Luiz Calcagno
postado em 05/06/2010 08:34
Desvios, estreitamentos de pista, pouca iluminação e sinalização precária. Este é o cenário dos mais de 25km de obras de ampliação da Estrada Parque Taguatinga (EPTG), que expõem 150 mil motoristas a riscos de acidente todos os dias. Na noite de quarta-feira e durante todo o dia de ontem, o Correio percorreu a via e listou os pontos onde o cuidado deve ser redobrado para quem trafega na via. O caos pode ser verificado em qualquer horário. Para garantir a segurança no trajeto é preciso, além do respeito à sinalização e aos limites de velocidade, atenção nos desvios.No trajeto feito pelo Correio, primeiro à noite e depois de dia, em ambos os sentidos, a reportagem apurou que os riscos começam antes mesmo da EPTG, no viaduto que liga o Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) à Estrada Parque Industria e Abastecimento (Epia). Há estreitamento de vias que tumultua a passagem de carros tanto no sentido de Taguatinga quanto no do Plano Piloto. Além disso, um pequeno trecho das obras é utilizado como retorno por motoristas.
O estreitamento da pista, que não está com o asfalto pintado, continua por todo o SIA. No sentido Taguatinga, uma via que contava com três faixas, acostamento e recuo para os ônibus, passou a contar com apenas duas. Em horário de pico, ultrapassagens são arriscadas. No sentido oposto, a pista está mais bem sinalizada, e a maior dificuldade é o estreitamento de uma faixa em frente à Companhia Energética de Brasília (CEB). Além disso, sem semáforo, pedestres atravessam a rua entre os carros, que muitas vezes não respeitam as faixas.
Desnível
Mais adiante, após a primeira passarela do Guará, o lado esquerdo permanece bem sinalizado, enquanto o direito, não. O local também não é iluminado. Um desnível de 1m de altura rente ao acostamento ameaça quem precisa sair da pista por algum motivo. Seguindo em frente, um desvio na entrada da Lúcio Costa também exige atenção do motorista. No sentido Taguatinga, o espaço para três carros cai para dois, em seguida, duas faixas se abrem à direita, mas uma é diminuída a esquerda. No outro sentido, além do estrangulamento de faixas, condutores que saem do Guará entram direto na pista, sem espaço para aceleração do carro.
Já o viaduto que dá acesso ao Jóquei Clube e a Vicente Pires pode ser considerado um dos trechos mais arriscados da EPTG. O local não é iluminado e, apesar dos cones e tambores sinalizando o caminho, não possui faixas e é confuso. No sentido Taguatinga, passa por dois cruzamentos orientados por semáforos, e no sentido Plano Piloto, sofre o estrangulamento de duas faixas no fim do trecho. A estudante Vanessa Coelho de Souza, 31 anos, morreu em decorrência dos ferimentos sofridos em um acidente de carro no último dia 28. Ela caiu em um buraco no canteiro de obras desse viaduto. O corpo foi enterrado na tarde de ontem no Cemitério Campo da Esperança.
O último trecho considerado perigoso fica no viaduto que dará acesso a Águas Claras, e um percurso posterior no sentido Plano Piloto-Taguatinga. A via está parcialmente iluminada e as pistas já estão liberadas em ambos os lados. Porém o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) ainda não pintou as faixas. O canteiro de obras do local também é movimentado e caminhões cruzam a pista de um lado a outro levando materiais de construção. À noite, fica difícil se orientar devido a falta de sinalização horizontal.
O motorista Maurício Lemos, 35 anos, morador de Águas Claras, reclamou da via. Para ele, mesmo as áreas mais sinalizadas deixam a desejar. ;Está um caos. A morte da garota (Vanessa) foi em decorrência disso. Se estivesse melhor sinalizado, com certeza isso não teria ocorrido. Além disso, a população devia ser avisada de alguma forma dessas mudanças de trajeto que eles fazem;, reclamou.
Transtorno inevitável
O diretor do Departamento de Estradas de Rodagem, Luiz Carlos Tanezini, diz que a sinalização e a iluminação na EPTG estão de acordo com as necessidades da ampliação da rodovia. Tanezini explicou que o transtorno é ;inevitável em uma obra como a da EPTG;. ;A obra sofre alterações diariamente. É a maior obra em todo o DF, em um local onde passam cerca de 150 mil veículos por dia;, observou.
Tanezini lamentou a morte de Vanessa, que classificou como uma ;fatalidade;. Ele ressaltou que, apesar dos trabalhos e do intenso fluxo de veículos, ocorreram poucos acidentes. Segundo dados do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF), foram oito colisões com morte em 2008, cinco em 2009 e três, até março de 2010. ;A estrada está sinalizada. É preciso que os motoristas respeitem as placas e a velocidade estabelecida;, disse Tanezini.
O presidente da Companhia Energética de Brasília (CEB), Carlos Leal, por sua vez, disse que os únicos trechos não iluminados são os desvios e os de viadutos, que representariam 10% dos 25 quilômetros de estrada, e que pretende aumentar a iluminação em pontos a definir com o DER. Segundo ele, é inviável ligar postes provisórios nos viadutos em obra e nos desvios. ;Nossos postes são alimentados por cabos subterrâneos. Esse tipo de instalação em locais que serão alterados pode até causar acidentes;, explicou.
Samuel Dias, gerente de obras da EPTG, argumentou ao Correio que existem equipes do DER para orientar o tráfego, e que a EPTG conta, ainda, para orientar os motoristas, com a Companhia de Polícia Militar Rodoviária (CPRv). ;Evitamos ao máximo os problemas, mas não tem jeito;, disse. A expectativa é que as vias sejam liberadas no fim de junho. A ampliação da EPTG teve início em abril de 2009 e o investimento na obra foi de R$ 244 milhões. (LC)