postado em 12/06/2010 07:56
As aulas da Universidade de Brasília (UnB) foram retomadas há cerca de um mês, após um longo período de greve, e a instituição começa a discutir novas regras de convivência no ambiente acadêmico. O reitor José Geraldo de Sousa Júnior convocou diretores de institutos e faculdades para debater as queixas dos professores sobre excessos que estariam sendo cometidos pelos alunos. Os docentes reclamam principalmente do alto volume empregado em equipamentos de som nos centros acadêmicos (CAs) e do consumo de álcool e drogas durante as festas informais dos estudantes dentro do câmpus do Plano Piloto.[SAIBAMAIS]Diante dos protestos dos professores, o reitor admite mudanças, embora defenda que as festas devem fazer parte da vida universitária. ;As festas e o lazer devem existir, mas devem se compatibilizar com o resguardo e o silêncio. O território está mal distribuído e falta espaço para a celebração, mas precisamos definir quais são eles e, se preciso, criar mais alguns;, sinaliza José Geraldo.
A solução será bem-vinda entre os professores. De acordo com o vice-presidente da Associação de Docentes da Universidade de Brasília (AdUnB), Ebnezer Nogueira, dar aulas na instituição está virando uma missão complicada. Além do barulho, não há espaço para tantas turmas. Ele explica que salas de aula localizadas no subsolo do Instituto Central de Ciências, conhecido como Minhocão, foram tomadas por alunos, com o intuito de alojar centros acadêmicos de novos cursos. O espaço, conhecido como ;Corredor da Morte;, é dividido entre estudantes concentrados em seus conteúdos, música alta e até uma ;carta de vinhos; afixada em uma das paredes.
;Daqui a pouco, daremos aula debaixo das árvores. Já recebi o pedido de um professor que queria usar o espaço físico do sindicato para lecionar, porque falta espaço no prédio;, protesta Nogueira. ;Na quinta-feira à tarde, é impossível dar aula, as festas estão com som altíssimo. Tem gente bêbada andando pelo câmpus. E quem paga por isso é você;, reforça o professor de bioquímica clínica da UnB Marcelo Hermes Lima. Ele relata que é comum professores desistirem de dar aulas por não conseguirem competir com o barulho do lado de fora da sala.
Alunos divididos
Entre os alunos, a questão divide opiniões. O estudante de física Juarez Mesquita, 19 anos, defende que centros acadêmicos são feitos para promover festas. ;Mas, para que não sejam irregulares, a universidade poderia criar espaços próprios para isso;, defende. Em relação às festas, a presidente do Centro Acadêmico de Agronomia, Emanuele Cardoso, 20 anos, afirma já ter recebido várias reclamações. ;Tem que haver regras. Drogas ilícitas, por exemplo, não deveriam ser permitidas. Mas as lícitas, sim;, afirma. Para a aluna do curso de ciências contábeis Dayane Freitas, 18 anos, há questões mais importantes para a instituição. ;Com a greve dos funcionários, ninguém consegue o carimbo para recarregar o passe livre, por exemplo;, cita.
;Estudante é jovem e, na Copa, vai comemorar ainda mais. Não podemos deixar que isso interfira no trabalho acadêmico;, ressalta o coordenador de Comunicação Institucional da UnB, Isaac Roitman. Para evitar ainda mais barulho e confusão, a Secretaria de Comunicação da instituição começou a planejar uma campanha para reforçar nos alunos a conduta ideal em um ambiente de ensino. ;É preciso achar o caminho correto entre a alegria da juventude e a seriedade da academia;, reforça Roitman.
De acordo com o reitor da UnB, a área do Minhocão onde foi criado o ;Corredor da Morte; será reformada, pois não é adequada para salas de aulas ou mesmo para centros acadêmicos. As turmas que frequentavam aulas no local foram remanejadas para outros prédios e, assim que as novas edificações da UnB forem entregues, os CAs também serão.
As regras que definem como devem ser realizadas as festas dentro da universidade foram criadas em 2003, mas devem ser alteradas em breve. ;Há uma minuta para substituir este texto que será debatida dentro da UnB;, explica José Geraldo. Os próximos encontros ainda serão agendados.