Naira Trindade
postado em 08/06/2010 08:25
Um grande mistério cerca a morte da pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Elzamir Gonzaga Silva, 44 anos, moradora da Asa Norte. O corpo da doutora em sociologia foi encontrado pela Polícia Civil de Goiás, na madrugada da última sexta-feira, com um tiro na cabeça, a mais de 70 quilômetros da casa dela, às margens da BR-040, rodovia que liga Brasília a Paracatu (MG), próximo à entrada de Luziânia (GO). Ela usava um cordão de ouro e um relógio de pulso. Apenas sua bolsa foi levada. A investigação é conduzida pela 5; Delegacia Regional de Luziânia e pela 2; Delegacia de Polícia (Asa Norte).A servidora pública foi vista pela última vez na tarde da quarta-feira passada, por volta das 16h45. Ela saiu do trabalho rumo à sua residência, na 713 Norte. Antes, passou em um supermercado, comprou uvas e um vidro de própolis. Elzamir tinha combinado com uma amiga de viajar no feriado de Corpus Christi para Abadiânia (GO). As duas sairiam na manhã de quinta-feira, mas ela não apareceu no horário marcado. Preocupada, a amiga ; que preferiu não se identificar ; ligou para parentes e colegas de trabalho de Elzamir. Ninguém sabia do paradeiro da mulher. A amiga, então, resolveu procurar a 2; DP e registrou ocorrência de desaparecimento.
A procura pela servidora terminou às 2h50 de sexta-feira, quando agentes de Luziânia ligaram para a amiga confirmando tê-la encontrado. ;A amiga dela reconheceu o corpo e acompanhou a necrópsia em Luziânia. Elzamir morreu vítima de um tiro de uma pistola de 9mm. Morreu no mesmo dia em que sumiu;, contou a delegada-chefe da 2; DP, Mônica Ferreira Loureiro. A polícia acredita que a servidora foi conduzida, espontaneamente, ao local onde foi executada. ;Ela foi executada no local. Alguém a levou para lá para assassiná-la. E, como o crime ocorreu em Luziânia, as investigações acontecem na delegacia de lá e contam com a nossa colaboração;, complementa a delegada.
Na segunda-feira (7/6), a Polícia Civil do município goiano pediu a quebra do sigilo telefônico da servidora. Com o rastreamento das ligações do aparelho celular, o titular chefe da 5; Delegacia Regional, José Luiz Martins de Araújo, pretende avançar nas investigações para identificar o autor do disparo. ;Não há indício de que tenha havido algum sequestro. É provável que tenhamos novidades em breve;, limitou-se a dizer Martins.
Reservada e prestativa
Elzamir era uma mulher reservada. Na vizinhança, poucos a conhecem pelo nome. No serviço, era considerada dedicada e muito prestativa. Sua generosidade a fez, em 2006, ser a fiadora do Programa de Financiamento Estudantil (Fies) para uma aluna de pedagogia, que, à época, estagiava no CNPq. Passado algum tempo, a jovem deixou de depositar o dinheiro. A dívida se acumulou e a Caixa Econômica, responsável pela liberação do crédito, cobrou o débito de Elzamir, que, sem dinheiro para pagar todas as prestações, teve seu nome incluído na dívida ativa e tentou negociar com a moça. Se dispôs até a bancar metade das parcelas. A estudante aceitou o combinado, mas não cumpriu o acordo. Desesperada, a servidora contraiu um empréstimo no Bradesco de R$ 14 mil para sanar o débito, mas nem chegou a sacar o dinheiro. Ontem, um agente da 2; DP foi ao CNPq para saber detalhes da vida da universitária, mas a delegada responsável pelas investigações, Mônica Loureiro, preferiu não dizer se a jovem é ou não uma suspeita.
Um dos colegas de repartição de Elzamir, o analista em ciência e tecnologia Ricardo Leal, disse que não percebeu nada de estranho no comportamento dela. A única coisa que a entristeceu nos últimos dias foi o fato de não poder ter feito uma cirurgia para a retirada de um mioma no seio. ;A cirurgia estava marcada, mas ela não pôde retirar o mioma porque estava com um quadro de anemia. Tirando isso, ela estava superfeliz. Tinha acabado de voltar de férias e estava muito empolgada com o doutorado que concluiu no ano passado na Espanha. Estava até combinando com a mãe de viajar para Madri para buscar o diploma. Sinceramente, foi uma surpresa muito grande para todos que a conhecem;, afirmou.
A coordenadora-geral de ciências humanas e sociais do CNPq, Angela Cúnico, também não notou nada de anormal ao conversar com a colega. ;Ela voltou de férias (passou 20 dias em Belém), trouxe bombom para todo mundo, estava cheia de projetos e sonhos. Estamos todos perplexos com tudo o que aconteceu;, afirmou Ângela.
O corpo da servidora foi velado no último sábado no cemitério Campo da Esperança. Depois, seguiu para Belém, sua terra natal, onde foi sepultado. O Correio tentou contato com os parentes por telefone, mas ninguém atendeu as ligações.
Perfil
Elzamir Gonzaga Silva, 44 anos
Doutora em sociologia, mestra e graduada em psicologia, Elzamir ingressou no Conselho Nacional de Pesquisa em 2002. Adorava a profissão. Morava numa casa na Asa Norte, a três quadras do trabalho. Ela não dirigia. Gostava de andar a pé ou de ônibus. Era considerada ;amável; pelos colegas. Dividia a casa no fim da Asa Norte com uma irmã e um cunhado e mantinha um relacionamento amoroso à distância, em Belo Horizonte (MG).