postado em 11/06/2010 08:11
Robson Gomes de Oliveira é um rapaz esguio e habilidoso. Tem 20 anos. A maior parte deles vividos na Estrutural. Tem 13 irmãos. No começo, quando não conhece com quem conversa, fala baixo e pouco. Depois de verificar o caráter do outro, conta com desembaraço os problemas que já teve ou que ele mesmo criou. Não demonstra autopiedade tampouco vanglória. Passa a impressão de que sabe o que é certo e errado e que, há pouco tempo, finalmente pôs os pés no chão. Robson esteve em maus lençois no passado. Usou drogas, abandonou a escola, farreou muito e nunca pensou que o futuro lhe reservasse grande coisa. Até o dia em que um carro de som passou por ele anunciando a abertura das inscrições, na Estrutural, para o Projeto de Proteção de Jovens em Território Vulnerável (Protejo), do Ministério da Justiça, executado pela ONG Saber. Uma descrição acurada da situação dele. Resolveu tentar a sorte e se cadastrou.;Pensei que eu não ia conseguir. Muita gente queria;, admite. Contrariando o prognóstico, seu nome constava da lista de aprovados. A proposta do Protejo é tirar os jovens da trilha da violência usando a educação, a cultura e o esporte. O programa está presente na Estrutural, no Itapoã e em Arapoanga ; consideradas as cidades mais violentas do Distrito Federal ; e tem oficinas dos mais variados temas, além de aulas de informática. ;Quando entrei, tinha gente que morria de medo de mim;, revela. Fez algumas oficinas, mas se encantou pelas aulas de hip-hop. O Protejo auxilia os alunos com uma bolsa de R$ 100 por mês.
Foi curto o tempo que ele levou para mudar de atitude: ;Eu estava perdido antes de entrar no curso. Depois, comecei a me afastar de pessoas que faziam coisas erradas, que não queriam nada com a vida;. A escolha foi sábia. Mais de um ano depois, seu desempenho foi tão satisfatório que Robson foi convidado a participar de uma oficina e se apresentar na Universidade Livre do Circo, a Unicirco, criada pelo ator e notório circense Marcos Frota e atualmente montada ao lado da Biblioteca Nacional. ;As pessoas com quem eu andava naquela época morreram ou estão presas;, diz. Robson se salvou. Na quarta-feira, jogou capoeira pela primeira vez na Unicirco para uma plateia de 2.500 pessoas. ;Tem sido uma experiência maravilhosa. Posso aprender cada vez mais.; O
Robson de antes são águas passadas. O circo vai embora na segunda-feira e, se ele pudesse, iria junto. Mas vai ficar e, pela primeira vez, ele tem planos para o futuro. Quer voltar a estudar ; só chegou até a 8; série ; e ter uma profissão. ;Quero fazer o curso de vigilante. Quero fazer tudo certo daqui pra
frente.; Se um dia ele foi considerado má companhia, hoje ele tem convicção de que é um exemplo de superação.
Sui generis
O picadeiro no qual Robson executa piruetas e mortais é o mesmo em que Helber Rocha de Oliveira ginga bolas ou claves em malabarismos. ;Eu sou essa peça rara aqui;, se autodenomina o jovem de 18 anos. Faceiro e sorridente, ele faz as manobras com os três elementos parecer muito fácil. Talvez porque para ele tenha sido. Dominou os malabares em uma semana. Gostou tanto que levou o equipamento para treinar em casa, em Arapoanga, um dos bairros de mais alta criminalidade em Planaltina.
Helber, assim como os 1.783 adolescentes atendidos pelo Protejo entre janeiro de 2009 e fevereiro deste ano, conhece de perto a violência. Aprendeu com as oficinas e com a Unicirco que as escolhas certas podem levá-lo a um lugar melhor. ;O Protejo me ensinou a persistir, a ir até o fim. A acreditar que as coisas podem ser diferentes. Meu pensamento mudou, minhas amizades mudaram;, afirma. Helber voltou a estudar, quer terminar o 2; grau. Hoje, ele pode fazer malabarismos, mas agora sabe que não precisa passar o resto da vida se equilibrando em uma corda bamba. Quer crescer e jura que vai investir em um sonho antigo: ser professor de Educação Física.
Filho de Marcos Frota e diretor artístico do circo, Apoena Frota acredita no potencial transformador da arte. ;A Unicirco tem um mote: um projeto artístico com atitude social. A gente tem a pedagogia da convivência, você está o tempo todo aprendendo. Por onde a Unicirco passa, a gente propõe essa filosofia. O Protejo e a Unicirco têm uma afinação de alma;, analisa. Segundo o coordenador artístico e pedagógico dos espetáculos, Richard Moreno, muitos jovens do Protejo chegam ao circo sem acreditar que vão conseguir fazer o que os profissionais fazem, mas, com o incentivo certo, chegam lá. ;Ver esses meninos fazendo malabares com apenas duas semanas de prática, isso prova um ponto para nós e para eles. Mostra que eles são capazes;, diz.
PROGRAME-SE
Somos todos brasileiros
Hoje, às 20h
Amanhã, às 17h e às 20h
Domingo, às 17h e às 20h
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Informações: 8217-4872