Helena Mader
postado em 28/05/2010 09:17
Depois do 13; caso de suicídio no Pátio Brasil, registrado no último domingo, a Justiça autorizou a administração do centro comercial a concluir as obras de fechamento da área externa. A construção começou em março deste ano, mas foi embargada pela Administração de Brasília. Como os recursos administrativos apresentados ao governo não surtiram efeito, o shopping recorreu ao Tribunal de Justiça do DF. Na última segunda-feira, a 8; Vara de Fazenda Pública determinou a suspensão do embargo e a retomada imediata das construções.
Antes do embargo, os funcionários tiveram tempo apenas de cobrir parte da varanda com uma estrutura metálica. Com a paralisação, as chapas e o material de construção permanecem no local, expostos à chuva e ao sol. A proteção de ferro que antes protegia o parapeito foi removida, deixando a área ainda mais perigosa. Apesar do controle feito por seguranças, é impossível impedir completamente o acesso. Às 15h54 do último domingo, um homem de 56 anos se jogou da sacada, depois de atravessar tranquilamente os corredores do shopping. Foi o primeiro caso desde março do ano passado e também o único registrado depois do fechamento do vão central. Pai de dois filhos menores de idade, ele sofria de depressão e tomava medicamentos controlados, segundo depoimentos de sua mulher à 5; Delegacia de Polícia (área central de Brasília).
Na decisão em que liberou a continuidade das obras no Pátio Brasil, o juiz Donizeti Aparecido da Silva chamou a Administração de Brasília de ;omissa; no caso do embargo. ;A administração sequer ofertou as imprescindíveis informações acerca da situação do processo administrativo, colimando (visando à) a expedição da licença para a execução das obras, e, por consequência, ignorada a motivação da sua inércia.;
O magistrado afirmou ainda que a administração não pode ;se omitir da sua obrigação, albergada por uma burocracia desmedida e irresponsável;. Para o juiz, a retomada das obras com urgência é importante, ;pois suicídios continuam acontecendo, sem providência alguma do poder público, situação com a qual não é permitido ao Judiciário compactuar;.
Cronograma alterado
Antes do embargo, o cronograma das obras previa término em 10 de maio. Como as equipes foram dispensadas, toda a logística terá que ser repensada e será preciso fazer um novo calendário para a construção. O superintendente do Pátio Brasil, Leonel Taffarel, explica que a expectativa é retomar a obra o mais rápido possível, possivelmente já na semana que vem. ;Lamentamos muito a inércia do governo nesse caso, que acabou custando mais uma vida. Mas com a decisão da Justiça, poderemos retomar a construção rapidamente. Não queremos que haja mais nenhuma morte;, afirma.
Além do objetivo de poupar vidas, o shopping também não quer mais ver seu nome envolvido com casos de suicídio. Na tarde da última quarta-feira, uma senhora foi à administração do Pátio Brasil, que fica no começo da Asa Sul, cobrar providências para evitar novas ocorrências como essa. Ela recebeu um e-mail com relatos do ocorrido no último domingo e resolveu saber o que está sendo feito para coibir mais mortes. Uma funcionária da administração informou à cliente sobre as obras e sobre o fechamento da área externa.
"Com a decisão da Justiça, poderemos retomar a construção rapidamente. Não queremos que haja mais nenhuma morte"
Leonel Taffarel, superintendente do Pátio Brasil
Leonel Taffarel, superintendente do Pátio Brasil
GDF aponta falta de licença
O embargo da construção no Pátio Brasil foi executado pela Agência de Fiscalização do GDF, por determinação da Administração de Brasília. A assessoria de imprensa da administração informou que o projeto de engenharia do shopping só havia sido aprovado ;preliminarmente; e destacou que o centro comercial não poderia começar a construção antes da emissão da licença e do alvará. A Administração de Brasília disse ainda que a obra foi embargada porque a construção ocuparia espaço público aéreo maior do que o previsto na legislação.
O superintendente do Pátio Brasil, Leonel Taffarel, nega a informação. Ele garante que a aprovação foi definitiva e mostra os documentos com o carimbo da Administração de Brasília. ;Não foi feita nenhuma exigência, nada. Recebemos os projetos com o carimbo de aprovação e começamos as obras. Nada foi feito sem o aval do governo. Por isso, ficamos surpresos com o embargo e recorremos à Justiça;, afirma Taffarel.
Questionamento
Antes da decisão judicial, a interdição da construção do Pátio Brasil foi questionada também pelo Ministério Público. No último dia 20, quatro dias antes de o shopping obter liminar favorável, a procuradora distrital dos Direitos do Cidadão, Maria Anaídes do Vale Siqueira Soub, enviou um ofício à Administração de Brasília pedindo informações sobre o caso e determinando que os técnicos do governo apresentassem sugestões para alterações do projeto do shopping, de forma a adequá-lo à legislação. (HM)
Memória
Reação após reportagem
As obras de revitalização do Pátio Brasil começaram em junho do ano passado, um mês depois de o Correio publicar reportagem sobre os recorrentes suicídios no local. A matéria foi motivada por um caso ocorrido em março de 2009. Pedro Lucas, de 21 anos, se jogou do quarto piso na manhã do dia 9 daquele mês, logo depois da abertura do centro comercial. Em carta encaminhada à Superintendência do Pátio Brasil, o pai do jovem fez um apelo emocionado pedindo providências para que não houvesse outras mortes. Desde a inauguração, já tinham sido registradas 12 ocorrências de suicídio no local. Com o caso do último domingo já são 13.
Depois da reportagem do Correio, o desembargador do Tribunal de Justiça do DF e Territórios Roberval Casemiro Belinati provocou o Ministério Público a intervir na situação e exigir do shopping medidas concretas para evitar novos casos. Em 6 de junho do ano passado, o shopping começou as obras, cuja principal mudança consistiu no fechamento do vão central. (HM)