postado em 02/06/2010 09:46
A comunidade da QI 7 do Lago Sul não fala em outra coisa a não ser nos sinos da Paróquia São Pedro Alcântara. As badaladas viraram tema das conversas entre moradores e comerciantes da área. O Correio mostrou ontem que o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) recebeu diversas reclamações contra o barulho produzido pela igreja e notificou a paróquia por escrito na semana passada. As denúncias, porém, teriam sido feitas por um único morador. O presidente do Ibram, Gustavo Souto Maior, garante que as reclamações vieram de uma única pessoa, que teria ligado quase diariamente durante quatro meses. Agora, a comunidade se reúne em defesa do pároco, padre Givanildo Ferreira, e defende que a maioria não se sente incomodada pelos sinos. Eles produzem um ruído de 62 decibéis, mas o nível máximo permitido em áreas residenciais pela Lei do Silêncio é 50.O presidente do Ibram acredita que o caso não voltará a causar tanta repercussão, pois já conversou com o responsável da igreja. ;Quando recebemos esse tipo de denúncia, advertimos o estabelecimento e o ajudamos a sanar o problema. Normalmente isso funciona. Caso contrário, fazemos uma segunda visita que rende multa ou embargo, dependendo da quantidade de reclamações ou da intensidade do ruído. A partir disso, damos um prazo para a adequação;, informou Souto Maior. Já Flávio Braga, representante do Ibram que esteve na igreja ontem, explicou que a paróquia deve enviar a resposta por escrito até segunda-feira. Segundo ele, o descumprimento da lei pode ocasionar multa que vai de R$ 200 a R$ 20 mil. Braga revela ainda que 30% das reclamações de poluição sonora no Distrito Federal são originadas contra templos religiosos.
Responsável pela paróquia, padre Givanildo afirma que os advogados irão recorrer à Constituição Federal para garantir o soar dos sinos, que ocorre diariamente às 8h15, às 12h, às 15h, às 18h, em sessões de cerca de dois minutos. ;A única coisa que podia ser feita já fizemos, que é diminuir o impulso do aparelho que aciona o sino. Não é possível que esteja incomodando tanto assim;, diz o padre. Ele afirma que a medida foi tomada após o reclamante enviar uma carta à igreja sobre o problema. ;Respondi dizendo que não tinha como baixar mais o volume e que a duração das batidas depende da inércia após o golpe da máquina no sino. A resposta à advertência será dada pelos advogados. O sino não deve parar ; a não ser que sejamos proibidos. É uma manifestação da nossa fé.;
Vizinhança
A servidora aposentada Lygia Leite de Camargo, 70 anos, mora no conjunto 11 da QI 13 e afirma que toda a comunidade está a favor do padre Givanildo. ;Todos ficamos indignados com a reclamação. Onde moro, passo a noite escutando barulhos de boates e bares que ficam a quilômetros de distância e nunca fazem nada contra esses estabelecimentos. É absurdo;, revolta-se.
Funcionária da secretaria da Igreja, Marise Lafetá conta que, durante a tarde de ontem, o padre recebeu diversos moradores reivindicando a continuação das badaladas. ;Muitas outras igrejas no Lago Sul também tocam sinos e não tiveram reclamações como essa. Todos vieram prestar solidariedade ao padre. Ele não faz mal a ninguém, muito menos os sinos. Vamos apoiá-lo até o fim.;
A aposentada Maria do Socorro Miranda Alves, 68 anos, mora no Conjunto 17 há 35 anos e diz que o ruído não é um problema. ;Nunca me incomodei nem há motivo para isso. Já morei em outras cidades com sinos bem mais barulhentos;, diz. O economista Rômulo Moreno Junior, 42 anos, vive ao lado da casa do reclamante e garante que as badaladas não perturbam. ;Moro aqui há 30 anos e, para mim, não faz diferença nenhuma se o sino toca ou deixa de tocar. Quem se incomoda é minoria. Ninguém aqui na rua vê problema com os sinos;, diz. A reportagem tentou contato com o reclamante novamente, mas ele não foi encontrado.