postado em 03/06/2010 07:00
Ela deu um baile em todos. Tratadores, veterinários e uma gente curiosa que foi lá para ver sua história. E só podia ser ela. A barriga cresceu, as mamas se dilataram, o andar ficou mais vagaroso. O comportamento mudou. E o povo apostou. Delirou. Está prenha. Como? Na idade de loba? Sim, ela é uma jovem senhora de 40 anos, três filhos paridos, viúva do marido e do amante. Do marido Otelo e do amante Eliseu? Sim, de ambos, em momentos distintos. Chorou pelo amante em 1998. E, pelo marido, quatro anos depois. Mas, como fênix, se reergueu. Ela consegue tudo.Em novembro passado, tratadores a viram copulando com o garanhão do pedaço. Veterinários também. E viram a cena mais de uma vez. Pronto. Era a prova de que precisavam. Tempos depois, a barriga se estufou. E a danada começou a ficar enjoada. Nada de brincadeira com ela. Nem as duas filhas podiam fazer gracinhas. Nem o jovem por quem se engraçou. Aí, a barriga continuou empinando. Não havia mais dúvida. Ela estava prenha.
O Correio acompanhou a saga da tresloucada. E perguntou, em reportagem exclusiva publicada em 7 de janeiro deste ano, se ela, na idade da loba, estaria realmente grávida (ver fac-símile). O lugar onde a família vive lotou de visitantes. Todos queriam ver de perto. Fotografar. Bisbilhotar, mexericar. Afinal, ela é celebridade. Conhecida de ponta a ponta do país. Pois bem, depois de cinco meses de especulação, eis a verdade, admitida por veterinários e tratadores, embasbacados: ela nunca esteve grávida. Pelo menos não fisicamente.
Era gravidez psicológica. O quê? Isso mesmo. Ela nunca emprenhou, embora os sintomas clínicos estivessem evidentes. Assim, ela se sentiu, assim quis estar e assim enganou a todos. Quem é ela? Só poderia ser Capitu, a macaca mais famosa do Brasil, a babuína-sagrada que revolucionou e pirou o mundo animal. E fez toda uma gente acreditar no que ela quis. Capitu é quase gente, minha gente. Só falta falar.
Clareana Sousa Gelinski, 29 anos, curadora de mamíferos do Zoo de Brasília, explica: ;Houve cópula, portanto havia a possibilidade de prenhez do animal. Além disso, os sintomas físicos nos permitiram acreditar que ela poderia estar grávida;. E admite: ;Capitu simulou a gestação psicológica;. Em outras palavras, ela tirou onda com a cara de todo mundo. Pintou e bordou. Televisões correram atrás da história, depois de contada no Correio; jornais fizeram o mesmo. A fama da danada só aumentou. E o tal macaquinho nunca nasceu.
A direção do Zoo chegou a especular uma data para o nascimento do rebento de Capitu com o jovem saliente que foi morar na casa dela. Seria na primeira quinzena de maio. Nada. ;A barriga dilatada, provavelmente, tem a ver também com o peso característico da idade nos babuínos;, diz Clareana. Raul Gonzales, 54 anos, diretor do Zoo, deu a mão à palmatória: ;Há relatos, na literatura animal, de gravidez psicológica em primatas;.
Avó duas vezes
Ok, Capitu inventou a gravidez, mas por quê? A essa altura da vida, já tão famosa, por que precisava de mais notoriedade? Enquanto se especulava a prenhez dela, as duas filhinhas, virgens imaculadas, pariram. Uma atrás da outra. Fernanda, a caçula, de 18 anos (dobra-se a idade animal para chegar à humana), deu à luz em março.
Hamuta, 20 anos, misteriosamente, sem apresentar barriga ; como filha virgem que esconde bucho de pai brabo ; pariu em abril. O Correio contou, também com exclusividade, ambas as histórias. Capitu virou vovozinha. Em dose dupla. E passou, como sempre, a mandar na casa, nas filhas e no pai de ambos os netos, o mesmo Luís Pires, um ainda adolescente cheio de energia. É o mesmo com quem a macaca andou se chamegando. ;Ela descobriu que as filhas estavam grávidas e simulou a gravidez dela também. Ela não quis ficar atrás;, deduz a curadora de mamíferos. Vixe!
Pois bem, a história é a seguinte: esse distinto Luís Pires, um babuíno-sagrado que veio de um Zoo de Bauru, em São Paulo, tinha uma missão: teria que perpetuar a espécie. Para isso, precisava copular com as duas filhas de Capitu. A dona da casa o recebeu com ares de mãe. Quando ele chegou, há três anos, era um menininho. Precisava de cuidados maternos.
Ela assim o fez. Afinal, estava cansada de guerra. No passado, a macaca destemida enfrentou de peito aberto a fúria do marido sisudo e aprendeu a nadar ; macacos não nadam ; para viver um tórrido romance com o amante, que morava em outra ilha. Foi então, em 1998, que a doida virou celebridade no mundo. A história dela atravessou continentes.
Mas aí (toda boa história tem um ;mas aí;), Luisinho começou a crescer, ficou gente grande, ;falou; grosso, quis se exibir (sabe menino que começa a ganhar músculos em academia?) e se meteu a conquistador. Todo mundo sabe ; até Deus ; que Capitu nem pensava mais naquilo. Havia se convertido em uma dona de casa e mãe em tempo integral.
Marcelinho
Luisinho, metido a macaco grande, provocou, começou a fazer brincadeiras insinuantes. Ela? Endoideceu. Baixou a Capitu de sempre. E ensinou os caminhos da perdição para o ninfeto exibido. O macaquinho pirou. Nunca mais foi o mesmo. Capitu viu estrelas de prazer. Ele, dono de si, se engraçou pelas filhinhas da dona da casa. Às escondidas, claro, da matriarca. Conseguiu.
[FOTO4]Ele dava um jeito e atentava uma, depois a outra. Pimba geral. ;Teve um dia em que ele copulou com Capitu pela manhã, no começo da tarde com Fernanda e no fim do dia com Hamuta;, atesta o tratador Ésio Garcês, 49 anos. A casa de Capitu virou de ponta-cabeça. Ainda assim, a última palavra era a dela. Quando ele a procurava e a danada não estava a fim, botava-o pra correr léguas.
Em 7 de março, nasceu o filhote de Fernanda; em 15 de abril, o de Hamuta. Luís Pires se achou o tal. Queria porque queria brincar com os rebentos (leia-se arrastá-los pelas pernas ilha adentro). As mães, temerosas, não deixavam. E quando o caldo engrossava Capitu se metia e colocava todos para correr. Até as mães. E foi assim que ela ensinou as suas ;meninas; a amamentarem. Cobrava-lhes atenção aos netos. ;A Fernanda é mais largada, deixa o filho toda hora. Hamuta é mais dedicada, mais cuidadosa;, comenta Clareana.
Assim que nasceram, os bebês não podiam ter o sexo revelado em função do estresse que isso poderia causar às mães e aos próprios bebês. O Zoo decidiu que descobriria à medida que fossem crescendo. Nesta semana, o de Fernanda, o macaquinho mais velho, foi descoberto. ;É macho e o nome é Marcelinho;, diz a veterinária. O de Hamuta, que ainda não tem dois meses, está prestes a ser descoberto.
Banana e chamego
E assim, com gravidez psicológica, Capitu rendeu mais capítulos para a sua saga. É uma família que adora um barraco, mas depois se entende. A matriarca passa o dia todo ralhando com as filhas e com o garanhão exibido. Bota marrecos e capivaras para correr da sua ilha. Protege os bebês e os coloca para mamar nas tetas das mães.
No fim da tarde, todos se reúnem no telhado e viram um bolo só. É um tal de um catar piolho no outro que só vendo. ;Eles se amam;, derrete-se a curadora de mamíferos. Marcelinho, mirradinho e peralta, além de mamar na mãe com vontade, começou a comer banana. ;A mãe (Fernanda) dá comida na boquinha dele;, conta Clareana.
E o futuro? Aí, minha gente, a coisa pode complicar. Clareana explica: ;O ideal é que os dois netos de Capitu (machos ou um casal), depois que atingirem a maturidade ; em torno dos 2 anos ; sejam levados para zoológicos de outros lugares. Se forem dois machos, haverá o risco da disputa dos filhos, com o pai, pelo domínio do território. Isso é muito comum entre os babuínos-sagrados. Se for um casal, além da briga com o filho macho, Luís Pires ainda poderá tentar copular com a própria filha, o que não será recomendável para a espécie;.
Portanto, caros leitores, mais confusão à vista. Nessa família, tudo pode. De uma coisa, porém, se tem certeza: a ilha e a vida de Capitu nunca mais foram as mesmas depois da chegada de Luís Pires. Ela, pra variar, roubou a cena. E nem poderia ser diferente. Afinal, quem aprendeu a nadar para viver com o amante o romance mais fantástico e enlouquecido do Zoo de Brasília não poderia sair de cena, mesmo na maturidade. Se essa maluca não existisse, o mundo animal, certamente, estaria mais chocho.
Viva, sempre, Capitu!