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Mercado de decoração do Distrito Federal supera o Rio de Janeiro

A capital federal perde apenas para São Paulo em faturamento, quando o assunto é design de interiores. A falta de profissionais é reflexo do crescimento da demanda inflada pelas empresas que investem alto no bom gosto

postado em 10/06/2010 08:37
Cláudia e a mãe, Marisa Boselli, garantem que vale a pena pagar mais por produtos de melhor qualidadeO mercado de decoração cresce assustadoramente na capital do país. Se há 10 anos era preciso ir ao eixo Rio-São Paulo ou mesmo à vizinha Goiânia para conferir as novidades, agora empresas e profissionais de fora é que são atraídos pelo aquecimento do setor em Brasília. A cidade se apresenta como terreno fértil para a consolidação do conceito de design de interiores(1). Toda semana, fornecedores desembarcam com a intenção de oferecer produtos e fechar parcerias.

Na hora de decorar a casa ou o apartamento, o brasiliense costuma não se incomodar em desembolsar mais do que o previsto. Há clientes que chegam a pagar, sem muito esforço, até R$ 600 mil somente em móveis. O valor pago ao decorador varia bastante, mas geralmente fica entre R$ 40 e R$ 150 o metro quadrado. A decoração de um ambiente movimenta muito dinheiro e pode envolver o serviço de 10 ou mais profissionais, como pintor, gesseiro, carpinteiro, iluminador, instalador de cortina.

Aos poucos, porém, dar cara nova a um espaço com ajuda de especialista deixa de ser luxo. A demanda pelo serviço cresceu tanto que faltam profissionais para atendê-la. Nos últimos dois anos, surgiram pelo menos três novos cursos de design de interiores em Brasília. ;Só não abrimos mais turmas porque não há professores;, conta Emerson Melo, gerente do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Estima-se que existam cerca de 300 decoradores em atuação na capital federal ; o dobro em relação ao início da década.

O curso do Senac, inaugurado em setembro do ano passado, tem cerca de 140 alunos. Vinte deles se formarão no fim deste ano, a maioria já empregada. ;O mercado está carente desses profissionais, por isso o sucesso da iniciativa;, afirma Melo. Apesar de os decoradores, em grande parte, serem arquitetos, qualquer interessado pode fazer cerca de um ano e meio de curso técnico e se dedicar à prática de planejar e arranjar ambientes.

Há 30 anos no ramo em Brasília, a designer de interiores Ângela Borsoi percebe que o profissional da área ampliou o público-alvo e passou a ser mais valorizado. ;Antes, contratar um decorador era privilégio da elite. Hoje as pessoas entenderam que podemos ajudá-las a aproveitar melhor o dinheiro disponível para a reforma;, avalia. No mercado de Brasília, comenta ela, há um consenso: mesmo que não esteja disposto a gastar muito, o cliente exige sofisticação.


1 - Técnica
O design de interiores é uma técnica cenográfica, visual e arquitetônica de composição e decoração de ambientes internos. Exige-se de um designer conhecimentos em áreas como história da arte, ergonomia e psicologia ambiental. Ao contrário do arquiteto, o designer não edifica. No máximo, conduz pequenas reformas.

MOSTRA TRARÁ CURSOS E PALESTRAS
Entre 21 de julho e 29 de agosto deste ano, será realizada a edição 2010 da mostra Morar mais por menos ; o chique que cabe no bolso, na União dos Escoteiros do Distrito Federal. Além das exposições, haverá cursos e palestras para os participantes. Mais informações pelo site: www.morarmais.com.br.

Empregos garantidos
Para atender ao bom gosto do brasiliense, existem três shopping centers na cidade apenas com lojas de decoração. As grandes marcas de todos os segmentos ; revestimento, mobiliário, cortinas etc. ; estão presentes. ;Sempre que venho dá vontade de trocar a casa inteira;, confessa a psicóloga Cláudia Boselli, 40 anos, acompanhada da mãe, Marisa Boselli, 63. O foco das duas ao passear por um dos centros comerciais esta semana era começar a montar o quarto do bebê de Cláudia, que deve nascer no início de 2011. ;Sabemos que vamos gastar, por baixo, R$ 5 mil;, calcula Marisa. ;Mas vale a pena pagar mais para levar produtos de melhor qualidade;, emenda a futura mãe.

Não há uma estimativa, em números absolutos, de quanto o mercado de decoração movimenta em Brasília. Profissionais sustentam, no entanto, que o faturamento supera o do Rio de Janeiro, e perde apenas para o de São Paulo. ;Estamos crescendo a passos largos. Quem pode pagar R$ 1 milhão em um apartamento de 70 metros quadrados faz questão de investir pesado para decorar esse espaço;, comenta o arquiteto e decorador André Alf. ;Ainda não dá para comparar com a capital paulista, mas caminhamos no mesmo sentido;, completa.

Brasília tem peculiaridades. Além da constante demanda provocada principalmente por servidores públicos, os designers de interiores têm trabalho garantido a cada quatro anos. ;Em toda eleição, a cidade se renova com a chegada de novos políticos, que impulsionam obras e reformas;, lembra o arquiteto Hélio Albuquerque, vice-presidente da Associação Brasiliense de Designers de Interiores (Abradi), criada em 2005. Não bastasse, prédios comerciais e hospitais também forçam demandas até então inexistentes. ;Os empresários descobriram que a decoração é um investimento essencial, serve como cartão de visita;, diz Ângela Borsoi.

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