Guilherme Goulart
postado em 22/06/2010 07:00
O universitário Leandro Coelho, 18 anos, descobriu em uma consulta de rotina que estava com o peso acima do ideal. Orientado pelo médico e preocupado com a vaidade, o jovem resolveu mudar de hábitos. Matriculou-se em uma academia e alterou a alimentação para queimar as gordurinhas. Cinco meses depois, o estudante de turismo comemorou os resultados: perdeu 2kg, criou o gosto pela prática de atividade física regular e hoje se sente mais confortável com o próprio corpo. ;Agora que comecei a comer mais salada e frutas estou me sentindo bem melhor;, afirma o morador da Asa Sul. A melhoria na rotina de Leandro confirma uma tendência no Distrito Federal. Um levantamento do Ministério da Saúde colocou a capital do país entre as em que mais há pessoas com hábitos saudáveis. A pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2009 revelou que 20,6% da população candanga pratica atividades regulares ; a média brasileira é de quase 15%. ;O DF está muito bem na prática de exercícios físicos;, resume a coordenadora do trabalho, Deborah Malta.
Os dados indicam ainda que a capital federal tem 36,2% de homens e mulheres com excesso de peso (leia arte). É o menor índice entre as 27 unidades da Federação. O primeiro lugar ficou com Rio Branco (AC), com 52,2%. O Distrito Federal também aparece na penúltima posição no ranking nacional da obesidade ; Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 30. Segundo o estudo, a região abriga 9,3% de pessoas obesas. Apenas Palmas (TO) tem quantidade menor no país: 8,8%. Os pesquisadores da Vigitel ouviram no ano passado 54 mil brasileiros. Dois mil em cada capital.
No DF, a preocupação com a saúde não faz distinção de sexo, idade ou classe social. A diarista Nizete Campos, 50 anos, descobriu sofrer de hipertensão há uma década. Sem tempo para praticar atividades físicas, a moradora do Riacho Fundo II minimiza os problemas com uma alimentação moderada. À noite, dá preferência a alimentos mais leves. ;Se a fome não apertar, tomo só um suco ou um copo de leite;, explica. Ela compensa o sacrifício no almoço. ;Não dá para ficar sem comer. Mas evito alimentos gordurosos;, ensina Nizete.
Precavida, a bancária Simone Aguiar, 30 anos, procurou uma academia para evitar o sedentarismo. ;A consciência pesou. E os problemas de saúde andam ao lado do avanço da idade;, diz. Além disso, a moradora de Taguatinga sentia dores musculares. Em um mês de atividades físicas, o mal-estar cessou e Simone percebeu os benefícios da prática regular de exercícios. A balança, no entanto, não é inimiga da bancária. ;Estou satisfeita com meu peso, quero ganhar massa muscular;, esclarece.
A professora de musculação Talita Flausino, 25 anos, concluiu o curso de educação física em São Paulo. Pegou o diploma e decidiu procurar emprego em Brasília. ;Aqui tem mais campo. Quase todas as entrequadras do Plano Piloto têm uma academia;, estima. Para a paulistana, a população da capital do país se preocupa mais com a saúde e o peso do que os moradores da cidade natal. ;Além dos sarados, há muitos gordinhos e idosos que fazem exercícios todos os dias;, constata Talita, funcionária de uma academia da 203 Sul.
Prevenção
A psicóloga Eliana Rigotto Lazzarini acredita que as opções de lazer e de áreas verdes no DF podem ter contribuído para o resultado do levantamento do Ministério da Saúde. ;Essas alternativas fazem com que as pessoas não fiquem confinadas. Se Brasília dá mais possibilidade de se viver ao ar livre, diminui a chance de se descontar problemas ou dificuldades na alimentação;, avalia. Ainda assim, Eliana alerta que existe concorrência para cirurgias de redução do estômago na capital. A especialista implantará na Universidade de Brasília (UnB) um projeto específico de assistência a obesos.
Para Deborah Malta, a conclusão da Vigitel 2009 no DF também pode ser explicada a partir do maior acesso dos candangos à informação. ;É uma população que se alimenta melhor, faz mais atividades físicas regulares e tem mais escolaridade;, detalha. Deborah explica ainda que a pesquisa serve como referência para a adoção de políticas públicas capazes de combater o sedentarismo e as doenças crônicas muitas vezes associadas aos maus hábitos, como a hipertensão arterial e o diabetes.
Para reduzir a quantidade de obesos, por exemplo, o Ministério, por meio das equipes da Estratégia Saúde da Família, orienta as famílias a ter padrões alimentares saudáveis. Desde 2006, a Política Nacional de Promoção da Saúde estimula a realização de atividades físicas em 1,5 mil municípios. De 2006 a 2009, o governo federal repassou R$ 122,4 milhões a todas as cidades que integram a Rede Nacional de Promoção da Saúde. Em 2010, a estimativa é de repassar outros 50 milhões para a sustentabilidade da rede.
"É uma população que se alimenta melhor, faz mais atividades físicas regulares e tem mais escolaridade"
Deborah Malta, coordenadora de Vigilância de Agravos e Doenças Não Transmissíveis do Ministério da Saúde
Deborah Malta, coordenadora de Vigilância de Agravos e Doenças Não Transmissíveis do Ministério da Saúde