Cidades

Muita gente desafia os perigos do Lago Paranoá

postado em 30/05/2010 08:13
As armadilhas do Lago Paranoá parecem não intimidar um grupo de amigos moradores do Cruzeiro. Na tarde da última sexta-feira, eles nadavam desenvoltos próximo ao píer da Concha Acústica, davam piruetas em trampolins improvisados e pareciam despreocupados com o fato de uma embarcação passar por perto, mas negaram as estripulias flagradas. ;Nos nadamos aqui pertinho. Já soubemos de vários casos de gente que morreu afogada tentando atravessar o lago. Não dá para arriscar;, disse o estudante Luciano Telles de Brito, 18 anos, que estava acompanhado de outros quatro colegas.

O também estudante David Costa, 21, reconhece que já passou um pouco dos limites, mas diz confiar em sua habilidade com a natação. ;Nunca é bom exagerar muito, nadar muito para longe, mas eu nado bem e acho que não passaria por uma situação de me afogar.;

Para o comandante do 1; Batalhão de Busca e Salvamento, tenente-coronel Williman Costa da Silva, a maioria dos resgates que o Corpo de Bombeiros faz é quando os banhistas extrapolam os limites. ;É comum resgatarmos vítimas de afogamentos que estavam sob efeito de bebida alcoólica. Não queremos impedir ninguém de usufruir do lago, mas pedimos que sejam mais prudentes. Quer nadar, faça isso às margens do lago, porque se passar mal, ou sentir uma cãibra, conseguirá voltar com segurança para a superfície;, orientou o oficial.

Danos
A poucos metros de onde os garotos se divertiam, três carros eram lavados por seus donos com a água do lago. Eles não tinham nem a preocupação de evitar que o sabão escorresse para a margem. Um dos jovens que estava no píer da Concha Acústica confessou que também lava o seu veículo no local e disse que isso é rotina. ;É comum e não acho que estou prejudicando o meio ambiente. É uma quantidade mínima de sujeira que cai ali lavando o carro. O lago é muito grande, não ficará afetado por conta disso;, alegou Henrique de Azevedo, 20 anos.

Fiscalização intensificada
Nos fins de semana, mais de 300 embarcações navegam pelo Lago Paranoá. São jovens, crianças e adultos que transformam o passeio de lancha em lazer, com muita adrenalina e diversão. Mas todo cuidado é pouco. Na semana passada, as irmãs Liliane Queiroz de Lira, 21 anos, e Juliana Queiroz de Lira, 18, morreram após o naufrágio de um barco que estava com excesso de passageiros, além de outras irregularidades, como a falta de coletes salva-vidas. Para fazer uma navegação tranquila, a Federação Náutica de Brasília alerta que é imprescindível levar em consideração todos os cuidados de segurança estabelecidos pelas leis marítimas (veja quadro).

Com o acidente no Lago Paranoá, a Marinha aumentou a fiscalização nas embarcações que navegam diariamente pelo local. Em vez dos habituais 26 fiscais, 40 agentes estavam espalhados ontem para identificar condutores embriagados e para cobrar documentação e equipamentos obrigatórios, como coletes, extintores de incêndio e boias. A Marinha, porém, não encontrou ninguém cometendo irregularidades graves. Dois pilotos foram autuados por não estarem com documentação na hora da abordagem e porque tinham um comprovante de seguro obrigatório vencido. A multa, dependendo da infração, varia de R$ 40 a R$ 3 mil.

Para garantir a segurança dos proprietários de embarcações e seus convidados, o Iate Clube de Brasília, que abriga a maior frota de embarcações do Distrito Federal, promoveu uma ação educativa com a finalidade de alertar sobre a utilização dos itens de segurança. Antes de entrar na água, as lanchas passaram por uma vistoria e somente aqueles que estavam com documentação completa foram autorizados a navegar.

Exemplo
A prática de rotina serve de exemplo para quem quer fazer um passeio seguro. Há oito anos, o economista Gil Castello Branco, 58 anos, não abre mão de passar algumas horas de lazer ao lado da mulher, a empresária Maria Gabriela Coelho, 58. Mas o casal diz que ainda falta fiscalização. ;É comum encontrar barcos sem sinalizador à noite. Isso representa um risco para todos;, ressaltou Gil. ;Nos últimos oito anos, se fomos parados duas vezes, foi muito;, emendou Gabriela.

Segundo o presidente da Federação Náutica de Brasília, Marcos Carreira, os riscos de velejar são os mesmos de dirigir. ;O lago, em certos momentos, é até mais perigoso do que uma rodovia. Cada vez que um acidente acontece é um alerta para todo mundo de que é preciso ter responsabilidade e cuidado redobrado;, defendeu. A quantidade de passageiros na lancha Front Roll que afundou no último sábado chamou a atenção dos velejadores mais experientes. Ao todo, 11 tripulantes estavam no barco, quando o permitido pelo fabricante eram apenas seis pessoas. A polícia aguarda os laudos da perícia feita na lancha e o resultado dos laudos cadavéricos feitos em Juliana e Liliane para apontar as causas do acidente. Amanhã, a 9; Delegacia de Polícia (Lago Norte) pretende ouvir o depoimento de outras duas pessoas que estavam em uma casa da QL 15, onde os passageiros participavam de um churrasco horas antes do naufrágio.

Regras para navegar com segurança
O trabalho dos fiscais é rotineiro, mas as equipes intensificam o controle nos fins de semana. Confira quais são os itens obrigatórios, verificados pela Marinha:

Embarcações de pequeno porte (até 5m de comprimento)

; Bilhete de seguro obrigatório ; DPEM
; Habilitação (veleiro, Arrais ou motonauta, conforme tipo de embarcação)
; Coletes salva-vidas
; Luz de navegação (em passeio noturno)
; Marcações no casco (nome nos dois bordos, porto e número de inscrição)
; Termo de responsabilidade
; Título de inscrição

Médio porte (entre 5m e 24m)

; Âncora (com no mínimo 20m de cabo ou amarra)
; Apito
; Bilhete de seguro obrigatório ; DPEM
; Boia salva-vidas
; Coletes salva-vidas
; Extintor de incêndio
; Arrais amador (habilitação mínima)
; Lanterna elétrica
; Luzes de navegação
; Marcações no casco (nome nos dois bordos, porto e número de inscrição)
; Materiais e medicamentos de primeiros socorros (a partir de 15 pessoas a bordo)
; Título de inscrição
; Vistoria inicial
; Artefatos pirotécnicos (para sinal de alerta em caso de problemas durante a navegação)

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