Cidades

Brasília andou em marcha lenta nesta terça

postado em 16/06/2010 07:00

Foi um engarrafamento que o Eixo Monumental não experimentava havia tempos. Só em passeata de sem-terra ou em manifestação de produtores rurais, que trazem seus tratores e caminhões para as pistas da Esplanada. Por volta das 14h35, do Teatro Nacional até o Palácio do Buriti, levava-se 35 minutos. Todas as seis pistas a caminho da Rodoferroviária estavam lotadas. Uns ainda tentavam mudar de faixa, o que atravancava ainda mais o trânsito.

Mas é nessas situações que se percebe o comportamento de um povo. Pode-se dizer que os brasilienses são educados como poucos. Não se ouviam buzinas. Nos rostos dos motoristas e dos acompanhantes, um misto de ansiedade e de frustração antecipada por, talvez, perder o início do jogo. Houve gente cuja sorte estava do lado contrário, como o dono de um carro azul marinho, que teve de trocar pneu pouco antes da Torre de TV.

Paciência! Era o que todos se obrigavam a ter. Alguns a perderam, como o jovem ocupante de um Astra preto 2.0, que esbravejava ao celular: ;Você não está entendendo. Eu já falei que não tem como sair daqui;. Um pouco depois, na faixa mais à esquerda, passou lentamente um utilitário Mitsubishi prata, de cabine dupla. O passageiro, ao celular, conversava com o amigo: ;Eu espero que você já ;arrumou; umas duas gatas. Por que, se você chegou aí e ainda não arrumou nada é porque você tá fraco, véi;.

Na faixa reservada normalmente aos ônibus, um transporte da Viação Pioneira trafegava com dois passageiros com ar de derrota, resignados. Dificilmente chegariam aonde quer que fossem antes do segundo tempo. Outra característica dos brasilienses aflora nos engarrafamentos: em vez de buzinar, preferem ouvir música. Em volume alto, talvez, para compartilhar com todos. Os estilos variavam: funk, pop, axé e o embalo da música eletrônica que extrapolava as janelas abertas de um Palio prata. A motorista ouvia um DJ, anunciado pelo locutor como ;o fera das pistas;. No retrovisor, balançava um dado gigante de veludo laranja acompanhado de um tercinho prateado.

De janelas fechadas, as passageiras de um Gol branco pareciam devotadas ao silêncio. No adesivo do vidro lateral, lia-se: ;Justiça e paz se abraçarão;. Elas entraram à esquerda na altura do Palácio do Buriti, onde o trânsito começou a fluir normalmente. Até o próximo jogo.

Teresa Mello é subeditora do caderno Diversão & Arte

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