postado em 29/05/2010 07:27
Seis dias após o naufrágio da lancha Front Roll no Lago Paranoá, que resultou na morte de Liliane Queiroz de Lira, 18 anos, e Juliana Queiroz de Lira, 21, a jovem Rita de Cássia Queiroz, 26, irmã das vítimas, prestou depoimento na 9; Delegacia de Polícia (Lago Norte). Muito abatida e sob efeito de calmantes, Rita chegou na unidade policial pontualmente às 16h. Ela estava acompanhada de três familiares e não quis falar com a imprensa.No depoimento que durou duas horas, ela confirmou que os 11 tripulantes do barco ingeriram bebida alcoólica, inclusive o técnico em informática José da Costa Júnior, 33 anos, que pilotava a lancha. De acordo com Rita, o piloto teria comentando com os demais que estava bebendo desde às 15h do dia anterior ao acidente. Durante o passeio, José também teria transferido a pilotagem do barco para o arte-finalista Hugo Antunes Almeida, 23 anos.
Bebida
Em entrevista ao Correio, José da Costa negou que estivesse ingerindo bebida alcoólica desde o horário informado pela jovem. ;Nesse horário, eu estava no trabalho e tenho como provar isso. Às 17h30, bebi só uma cerveja, mas, no barco, foi só energético;, disse. O teste do bafômetro constatou 0,15 miligrama de álcool por litro de ar expelido dos pulmões. ;O teste que eu fiz fala tudo. Não me recusei em momento algum a fazer o teste. Se tivesse alcoolizado eu nem iria fazer porque não sou obrigado a produzir provas contra mim mesmo.;
O depoimento de Rita durou duas horas. Conforme o delegado-chefe da 9; DP, Silvério Moita, ela relatou que dormia na hora do acidente e que acordou com o barulho da lancha afundando e, em seguida, ficou inconsciente. ;Ela não soube dizer como conseguiu sobreviver na água sem saber nadar até a chegada dos bombeiros. Foi um verdadeiro milagre;, acredita o delegado. A vítima também relatou que chegou a perguntar pelos coletes salva-vidas a um colega que estava na lancha. ;Alguém disse para a Rita que ela não precisava se preocupar porque no barco tinha quatro homens que poderiam salvá-las caso algo acontecesse;, revelou Silvério.
O depoimento da irmã das jovens que morreram afogadas, entretanto, não alterou a situação do piloto, que vai responder pelo crime de homicídio culposo (quando não há intenção de matar), cuja pena varia de um a três anos de reclusão. Segundo o delegado, os detalhes contados pela jovem apenas reforçam as suspeitas de que o acidente foi causado por imprudência e negligência por parte do piloto.
Sem fome
Rita compareceu à delegacia acompanhada do irmão Ariomar Queiroz de Lira, 24 anos, do cunhado Tales Rodrigues Serra, 26, e da mãe de Tales, que preferiu não se identificar. Segundo Ariomar, toda a família está preocupada com o estado de saúde da jovem, que não tem se alimentado. Durante todo o dia de ontem, ela ingeriu apenas água de coco. ;Ela se sente culpada por não ter conseguido salvar as irmãs, mas a gente tem dado força. Somos muito unidos e está sendo muito difícil para todo mundo suportar a dor de não ter as duas (Liliane e Juliana) por perto. Todo canto da casa lembra elas. A gente não está conseguindo morar lá, acho que vamos nos mudar;, disse Ariomar.
Simulação do acidente
O delegado responsável pelo caso solicitou à Marinha informações sobre a regularidade da lancha, sobre a habilitação do piloto, bem como se a embarcação do tipo Front Roll tinha autorização para navegar à noite. ;Precisamos que todas essas informações estejam no inquérito para oferecer a denúncia ao Ministério Público;, destacou Silvério Moita, que também aguarda o resultado da perícia feita no barco e o laudo cadavérico das irmãs Liliane e Juliana Queiroz .
[SAIBAMAIS]Para concluir o exame, o Instituto de Criminalística (IC) pretende primeiro analisar a parte mecânica do barco, como o funcionamento do motor, das bombas e lastros. Em seguida, os peritos poderão fazer uma simulação da dinâmica do acidente. É provável que, nos próximos dias, a lancha seja colocada novamente no Lago Paranoá, com a mesma quantidade e peso dos tripulantes que estavam na lancha. Isso poderá ajudar no entendimento do que pode ter dado errado na hora do passeio e indicar se o excesso de peso foi determinante para a embarcação afundar. ;Eu tenho convicção de que o excesso de passageiros foi o que causou o acidente, mas se a perícia trouxer esses dados, eles servirão como prova;, destacou. ;Tenho quase certeza que a quantidade de pessoas não foi determinante para o acidente, mas o laudo poderá dizer;, defendeu-se o piloto José da Costa.
Para fazer a perícia, a Polícia Civil também tem utilizado um scanner, equipamento de última geração que permite a reprodução de um modelo virtual da embarcação, equivalente a uma foto ampliada em três dimensões.