postado em 30/05/2010 08:33
As despesas com alimentação e habitação puxaram o custo de vida no Distrito Federal no primeiro quadrimestre deste ano. De janeiro a abril, os gastos do brasiliense com os alimentos subiram 4,78%, e, com moradia, 3,28%, segundo a inflação acumulada medida pela pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta dos produtos alimentícios foi quase quatro vezes superior à registrada no mesmo período de 2009, quando a inflação para o item ficou em 1,47%. O aumento nos custos da habitação também deu um salto, ficando quase três vezes à frente da variação de 1,72% em igual intervalo de tempo no ano passado. A inflação geral no DF cravou 1,85% de variação positiva nos quatro primeiros meses do ano, abaixo da média nacional, que ficou em 2,65%.Com relação à alimentação, o comportamento do IPCA no DF reproduziu o que aconteceu no cenário nacional. No Brasil, os alimentos também foram o item que mais encareceu o custo de vida no primeiro quadrimestre de 2010, subindo 5,19% de janeiro a abril. No caso da habitação, o movimento de alta no DF foi atípico, já que a inflação acumulada do primeiro quadrimestre no país ficou em um patamar moderado, de 0,99%, bem abaixo do registrado localmente.
O feijão-carioca (alta de 49,42%), a batata-inglesa (aumento de 41,38%), o tomate (31,47%), o açúcar (alta de 30,18%) e o leite (aumento de 24,14%) encabeçaram o encarecimento dos gêneros alimentícios na capital federal. Os mesmos produtos tiveram oscilações fortes de preços em todo o país. O feijão subiu 73% na média nacional do IPCA. O tomate, 57,62% e a batata, 45,38%. O preço do açúcar aumentou 26,19% de janeiro a abril e o do leite, 21,59%.
A gerente de pesquisa do IBGE, Irene Maria Machado, explica que questões climáticas e de conjuntura econômica foram responsáveis pelo custo maior desses produtos nas unidades da Federação em geral. ;Os alimentos puxaram a inflação por toda a parte nos meses iniciais do ano;, afirma.
Entressafra
No caso do tomate, fortes chuvas nas regiões Sul e Sudeste prejudicaram a safra e causaram escassez do produto. O período chuvoso também afetou a produtividade do feijão e da batata em 2010. Além disso, houve redução da área plantada do grão este ano por excesso de oferta em 2009, o que contribuiu ainda mais para o custo mais salgado. O açúcar foi afetado pelo alto volume de exportações e o leite, por fim, está em período de entressafra e com os preços em processo de recuperação após uma baixa no fim do ano passado.
A dona de casa Maria Célia Vieira dos Santos, 69 anos, sentiu no bolso a alta nos gastos com alimentação este ano. Ela diz que a família não dispensa a presença de frutas e verduras no cardápio, e que os preços elevados desses itens a obrigam a estar constantemente buscando por promoções. ;Só compro a fruta ou o vegetal da época, ou com preço promocional, senão sai muito caro;, comenta. O IPCA acumulado até abril registrou uma alta de 6,59% no valor das frutas no DF.
A técnica em enfermagem Sandra Aparecida de Castro, 56 anos, se diz assustada com o aumento no custo de alguns produtos específicos, indispensáveis na compra do mês, como o leite e o açúcar. ;Tem algumas coisas que não dá para substituir, então não há saída senão aumentar nosso gasto;, afirma.
Se o preço dos alimentos no primeiro quadrimestre subiu no DF por razões que afetaram os mercados em todo o país, particularidades do mercado local ; como aquecimento acentuado da atividade da construção civil, com valorização de terrenos e imóveis ; podem ter contribuído para o custo maior da habitação. O principal responsável pelo aumento das despesas com moradia em Brasília e região foi o aluguel residencial, que subiu 5,46% no período. A alta ficou acima do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), indicador da Fundação Getulio Vargas (FGV) usado pela maioria das imobiliárias para calcular o reajuste dos contratos. A variação do IGP-M no primeiro quadrimestre de 2010 ficou em 3,56%. No país, o aumento do aluguel residencial foi de apenas1,63%.
O servidor público Ricardo de Mendonça Costa, 48 anos, mora em imóvel alugado no DF há 11 anos. A alta do aluguel residencial captada pelo IPCA em Brasília e demais cidades, no entanto, não foi sentida por ele. ;Fiz melhorias no apartamento e, por isso, consegui negociar com o locatário para manter o preço;, conta.
Gastos públicos
Para o economista Adolfo Sachsida, professor da Universidade Católica de Brasília (UCB), os dados da inflação no país e no DF refletem, em parte, realidades de mercado, sejam elas locais ou mais abrangentes. Para Sachsida, no entanto, deve-se observar o aumento no custo de vida dos brasileiros em 2010 sob uma ótica ainda mais ampla.
;Os gastos públicos vêm em uma trajetória ascendente no Brasil desde 2007. O governo federal está liberando muito crédito e gastando muito. Nos meses finais de 2008 e início de 2009, na tentativa de manter a economia aquecida durante a crise, ele intensificou essa política(1) de colocar dinheiro no mercado. Isso que estamos vivendo hoje, de inflação em alta, é reflexo de irresponsabilidade fiscal;, afirmou o professor.
Na opinião dele, os preços no país devem continuar em movimento ascendente, uma vez que a tendência é de continuidade dessa orientação governamental de gastos elevados. ;As previsões são de que o país fechará o ano com uma inflação alta, no patamar de 6%. Ficará dentro da meta do governo, mas perto de estourar a margem de desvio;, destaca. A meta de inflação do governo federal para 2010 é de 4,5% , com dois pontos percentuais de desvio.
Estratégias
O aumento da oferta de crédito e dos gastos públicos são estratégias comuns de combate à ameaça de estagnação da atividade econômica. Crises na economia deixam os consumidores inseguros e cautelosos. Como eles deixam de comprar e assumir compromissos financeiros, há um desaquecimento que atinge o desempenho das empresas e pode aprofundar a convulsão econômica de um país. Para evitar que isso aconteça, os governos podem fazer mais compras, elevando a quantidade de moeda em circulação, e adotar políticas de estímulo a empréstimos e financiamentos. Foi o que o governo brasileiro fez, assumindo o risco de elevação da inflação e sendo criticado por alguns especialistas e setores da economia.