Helena Mader
postado em 09/06/2010 07:00
Construídos há mais de 50 anos, os prédios da Esplanada dos Ministérios têm infraestrutura e tecnologia defasadas. A rede elétrica com gambiarras e os sistemas de iluminação e refrigeração fazem com que o consumo energético seja alto ; o que vai na contramão da preservação do meio ambiente. Mas como a região central de Brasília é tombada, as intervenções não podem alterar a fachada dos edifícios. Com isso, a reforma dos ministérios para transformá-los em prédios verdes é um desafio para arquitetos e engenheiros.Na semana passada, o projeto Esplanada Sustentável começou a avançar. O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão publicou no Diário Oficial da União do último dia 28 uma resolução estabelecendo o início das reformas como uma prioridade entre as obras feitas por meio de parcerias público-privadas (PPPs). O primeiro edifício a receber investimentos será o Bloco K da Esplanada, que abriga a pasta do Planejamento. Após a conclusão do projeto-piloto, a iniciativa será estendida aos prédios dos outros ministérios. A resolução determina que o Comitê Gestor de Parcerias Público-Privadas do governo federal abra prazo para a apresentação de projetos pela iniciativa privada.
A ideia de reformar os edifícios da Esplanada por meio dessas parcerias foi apresentada ao governo pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) há cerca de dois anos. De lá para cá, o setor privado e o governo avançaram nas negociações, mas ainda não há um cronograma para a revitalização de todas as edificações da região.
Também não há regras definidas de como será fechada essa PPP. A ideia inicial dos empresários era reformar os prédios, deixá-los ambientalmente sustentáveis e, em troca, receber terrenos em Brasília, por exemplo. Outra forma de fechar o contrato seria a empresa concluir a obra e, depois disso, ficar responsável pelos contratos de manutenção e conservação dos prédios. Assim, para que o negócio seja rentável e para otimizar os lucros, os empresários teriam que economizar mais água e energia. Em ambos os casos, o governo federal terá que abrir processo de licitação para a escolha das empresas que ficarão responsáveis pela revitalização desses edifícios.
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, Paulo Safady Simão, conta que muitos empresários já estão se mobilizando para apresentar propostas. ;Essa iniciativa vai ser importante para o país, já que deixará os prédios públicos de acordo com os conceitos de sustentabilidade. Isso vai trazer maior eficiência energética e mais conforto para os usuários, que são os servidores;, explica Paulo Simão.
Ele destaca também que a defasagem na infraestrutura dos edifícios públicos representa um risco para quem circula por esses locais. ;Alguns desses prédios foram reformados aos poucos e, com isso, foram feitos remendos na estrutura e vários deles estão cheios de gambiarras;, comenta. ;Além da questão ambiental, o problema da falta de segurança é mais um argumento para que essas obras sejam feitas o mais rápido possível. O setor da construção quer dar essa contribuição para a recuperação dos prédios antigos;, finaliza. Paulo Safady Simão pretende se encontrar com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, até a semana que vem, para acertar detalhes da PPP e do cronograma para a implantação do projeto-piloto.
Redução
O Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), ligado à Eletrobras, prevê medidas de redução do consumo em prédios públicos ; o que deverá ser aliado à modernização dos edifícios da Esplanada. De acordo com um levantamento do Procel, 48% da energia gasta nas construções públicas é consumida com ar-condicionado; 24% com iluminação; 15% com equipamento de escritório, como computadores e impressoras; e 13% com elevadores e bombas de água.
O programa também alerta para a importância da mobilização dos servidores para conseguir melhorar os resultados. ;Um programa de conservação de energia só terá resultados positivos caso haja conscientização e motivação de todos os empregados. Conservação não implica em racionamento nem em perda de qualidade de vida e conforto dos servidores. Não compromete a produtividade e o desempenho;, diz a cartilha, produzida e distribuída pelo Procel.
"Alguns desses prédios foram reformados aos poucos. Vários deles estão cheios de gambiarras"
Paulo Safady Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção
Paulo Safady Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção
Fachadas intocáveis
A professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília Cláudia Amorim, que também atua no Laboratório de Controle Ambiental da UnB, participou das discussões sobre a reforma da Esplanada. Ela explica que uma das dificuldades é a proibição de alterar as fachadas. ;Como não podemos buscar soluções arquitetônicas, é preciso pensar em outras possibilidades. Muitas vezes, pequenas intervenções têm um grande impacto para aumentar a sustentabilidade;, explica a especialista.
A disposição dos prédios ao longo da Esplanada não facilita a redução do consumo de energia. Eles recebem a incidência direta da luz do sol durante todo o dia. O problema é maior na fachada oeste (virada para a Rodoviária), que é voltada para o poente e, portanto, tem ambientes mais quentes. Uma solução possível é aplicar uma película protetora sobre o vidro, para reduzir a incidência solar. Assim, a necessidade do ar-condicionado é reduzida. Os brises (1) instalados nos prédios da Esplanada são verticais. Para que protejam da luz solar, eles devem estar completamente fechados ; o que é raro de observar. No caso da redução do consumo de água, as soluções são simples. As medidas mais básicas são mudar os sistemas de descarga e as torneiras, além de controlar os vazamentos e desperdícios.
A professora Cláudia Amorim elogia a iniciativa de implantar o projeto-piloto, mas destaca que as soluções aplicadas no Bloco K da Esplanada não poderão ser usadas em todos os prédios públicos. (HM)
1 - Controle da radiação
Os brises são elementos arquitetônicos localizados na fachada externa do edifício e que têm como função principal o controle da incidência de radiação solar na edificação. São formados por uma ou mais lâminas, fixas ou móveis, dispostas horizontal ou verticalmente, mas que precisam de minuciosos cálculos com cartas solares, do local onde serão implantados, para que o resultado seja eficiente.