseguiu localizá-la. Essas quatro histórias são uma amostra do drama de crianças e de adolescentes desaparecidos em Brasília. Hoje, 57 meninos e meninas têm paradeiro desconhecido. Inconformadas, as famílias não perdem as esperanças de reencontrá-los com vida.O Distrito Federal lembrou ontem o Dia Internacional da Criança Desaparecida com um seminário realizado no Centro de Convenções e também com um grande evento ao lado da Rodoviária do Plano Piloto. Funcionários da assistência social do governo e familiares dos desaparecidos soltaram balões com imagens de todas as crianças e jovens que sumiram nos últimos anos. Eles também discutiram as formas corretas de agir diante de casos de desaparecimento. De acordo com especialistas, é preciso pedir ajuda e registrar ocorrência rapidamente, já que mais de 50% dos casos são solucionados nos primeiros sete dias.
A dona de casa Sirley Marciano Ribeiro, 39 anos, conhece bem o cotidiano das famílias que buscam seus filhos. O caçula, Rickheslley Ribeiro da Nóbrega, desapareceu em 10 de outubro de 2005, aos 14 anos. Saiu de casa cedo, vestido de bermuda e camiseta e calçando tênis. Disse que voltaria para almoçar por volta do meio-dia, mas sumiu sem deixar nenhum rastro. A bicicleta e o celular que ele usava no dia do sumiço nunca apareceram.
Rick, como era conhecido, trabalhava em um lava a jato no Riacho Fundo I, a 150m de onde morava. ;Não entendo como ninguém viu nada, é uma angústia muito grande ficar sem notícias. Queria pelo menos entender o que aconteceu;, contou Sirley. ;Meu filho cresceu longe de mim. Deve estar agora com 19 anos;, acrescentou a dona de casa, que acredita na possibilidade de ainda reencontrar o jovem.
Mães de Luziânia
Entre os desaparecidos do Distrito Federal, 34% são meninas e 66%, meninos. Ceilândia reúne 20% dos casos e é hoje a região administrativa com maior número de desaparecimentos. Somente na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), foram 296 registros em 2009. Mas, desses casos, 241 foram solucionados ainda no ano passado. Entre os encontrados, 17% relataram estar com amigos, 16% sumiram por conta de conflitos familiares e 22% confessaram ter fugido.
As mães dos adolescentes mortos em Luziânia (GO) também participaram do seminário. Elas viveram durante mais de cinco meses a angústia de ter um filho desaparecido. Sônia Vieira de Azevedo Lima, 45 anos, mãe de Paulo Victor, 16 anos, revelou que o grupo compareceu ao encontro para dar apoio às outras famílias que hoje enfrentam essa situação. ;A gente sabe bem como é difícil viver nessa angústia, sem ter nenhuma notícia. Então viemos para dar um apoio e incentivar a criação de medidas que possam facilitar as autoridades a encontrarem essas crianças e adolescentes;, justificou dona Sônia.
O secretário adjunto de Desenvolvimento Social do DF, Carlos Carvalho, explicou que o objetivo do evento realizado ontem no Conjunto Nacional foi chamar a atenção da sociedade sobre como proceder em casos de desaparecimento. ;Quanto mais rápido é feito o registro do caso, maiores são as chances de encontrar a criança ou o adolescente desaparecido;, ensinou. ;É preciso que haja uma rede de apoio às famílias, além do trabalho de investigação policial;, defendeu.
Durante a manhã, participaram do evento no Centro de Convenções a delegada-chefe da DPCA, Gláucia Ésper, o deputado federal Geraldo Thadeu (PPS), que participa da CPI dos Desaparecidos, além de representantes da Secretaria de Desenvolvimento Social do DF e da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República.
Como agir
; Caso esteja sozinho, peça imediatamente ajuda para auxiliar nas buscas e acionar rapidamente a polícia;
; Comunique imediatamente à segurança de um determinado local para que sejam tomadas as medidas pertinentes, como controlar as saídas;
; Em caso de eventos, dirija-se ao palco ou à sala de controle do som, para que possam anunciar o sumiço;
; Mantenha alguém no local onde a criança ou o adolescente foi visto pela última vez, pois poderá retornar ao mesmo lugar;
; Procure em locais onde a criança ou o adolescente provavelmente iria (áreas de interesse, como, por exemplo, lanchonete e parquinho);
; Informar rapidamente a polícia. Não existe prazo para comunicar o desaparecimento. As primeiras horas após o desaparecimento são decisivas para a localização e proteção do seu filho;
; Avise o desaparecimento aos amigos e parentes o mais rápido possível, principalmente os de endereço conhecido pela criança;
; Percorra os locais de preferência do desaparecido e faça contato com a escola e seus amigos, para verificar se eles estão juntos;
; Caso possua acesso à internet, informe por e-mail sobre o desaparecimento da criança ou do adolescente o mais rápido possível, disponibilizando foto atual do desaparecido e descrevendo a vestimenta usada. O e-mail pode ser enviado para o endereço de e-mail do Núcleo de Atendimento às Famílias de Pessoas Desaparecidas (desaparecidos@sedest.df.gov.br).