Cidades

Com tumulto, PMDB confirma apoio ao PT

Com 97 votos, peemedebistas aprovaram a chapa Agnelo-Filippelli. A outra, encabeçada pelo governador Rogério Rosso, saiu derrotada, com 22 votos. As eleições do partido ocorreram em meio a confronto de militantes

Flávia Maia, Ana Maria Campos
postado em 20/06/2010 08:08

Num clima de confronto, com militantes em carros de som trocando palavras de ordem, cabos eleitorais com camisetas caracterizadas e lanches distribuídos em caixas de panetone, a convenção regional do PMDB confirmou ontem com larga maioria a aliança com o PT. Entre os 122 convencionais, houve 97 votos a favor da chapa em que o deputado Tadeu Filippelli (PMDB) será o vice do petista Agnelo Queiroz. A candidatura própria, com o lançamento do atual governador do DF, Rogério Rosso, à reeleição teve 22 votos. Houve dois votos em branco e um nulo. Às vésperas do início da campanha, no entanto, o PMDB está em guerra refletida numa troca de agressões entre os manifestantes.

Nos bastidores, Rosso anuncia que sua administração será outra a partir de amanhã, sinalizando que poderá mudar a equipe. A postura do governador de enfrentar os caciques nacionais e regionais do partido, como os presidentes da Câmara, Michel Temer (SP), e do Senado, José Sarney (AP), favoráveis à composição com o PT aos moldes do arranjo nacional, vai render a Rosso um Daniel Ferreira/CB/D.A Pressprocesso na Comissão de Ética do PMDB, que pode até provocar a sua expulsão. Aliados do governador apostam que, como sinal do clima beligerante, haverá mudanças na área de obras, onde Filippelli exerce ainda certa ingerência. A expectativa também é de que Rosso, ao não se sentir mais obrigado a manter lealdade com o partido, exonere até o início de julho comissionados indicados por peemedebistas que apoiaram a aliança com o PT. O governador nega: ;Não haverá perseguição;.

A possibilidade de participação de Rosso na convenção foi conquistada às 2h30 de ontem. Uma liminar em Mandado de Segurança expedida pelo juiz Ricardo Faustini, no plantão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT), autorizou o registro da chapa Rogério Rosso como candidato ao governo e Ivelise Longhi, também do PMDB, como vice. O magistrado, no entanto, rejeitou um outro pedido protocolado pela advogada do governador, Luciana Lóssio, de exclusão de 51 convencionais inscritos pelo presidente regional, Tadeu Filippelli, sem votação dos peemedebistas. Ele considerou que esse assunto não seria tema a ser tratado de forma emergencial na madrugada.

Sem efeito
Foi, então, uma vitória judicial sem efeito. Para ter chance de vencer, Rosso precisava reduzir o quorum da convenção. Com a manutenção dos 51 eleitores escolhidos por Filippelli, ele já contabilizava a derrota. Na véspera, a executiva regional do PMDB vetou a chapa encabeçada por Rosso sob o argumento de que ele descumpriu compromisso fechado nas negociações que o levaram ao governo nas eleições indiretas da Câmara Legislativa. Rosso assegurou que conduziria o Palácio do Buriti para a estabilidade política depois da crise provocada com a Operação Caixa de Pandora sem se envolver na campanha eleitoral de outubro.

Rosso chegou na convenção por volta do meio-dia. Vestia uma camiseta com os dizeres: ;O PMDB tem nome;. Subiu no carro de som e teve dificuldades para discursar por causa da confusão. Começou, então, um confronto entre os manifestantes. O governador pedia paz, mas ninguém ouvia. O trio elétrico do integrante da executiva regional Márcio Antônio da Silva, conhecido como Marcinho, com volume altíssimo, abafou o pronunciamento de Rosso. Do lado de dentro, já no plenário da convenção, o governador disse ao Correio que enfrentava um ;jogo de cartas marcadas;. E justificou a candidatura: ;Disseram que quebrei um contrato. Vou quebrar quantas vezes forem necessárias porque é um acordo muito ruim para a população. Um acordo onde prevalecem interesses individuais;.

No pronunciamento aos convencionais, garantiu que respeitaria o resultado qualquer que fosse o placar. Foi pouco aplaudido pelos aliados do presidente regional do PMDB. Tadeu Filippelli só chegou à reunião três horas depois que o adversário havia ido embora. Certo da vantagem, ele nem quis recorrer contra a liminar que garantiu a candidatura de Rosso. Antes do anúncio da vitória, ele confirmou que a reviravolta de Rosso será tratada na Comissão de Ética como descumprimento de uma regra do Estatuto do PMDB. E Filippelli indiretamente ainda cobrou a ajuda que deu para que Rosso assumisse o governo em mandato-tampão. ;Continuaremos a manter uma relação de respeito e amizade. Demos uma demonstração como essa há dois meses quando, numa negociação muito difícil, conseguimos fazê-lo governador;, disse. Agnelo chegou ao plenário durante a divulgação do resultado.

"Foi um jogo de cartas marcadas. O acordo (com o PT) representa interesses de espaço de poder, difusos do interesse público, não transparentes. Uma conversa ruim para a cidade. Prefiro morrer lutando do que viver de joelhos."

Rogério Rosso


"Havia um compromisso de não reeleição que não cessava no PMDB e incluía acordo com outros partidos. Foi um descumprimento do acordo do partido. Por isso, o caso será tratado pela Comissão de Ética.;
Tadeu Filippelli

Colaborou Camila de Magalhães

Pancadaria na entrada

Os ânimos ficaram exaltados ontem durante o encontro dos militantes do PMDB na sede do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do DF (Crea), na 902 Sul. Por volta do meio-dia, a situação se agravou quando o governador Rogério Rosso chegou ao prédio para votar se o partido teria uma chapa própria ou apoiaria o PT.

Ao tentar discursar no trio elétrico, Rosso e a vice Ivelise Longhi foram interrompidos várias vezes pelo som dos trios elétricos do Marcinho, que apoiava o deputado Tadeu Felippelli. Impacientes com o barulho, correligionários de Rosso começaram a atacar um dos trios de Marcinho.

Copos, caixas, pedaços de madeira e hastes de bandeiras foram atirados nas pessoas que estavam em cima do trio. Do alto, os militantes também começaram a atirar objetos em quem estava embaixo. Com o confronto, a vigilante Priscilla Rosa Santos, 32 anos, teve luxação no braço e um dente quebrado. ;Eu estava embaixo do trio e nem vi nada direito, só senti depois o que aconteceu;, conta a militante de Filippelli. Outros correligionários tiveram ferimentos leves e ninguém foi hospitalizado.

Polícia
O confronto durou menos de 10 minutos porque os 30 policiais militares presentes no local logo entraram em ação. Durante a confusão, o governador pediu para que a violência parasse. Mesmo depois do conflito, alguns militantes de Rosso permaneceram com cabos de vassoura nas mãos.

A PM estima que pelo menos 3 mil pessoas estiveram durante todo o dia na convenção. Ainda pela manhã, o grupo jovem ;Turma dos Ratos;, simpático à candidatura de Rosso ao governo do DF, chegou a bater-boca com jovens que apoiavam Filippelli. Rosso chegou a usar o bené da turma do Recanto das Emas quando fazia discurso em cima do carro de som.

O prato típico do Natal que virou símbolo da Operação Caixa de Pandora voltou à cena da política brasiliense. Ontem, caixas de panetone estavam espalhadas por todo o pátio do Crea.

Cabos eleitorais com a mesma camiseta usada pelo governador distribuíram lanches com pão, fruta e suco de caixinha para os manifestantes que acompanharam a convenção.








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