Ana Maria Campos
postado em 30/05/2010 08:17
Sem apontar abertamente que caminho o PMDB deve seguir nas eleições de outubro, Rogério Rosso dá sinais de sua preferência. Garante que a prioridade de seu partido deve ser governar. A legenda vive uma encruzilhada a ser definida na convenção marcada para 19 de junho, quando decidirá se lançará candidato próprio ao Executivo ou se optará por uma coligação com o PT na qual indicaria o vice. O governador do Distrito Federal afirma que os desafios de administrar uma unidade da Federação herdada em meio ao caos provocado pela Operação Caixa de Pandora não deixam espaço para pensar em outubro. E desconversa quando o tema eleitoral vem à baila.Rosso sustenta que persegue como meta principal o equilíbrio fiscal para entregar o governo em 31 de dezembro sem dívidas. Mas ele também quer deixar a sua marca. Deu continuidade às obras, embora saiba que essas já têm a cara de seus antecessores, Joaquim Roriz (PSC) e José Roberto Arruda (sem partido). Elegeu a saúde o setor para tentar mostrar resultados concretos. Uma de suas preocupações é enfrentar o ano eleitoral com uma base na Câmara Legislativa voltada para as urnas. A mudança nos critérios para o passe livre estudantil está entre os temas de destaque a serem discutidos na Casa. Para Rosso, a lei que criou o programa deu origem a um saco sem fundo de recursos públicos que precisa ser contido sob pena de atrapalhar outros projetos.
O governador recebeu o Correio na residência oficial de Águas Claras. Músico, ele ainda consegue reservar alguns minutos por dia para tocar ; uma forma de driblar o estresse. A seguir, um ponto a ponto com Rogério Rosso:
40 dias de trabalho
;Não tivemos tempo de fazer transição. Tomamos posse e começamos a encarar os problemas do GDF. Não pudemos deixar o governo parar e tivemos de planejar ações, além de manter o controle fiscal onde é necessário acompanhamento rígido. Ainda fizemos readequação da estrutura administrativa, sem deixar de dar prosseguimento às obras.;
Extinção da Brasiliatur
;A empresa foi criada para ser focada no turismo, mas passou a ser uma empresa de shows e festas, com uma estrutura muito cara de pessoal. Espetáculos e grandes eventos devem ser organizados pela Secretaria de Cultura e com prioridade para artistas locais. A Brasiliatur tinha de cuidar do receptivo e da infraestrutura turística e fortalecer a vocação de Brasília, que é o turismo de eventos e de negócios. Por isso, extingui a empresa e recriei a Secretaria de Turismo.;
Pedetista na Educação
;Foi uma escolha pessoal minha. Conheci o Marcelo Aguiar nesse período de governo (Arruda) e nos tornamos amigos. Ele tem uma visão fantástica de educação integral. Não convidei o partido. Convidei o Marcelo, pelo histórico do trabalho. Ele é do PDT, mas poderia ser do PMDB, do PT ou de qualquer outro partido.;
Fim da pasta de Habitação
;Todo projeto habitacional exige um projeto urbanístico antes. É uma área muito técnica. Por isso, esse setor sempre foi vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Urbano, com braço operacional na Codhab (antigo
Idhab). Na minha opinião, a Secretaria de Habitação não tinha por que existir. Havia indicações políticas. Mas também pessoas técnicas que foram reaproveitadas.;
Partilha de cargos
;Acontece com o governador, o prefeito, o presidente da República, o presidente dos Estados Unidos. Os poderes Executivo e Legislativo têm de funcionar em harmonia porque senão o Executivo não consegue exercer na plenitude as suas funções, pelo conjunto de leis que precisa aprovar. A composição política é natural e faz parte da democracia. Mas numa área técnica pode haver indicação política desde que a pessoa trabalhe em prol do objetivo daquela pasta.;
Desafio
;Nosso desafio é deixar para a próxima legislatura um governo equilibrado, dentro das regras da responsabilidade fiscal. É conseguir terminar o conjunto de obras sem precisar interromper programas sociais.;
Relação com a Câmara
;Conseguimos aprovar projeto que tem interesse gigantesco, que é o crédito para o passe livre, inclusive com os votos do PT. E para equilibrar as contas do governo, vou precisar muito do apoio dos deputados. Encaminhei para a Câmara um conjunto de projetos, que chamo de pacote fiscal, que vai de remissão de dívidas a extensão do prazo de pagamentos. Esse pacote é uma política fiscal com alteração permanente de regras, não apenas por um período, como o
Refaz. Nossa expectativa é arrecadar R$ 230 milhões até o fim do ano.;
Passe livre
;A lei vigente transformou o programa num saco sem fundo. No início do ano, o governo tinha uma previsão de subsídio de R$ 4,3 milhões por mês. Estamos chegando a R$ 12 milhões e crescendo. Mandamos um projeto de lei para a Câmara. Estamos discutindo a melhor forma de equacionar esse problema e dentro disso está a alteração de cláusulas da lei. Colocar os empresários para gerenciar o próprio sistema de transporte, eu não concordo. E entendo também que devemos criar um limitador social para o beneficiário, de renda de três salários mínimos.;
Suspeita de propina
;Essa questão (denúncia de que os distritais receberam propina para ampliar o passe livre para portadores de deficiência) está sendo investigada pelo Ministério Público e vamos aguardar as conclusões. Minha responsabilidade é mostrar para a sociedade que, da forma como foi aprovada a Lei do Passe Livre, o governo vai acabar gastando R$ 200 milhões por ano e vamos ter de tirar de obras. Por isso, precisamos mudar a lei.;
Saúde pública
;A saúde é nossa prioridade política, orçamentária e financeira. Os últimos governos deram prioridade a obras. Mas saúde é o ponto em que mais precisamos evoluir. Quando temos desabastecimentos de medicamentos, há dois problemas: não há dinheiro ou se compra mal. Diria que não falta dinheiro para remédios. Se há uma crise de abastecimento, precisamos melhorar a compra. Outro problema é que os diretores de hospitais precisavam se preocupar com o dia a dia, com coisas básicas, como a falta de uma lâmpada que ficava sob a responsabilidade da Secretaria, já tão atolada de problemas. Agora, descentralizamos o orçamento, demos autonomia aos hospitais. Fizemos também um convênio com os Correios, para entrega de medicamentos. E estamos chamando médicos e outros profissionais concursados.;
Corrida às urnas
;Nossa prioridade é governar com olhos em 31 de dezembro, não em outubro. Prefiro pensar em fazer o melhor que puder. Estamos a pouco tempo das convenções, mas estou fora da questão eleitoral. Espero que os deputados, independentemente da formação majoritária das chapas, compreendam que os projetos que serão enviados para a Câmara são essenciais para que Brasília volte à normalidade. Estamos entregando obras sem festas e foguetórios, justamente para evitar uma associação político-eleitoral.;
Opções do PMDB
;O PMDB é o maior partido do Brasil. Aqui, pode se coligar ou não para as eleições. O partido tem quadros e experiência para ter candidato próprio. A convenção vai decidir. Não gostaria de dizer para qual caminho o PMDB deve tender. Nossa prioridade é governar.;
Intervenção
;Respeito a posição do procurador-geral da República e também a dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Compete ao STF julgar a intervenção. O que nos cabe é governar da forma mais transparente. Lançamos o Portal da Transparência e tudo o que podemos fazer em relação a órgãos de fiscalização e controle estamos fazendo. Entendo que o DF está no rumo da normalidade.;
Caixa de Pandora
;O Inquérito n; 650 está em curso, a investigação está sendo feita. Da nossa parte, a qualquer foco de problema, agimos imediatamente. Exemplifico: o Metrô. Houve uma operação no órgão já na nossa gestão, mas relacionada a problemas anteriores, e afastamos toda a diretoria do Metrô imediatamente. E assim será. O governo está aberto a disponibilizar todas as informações para ajudar nas investigações. E estamos fazendo auditorias em todos os contratos suspeitos.;
Cassação de Eurides
;Esse é um assunto que não compete ao governador e sim à Câmara Legislativa. Qualquer decisão dos deputados distritais será respeitada.;