Guilherme Goulart
postado em 02/06/2010 14:28
O mistério em torno do assassinato de um empresário candango em Goiânia (GO) chegou ao fim. A Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH) encaminhou ontem a conclusão do inquérito responsável pela investigação da morte de Isaías Lourival da Silva, 45 anos. A apuração revelou um crime marcado por traição, ganância e brutalidade. O homicídio, praticado em 2 de março, ocorreu, segundo o trabalho policial, a mando de um dos principais gerentes da vítima. Ele pagou R$ 40 mil para dois pistoleiros tirarem a vida de Isaías, que havia descoberto esquema de desvio de dinheiro na empresa.A equipe da delegada Silvana Nunes Ferreira, adjunta da DIH, levou menos de dois meses para descobrir os detalhes da execução de um dos maiores empresários do setor de guinchos do Distrito Federal. As circunstâncias do crime, ocorrido em umas das empresas dele, em Goiânia, fizeram com que os policiais descartassem a hipótese de latrocínio (roubo com morte) desde o início. Os acusados de cometer o assassinato atacaram a vítima e não levaram nenhum objeto de valor. ;Logo suspeitamos da participação de um mandante e de executores. Aos poucos, identificamos cada um;, explicou Silvana.
O homicídio ocorreu em uma terça-feira à noite. Dois homens vestidos com jaquetas pretas chegaram ao escritório localizado no Setor Aeroviário por volta das 20h30 e pediram que uma recepcionista chamasse Isaías ; ele mora em Brasília, onde fica a sede da empresa, mas ia com frequência à capital goiana por conta dos negócios. Ao atender os visitantes, o empresário levou dois tiros no rosto. Mesmo caído ao chão, ainda recebeu um terceiro disparo, na altura do ouvido esquerdo.
A polícia prendeu um dos atiradores na mesma noite. O então suspeito, identificado como Domingos Alves da Silva, 57 anos, portava um revólver calibre .38. Apesar de ele não confessar a participação no assassinato, um exame de balística confirmou o uso da arma na morte do empresário candango. O segundo acusado pelo homicídio acabou preso em seguida. Trata-se de José Divino Nunes de Sá, 31 anos, sobrinho de Domingos. A partir desse ponto, a polícia chegou aos nomes dos demais envolvidos. Entre eles, Glauciano Pereira de Souza, 35, acusado de ser o responsável pela contratação do serviço.
Segundo a investigação da DIH, Glauciano seria o elo entre a dupla de atiradores e Fernando Batista da Silva, gerente da empresa de Isaías em Goiânia. ;Confirmamos que ele (Glauciano) procurou os dois executores e os contratou para o serviço em 1; de junho, um dia antes da execução. Pagou R$ 10 mil para que os dois matassem o empresário. E assim chegamos ao mandante, quase um sócio da vítima;, revelou a delegada Silvana. Glauciano, o único ainda foragido, teria recebido R$ 40 mil para organizar a execução. Embolsou R$ 30 mil.
Os investigadores da DIH prenderam Fernando da Silva na última sexta-feira. Ele não confessa envolvimento no crime, mas dados levantados pela polícia o colocam nas proximidades do local do assassinato na noite de terça-feira. ;Fernando e Glauciano buscaram a dupla de executores em um posto de gasolina (eles moram em Aparecida de Goiânia) e os deixaram próximos à empresa da vítima;, detalhou a delegada. Todos os acusados serão indiciados por homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima).
Desconfiança
Fazem parte do inquérito aberto na Polícia Civil de Goiás informações que levam ao motivo do homicídio. A polícia levantou, por exemplo, que em fevereiro deste ano Isaías cancelou uma procuração em nome do gerente Fernando. ;Ele (o empresário) descobriu que o Fernando usava a procuração para desviar dinheiro. Adquiria produtos e transferia para uma empresa que ele (Fernando) tinha aberto há pouco tempo. O Isaías descobriu dívidas e desvios em torno de R$ 500 mil;, afirmou a delegada Silvana.
A viúva da vítima, Cláudia Gomes de Araújo, 41 anos, disse que a família desconfiava da participação de Fernando no assassinato. As suspeitas aumentaram depois que o acusado se desligou da firma, um mês depois do homicídio. ;Ele tinha 12 anos de empresa e de convivência com a gente. Exercia um cargo de confiança, tanto que muita gente achava que ele era o dono da empresa de Goiânia. Mas depois nem mais nos olhava nos olhos. Esteve no sepultamento do Isaías e nem mesmo cumprimentou nossas filhas;, contou.
Segundo Cláudia, o casal conversou sobre possíveis retaliações de Fernando após o cancelamento da procuração. Para ela, a sensação hoje é de alívio. Tinha medo de que o caso ficasse na impunidade. A empresária está agora à frente da Auto Assistência Irmãos Corrêa, empresa que ela viu crescer desde que o marido lidava apenas com revendas de carros. O enterro de Isaías ocorreu em 3 de março em Brazlândia, onde moram alguns parentes dele.
Memória
Ocultação de falcatruas
Outro crime de repercussão envolvendo patrão e empregado ocorreu em 15 de abril de 2008 no DF. O ex-gerente da rede de restaurantes Bargaço Luzivan Farias da Silva acabou condenado no ano passado a 20 anos de prisão pela morte do empresário Leonel Evaristo da Rocha. O assassinato ocorreu por volta das 22h, no Setor de Postos e Motéis Sul. De acordo com a denúncia oferecida pelo Ministério Público do DF, o réu teria matado o empresário para ocultar falcatruas cometidas quando era gerente de um dos estabelecimentos da vítima, em Fortaleza (CE). Segundo a investigação, Luzivan contratou dois PMs, acusados de pertencer a um grupo de extermínio em Goiás.