Cidades

Mortalidade materna no DF é de duas vezes e meia maior que o nível tolerado pela OMS

Doenças hipertensivas são as que mais matam as gestantes

Adriana Bernardes
postado em 14/06/2010 07:00
A taxa de mortalidade materna no Distrito Federal é duas vezes e meia maior do que o preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No ano passado, 20 mulheres morreram por complicações na gravidez para um total de 39.605 bebês nascidos vivos. Para atender a meta da OMS, o número de mortes não poderia ser superior a 7,9. As doenças hipertensivas, as hemorragias, as infecções e os abortamentos, nessa ordem, são os principais motivos das mortes.

Proporcionalmente, a taxa do DF gira em torno de 50,4 mortes por 100 mil bebês nascidos vivos. A situação é ainda mais preocupante porque, nos últimos anos, o governo local não tem conseguido reduzir os índices. Por conta disso, especialistas afirmam que é praticamente impossível que a capital do país atinja a meta acordada pelo Brasil com a Rede de Intercâmbio e Difusão de Experiências Exitosas para Alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Um desses objetivos é reduzir em 75% a taxa de mortalidade materna de 1990 (leia Para saber mais).

Para ficar dentro da meta pactuada, o DF precisará chegar a 2015 com 30 mortes por 100 mil nascidos vivos (número proporcional), tarefa considerada impossível pelo médico obstetra da Secretaria de Saúde do DF Avelar de Holanda Barbosa. ;O problema é que, nos últimos seis anos, as nossas taxas estão estáveis e altas. Para termos sucesso, ela deveria estar caindo desde 2000;, ressalta.

Segundo Barbosa, diferentemente da mortalidade infantil ; em que apenas o incentivo ao aleitamento materno provoca melhoria nas estatísticas ;, a curva da mortalidade materna demora a cair. ;Quase 98% das mortes são evitáveis. Mas o sistema de saúde precisa melhorar como um todo, e isso não aconteceu nos últimos anos. Não estou falando de mais dinheiro. O que precisamos é de bons gestores de saúde.; Na opinião do obstetra, o Brasil e Brasília deveriam ter índices muito superiores. Segundo ele, Argentina, Chile e Cuba estão em condições bem melhores.

Pré-natal
Um dos caminhos para reduzir a mortalidade é a melhoria da qualidade do pré-natal. No Brasil ; assim como no DF ;, o número de consultas durante a gestação aumentou mas, segundo os especialistas, o atendimento não é de qualidade ou não é integrado com as maternidades. Avelar cita pelo menos dois problemas detectados na rede há poucos dias: faltou material para fazer a tipagem sanguínea e reagentes para testes de sífilis. ;São duas coisas importantíssimas para a saúde da mãe e do bebê. Aliado a isso, você pega um doutor despreparado, que nem toca na mulher, não descobre patologias que podem ser tratadas e aí está dada a receita para o desastre.;

A auxiliar de serviços gerais Ana Dias dos Santos, 26, está no oitavo mês da terceira gestação. O primeiro filho nasceu vivo, mas morreu logo em seguida porque, segundo os médicos, respirou líquido da placenta. Um tempo depois, ela engravidou novamente e sofreu aborto ao completar um mês de gestação. Por conta do histórico, Ana foi incluída no pré-natal de alto risco. Dessa vez, está tudo bem com ela e o bebê, que vai se chamar Cauã. Sobre a rotina de consultas, Ana diz que muitos médicos fazem exames superficiais. ;Se você não chegar falando tudo, eles não perguntam nada. Quando você fala demais, perdem a paciência. Acho que deviam ser mais atenciosos.;

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