Uma pesquisa que analisou o sistema de cotas antes e depois de ser implantando, no segundo semestre de 2004 na Universidade de Brasília, mostrou que comparado a outras políticas de acesso do negro ao ensino superior ; que levam em consideração a renda familiar ou o histórico escolar ; é o mais eficiente para promover a diversificação de raças dentro da universidade. O acesso à universidade representou também um incentivo à identidade racial, fazendo com que os candidatos e alunos assumam a identidade étnica com mais naturalidade. O estudo revelou ainda que, em relação ao desempenho escolar, a diferença nas notas dos cotistas e não cotistas é menor do que a verificada entre mulheres e homens.
A pesquisa foi iniciada há três anos pelos professores Maria Eduarda Tannuri-Pianto, do Departamento de Economia da UnB, e Andrew Francis, da Emory University, dos Estados Unidos. Os dados divulgados referem-se à primeira parte do estudo, que entrevistou, entre 2002 e 2005, 3 mil alunos cotistas e não cotistas, um universo que corresponde a 40% dos estudantes da UnB nesse período. Os professores pretendem acompanhar os universitários até o ingresso deles no mercado de trabalho. Dados pessoais e familiares foram levantados, mas as questões raciais foram mascaradas dentro dos questionários para fazer um mapeamento dos alunos sem interferências de comportamento e de oportunistas.
De acordo com Maria Eduarda, muitos dos alunos cotistas, de diferentes áreas de graduação, passariam no vestibular convencional porque estão acima das notas de corte do sistema universal. O desempenho deles na universidade, entretanto, é um pouco menor do que a de alunos que ingressaram pelo meio tradicional, mas no decorrer no curso, essa diferença é mitigada.
Em uma escala de zero a cinco, os cotistas têm desempenho 0.14 ponto inferior aos nãocotistas. ;A diferença da média geral acumulada é menor do que a comparação entre homens e mulheres;, destacou ela. Se comparar o desempenho de cotista e não-cotista com a mesma nota de entrada no vestibular, a diferença é ainda menor. A diferença cai para 0,08 ponto numa escala de zero a cinco. A pesquisa não mostrou evidências de que houve aumento no esforço para passar pelo sistema de cotas, mas nem trouxe dados que comprovem a redução. ;Isso mostra que eles não fizeram corpo mole porque tinham chance reais de passar;, diz a pesquisadora
Igualdade
O professor do Instituto de Artes e coordenador do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros da UnB Nelson Inocêncio afirma que o resultado preliminar da pesquisa mostra que a política de implantar as cota está correta. ;O discurso de uma possível queda de qualidade do desempenho dos alunos caiu por terra;, diz. Para o professor, quem criticou as cotas raciais fizeram uma presunção negativa que não se confirmou. ;É preciso investir mais nas políticas de diversidade. Não adianta afirmar, de maneira enganosa, que as oportunidades são as mesmas.;
Os alunos da UnB encararam o resultado da pesquisa como um confirmação do que eles já sabiam. Johnatan Reis, 20 anos, entrou para o curso de serviço social no ano passado por meio do sistema de cotas. ;Quando a gente entra, a matéria e as aulas que temos são as mesmas dos não cotistas. Tenho que fazer o mesmo esforço para passar. O quanto estudei no ensino médio ou a minha nota no vestibular não interessam;, analisa. Para ele, apesar dos resultados equivalentes, os cotistas ainda são estigmatizados. ;Muitas pessoas ainda pensam que a nota inferior no vestibular vai se perpetuar ao longo da vida acadêmica do cotista, o que a própria pesquisa desmente;, diz.
Johnatan acredita que o sistema de cotas continua sendo necessário como um mecanismo de inclusão social e racial. ;Acho que as cotas são um incentivo para que o negro entre na universidade e para que a sociedade tenha mais profissionais negros. O impulso foi dado e daí para a frente, não importa a cor da pele de um aluno ou a forma pela qual ele entrou.;
Linikker Araújo Conrado, colega de turma de Johnatan, é contrário ao sistema de cotas raciais. Para ele, essa alternativa ;nasceu caduca;. Mesmo sendo negro, ele ingressou na UnB pelo sistema universal e defende as cotas sociais, por entender que é um modelo mais abrangente, que beneficiaria um número maior de pessoas que não tiveram oportunidades. ;A pesquisa prova que cor não faz a menor diferença;, afirma Linikker.
Pedro Paulo Mendes, 22 anos, estudante de engenharia de redes, compartilha do mesmo entendimento de Johnatan. ;Vai mais da pessoa do que da raça. É uma questão de inteligência e de dedicação;, afirma. ;Esse estudo mostra que os dois têm capacidades iguais. Mas acho que as cotas são fundamentais para a inclusão social. E, no futuro, haverá igualdade e elas não serão mais necessárias;, projeta.
PARA O TRF, GREVE DE SERVIDOR É LEGAL
Para frustração da Advocacia-Geral da União (AGU), o Tribunal Regional Federal julgou legal a greve dos técnicos-administrativos da Universidade de Brasília. Hoje, às 9h30, na Praça Chico Mendes, a categoria realiza uma assembléia-geral para discutir os rumos do movimento. Com a decisão, o Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub) e os grevistas estão livres da multa diária de R$ 100 mil e corte de ponto da categoria. Em contrapartida, a Justiça determinou que 100% dos servidores do Hospital Universitário de Brasília (HUB) e 80% do Restaurante Universitário (RU) têm que comparecer ao trabalho. Agora, a preocupação dos trabalhadores é quanto ao parecer da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, sobre o pedido de liminar feito pelo Sintfub pela garantia da URP. Hoje, às 16h, os advogados do Sintfub têm uma audiência com a ministra