postado em 18/06/2010 08:19
Noelle OliveiraMariana Moreira
Mariana sacramento
Longas filas, impaciência e o dia de trabalho perdido. Essa foi a realidade enfrentada ontem por grande parte dos brasilienses que dependem do transporte público no Distrito Federal. Com 25% da frota reduzida, segundo os trabalhadores, e 52%, de acordo com os patrões ; devido ao cancelamento das viagens extras que reforçam o número de coletivos durante os horários de pico ;, era comum ver ônibus lotados passarem direto pelas paradas, impossibilitados de levar mais passageiros. Ao todo, cerca de 250 mil pessoas foram prejudicadas com o movimento batizado de Jornada legal, que deve se repetir hoje. Enquanto isso, os donos de ônibus cobram aumento de tarifa. Em nota, eles disseram ontem que só podem conceder reajuste aos rodoviários caso as passagens aumentem em um percentual (1)superior a 28%. A correção, por enquanto, é descartada pelo governo.
De acordo com o Sindicato dos Rodoviários, 599 coletivos permaneceram nas garagens ontem ; o que representa um quarto do total de 2,4 mil ônibus que compõem a frota. A situação irritou os moradores de São Sebastião. Revoltados, eles fecharam a via principal de acesso da cidade no sentido Plano Piloto. Os ônibus que tentavam passar eram impedidos, bem como os carros de passeio. A Polícia Militar foi chamada para conter a manifestação, mas não houve confronto.
A via permaneceu interditada das 7h às 10h, quando três viaturas da Ronda Ostensiva Tática Motorizada (Rotam) foram chamadas para retirar os moradores, caso eles não liberassem a pista. O movimento, no entanto, foi desarticulado pelos próprios manifestantes. Nos ônibus bloqueados pela manifestação, passageiros cobravam o reembolso dos valores já pagos pelas passagens, o que é proibido pelas empresas. Duas cobradoras precisaram sair dos coletivos em viaturas da Polícia Militar. ;Eles me cercaram, não posso devolver esse dinheiro;, afirmou, aos prantos, uma delas, que saiu escoltada sob os gritos dos manifestantes.
Recusa
A empresa Viva Brasília chegou a enviar dois ônibus para levar de graça a população, indignada, até a Rodoviária do Plano Piloto. Muitos, no entanto, recusaram o transporte. ;Já perdi o meu dia de serviço. Estou esperando desde as 6h e agora eles mandam ônibus, isso não existe. Ou fazem essa greve direito ou param com isso;, ressaltou a empregada doméstica Oricélia Maria de Jesus, 31 anos, que trabalha no Lago Sul e não conseguiu chegar ao seu destino. Quem resolveu usar o transporte oferecido pela empresa foi recriminado pelos manifestantes, que xingaram os colegas e tentaram impedir os carros de deixar a via. O trânsito precisou ser desviado pela PM.
Durante o protesto, o carro de um homem chegou a ter a lataria amassada por manifestantes. O motorista tentou agredir os populares com um facão, mas foi detido pelo policiais. Mesmo após a manifestação, militares da Rotam permaneceram nos pontos de ônibus da cidade para evitar novos protestos.
Enquanto isso, na BR-020, em Planaltina, mais gente se revoltava contra os ônibus lotados. Às 6h, a auxiliar de serviços gerais Maria Leni Castro, 43 anos, chegou à parada em frente à Mestre D;Armas, com os dois filhos, Vinícius, 10 anos, e Lucas, 6. Como sempre, ela deixaria as crianças, às 7h15, na escola em que estudam, na 708 Norte, e iria para o trabalho, na mesma região. Às 8h, no entanto, ela não havia conseguido nenhum ônibus com vaga para levar as duas crianças. ;Acho que vou deixá-los em casa e voltar para ir sozinha, dou um jeito de me espremer. O problema é que não tenho ninguém para ficar com os dois e, no trabalho, não aceitam que a gente leve os filhos;, lamentou. Em Sobradinho, no Paranoá e em Ceilândia, as filas de passageiros eram grandes. Sem a totalidade dos ônibus nas ruas, o metrô circulou com cerca de 30% a mais de passageiros pela manhã.
Os passageiros de ônibus não ficarão livres dos transtornos tão cedo. ;A decisão é manter a redução da frota até domingo. A greve (2)está marcada para segunda-feira e, se nada mudar, será inevitável;, afirmou o presidente do Sindicato dos Rodoviários, João Osório da Silva. No fim da tarde de ontem, os usuários do sistema enfrentaram mais filas e coletivos lotados para voltar para casa.
1 - Cálculo
Os donos das empresas de ônibus dizem que trabalham com o deficit mensal de 28% decorrentes da falta de reajuste nas tarifas há quase cinco anos. Eles reclamam que a contrapartida do não aumento de passagem seria a isenção do imposto sobre o óleo diesel e sobre o IPVA, medida revogada pelo governo.
2 - Ameaça
A assembleia que decidirá o futuro da greve dos rodoviários no DF está marcada para as 10h do próximo domingo na sede do Sindicato dos Rodoviários, no Conic. Há possibilidade de greve geral da categoria, por tempo indeterminado, a partir da próxima segunda-feira.
IMPACTO
Preço médio da passagem no DF: R$ 2,50
Caso o aumento de 28% reivindicado pelos empresários fosse aplicado, esse valor passaria para R$ 3,20
GRUPO É CONDENADO
A Justiça Trabalhista de Brasília condenou o Grupo Canhedo e o Hotel Nacional a pagarem R$ 2 milhões por danos morais decorrentes da prática de dispensar os empregados por justa causa, sem que o motivo da demissão estivesse enquadrado nas leis trabalhistas. A 3; Vara do Trabalho acatou pedido do Ministério Público do Trabalho, que constatou a prática ilegal. A decisão prevê que o Grupo Canhedo se abstenha de orientar, induzir e coagir seus empregados a ingressarem na Justiça para receberem as verbas rescisórias. Se houver descumprimento das medidas determinadas pelo Judiciário, o MPT será acionado para requerer as providências devidas.
Fiscalização está de olho
Em resposta à redução dos ônibus impostas pelos rodoviários, que reivindicam aumento salarial de 20%, os empresários afirmam que não vão pagar o adiantamento de 40% do salário e nem a cesta básica da categoria previstos para hoje. Em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo do DF (Setransp-DF) disse que firmou, no último dia 15, um acordo com os trabalhadores. Caso eles não fizessem nenhum movimento até a próxima assembleia, os benefícios seriam concedidos. A divisão da remuneração teria sido acertada no acordo coletivo, vencido no dia 31 de abril. ;O que eles estão falando é uma inverdade. Não houve acordo nenhum, nós não queremos um acordo de cinco dias, mas de um ano inteiro;, disse o diretor do sindicato dos trabalhadors Lúcio Lima.
Outra polêmica entre patrões e empregados é referente ao percentual de ônibus por linha que estão circulando no Distrito Federal. Ontem, os empresários informaram que iriam recorrer à Justiça alegando que os trabalhadores estariam descumprindo a decisão do juiz Paulo Blair, que exige 60% das linhas em operação. Segundo o Sindicato dos Rodoviários do DF, apenas 25% dos ônibus estariam parados nas garagens. Para os empresários, o percentual seria de 52%. O gerente de Fiscalização do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFtrans), Pedro Jorge Brasil, afirmou que 75% dos ônibus estão rodando. O oficial de justiça do Tribunal Regional do Trabalho Jayme Batista da Silva esteve ontem à noite na Rodoviária do Plano Piloto e constatou que a circulação dos coletivos estava normal.