Até ontem, os colegas de trabalho de Elza ou Elzinha, como a servidora do CNPq era carinhosamente chamada, não conseguiam entender como a funcionária dedicada ao trabalho, à família e ao conhecimento teve um fim tão trágico. Vizinho da mesa onde Elza trabalhava, Ricardo Leal, 49 anos, deixou esse mistério para a polícia e fez questão de enaltecer alguns traços das características dela, que, de acordo com ele, eram positivos. ;Ela não era de chegar, trabalhar e ir embora não. Tinha o papel de integrar as 33 pessoas que trabalham na Coordenação-Geral de Ciências Humanas e Sociais (CGCHS);, destacou.
Ricardo, aliás, garante que conhecia bem Elzamir. Aprovados no concurso de 2002, os dois tomaram posse no ano seguinte. Sentariam lado a lado na Coordenação do Programa de Pesquisa em Ciências Humanos e Sociais (CDCHS). ;Não vou me acostumar nunca. Chegar aqui e não vê-la ao lado é muito estranho;, ressalta o servidor.
Sonho
Elza morreu sem realizar um sonho: retirar o diploma de doutora em sociologia pela Universidade de Salamanca, que fica no sul da Espanha. ;Ela viajaria com a mãe ainda este ano para pegar o certificado;, diz Ricardo. O diploma seria uma espécie de troféu para Elza, segundo os amigos, pois foi difícil concluir o doutorado. Não pela parte disciplinar, mas pela financeira, dizem eles. Para custear o pagamento do curso, a servidora teve de complementar a renda com rifas de alguns pertences na seção onde trabalhava. ;O terrível é que ela não poderá usufruir;, disse Ricardo. ;É uma perda muito grande;, dimensionou a coordenadora da seção, Ângela Cunha, 55 anos.
Os colegas de trabalho lembram que as imagens do circuito de tevê do CNPq registraram a saída de Elzamir às 17h30 do dia 2, em direção à W3 Norte. Eles dizem que a servidora aparece caminhando devagar, na opinião deles, aparentando um certo desânimo.
Ricardo Leal, colega de Elzamir
A vítima
Elzamir Gonzaga Silva, 44 anos
Morreu com um tiro na cabeça. O corpo foi encontrado na última quinta-feira ; um dia depois de sumir ; às margens da BR-040, rodovia que liga Brasília a Luziânia (GO).
Doutora em sociologia, mestra e graduada em psicologia, Elzamir ingressou no CNPq em 2002. Morava na 713 Norte, a três quadras do trabalho. Dividia a casa no fim da Asa Norte com uma irmã e um cunhado e mantinha um relacionamento amoroso à distância, em Belo Horizonte (MG).
Não dirigia. Gostava de andar a pé ou de ônibus. Era considerada amável pelos colegas.
Opinião do internauta
Leitores comentaram no site do Correio sobre o assassinato de Elzamir Gonzaga Silva, servidora do CNPq, encontrada morta na BR-040 na semana passada. Veja algumas opiniões:
# Cláudia Silva
;É esperar o resultado das investigações.;
# Wilden Reis
;Tomara que esse crime não caia no esquecimento, igual ao da 112 Sul.;
# Sara Meireles
;Meus pêsames à família e aos amigos.;
# Carlos Kawamura
;Pelo que sei, Elzamir, arrimo de família, mulher, negra e de origem humilde, batalhou em toda a sua vida para ter um lugar ao sol. Foi longe, muito longe, onde poucos brasileiros conseguem chegar. Cuidava da mãe e de vários outros parentes aqui em Brasília e, também, em Belém, inclusive, de um sobrinho.;
# Luiz Ricardo
;Você quer sobreviver? Não empreste dinheiro e muito menos pegue emprestado.;
# Jerusa Dantas
;Minhas condolências à família e aos amigos. É muito triste uma notícia dessa. Que Deus faça justiça.;
# Edila Lima
;Meu Deus, a que ponto se chegou. Se quer roubar, levem tudo. Não matem. Se é algum desentendimento por dívida, dialogue-se. A que ponto chegou o desrespeito à vida. Fim trágico para uma mulher com sonhos e planos. As pessoas não têm mais temor a Deus.;
# Simone Silva Rocha
;É lamentável. Mais uma vida perdida pela violência. Que Deus conforte essa familia.;