postado em 22/06/2010 07:00
Naira Trindade,
Ary Filgueira e
Ariadne Sakkis
Com a greve dos motoristas e cobradores, o metrô ficou ainda mais lotado na manhã de ontem. A Companhia do Metropolitano estima um aumento de cerca de 40% no número de passageiros neste começo de semana. Diariamente, 160 mil pessoas utilizam o sistema. A procura por táxis também aumentou, em 25%. A maior demanda veio de Taguatinga, Águas Claras e Guará.
Assim como os ônibus, os micro-ônibus não circularam ontem. Os carros da Viação Planalto (Viplan) permaneceram estacionados no pátio da garagem de Sobradinho durante todo o dia. Às 5h, funcionários começaram a se encontrar do lado de fora dos portões, sem a intenção de dar partida nos motores. Acenderam uma fogueira para combater o frio enquanto esperaram os companheiros chegarem. Funcionários relataram que as próprias empresas barraram o acesso aos carros. Segundo eles, a orientação do Grupo Amaral ; dono das empresas Expresso Capital, Rápido Brasília, Rápido Veneza e Viva Brasília ; era para que os servidores sequer se apresentassem ao trabalho ontem.
Os trabalhadores justificaram o descumprimento da ordem judicial com a informação de que as empresas não depositaram os 40% de adiantamento do salário, tampouco entregaram as cestas básicas, como de praxe no dia 20 de cada mês. Quanto à população, que esperou nas paradas em vão, Valdenir Camilo, diretor de base do Sindicato dos Rodoviários, pediu compreensão. ;O sindicato tem a preocupação com os passageiros, tanto que fez o protesto por meio da catraca livre. Mas a negociação falhou e não tivemos mais como segurar a greve;, explicou.
Longas filas
Encolhida em uma blusa de lã que não deu por conta do frio, a copeira Cleide Moreira Silva, 32 anos, chegou ao ponto de ônibus na BR-020 próxima à entrada de Planaltina após uma caminhada de 10 minutos. Ela sabia que o transporte coletivo estaria caótico, mas tentou mesmo assim. Com misto de raiva e ironia, ela desabafou. ;Que Deus abençoe essa greve. Que Brasília toda fique sem ônibus. A vida da gente já é tão difícil, todo dia pego ônibus lotado e hoje ainda tem mais essa;, criticou. A oferta de transporte pirata era farta, mas esta não é uma opção para Cleide: ;Nem pensar. É muito perigoso;. Sua alternativa foi ligar para o serviço e anunciar a falta.
No Paranoá, a empregada doméstica Mônica Lopes Rêgo, 28 anos, esperou das 6h às 8h por um ônibus para a Rodoviária do Plano Piloto, de onde pegaria outro ônibus para o Sudoeste. Cansada, o jeito foi telefonar para a patroa e pedir ajudar. ;Ela vai vir me buscar, não tem outra forma de eu chegar. A gente acorda cedo, passa frio e nada. Se essa greve continuar, provavelmente vou passar a semana toda no trabalho e só volto para casa no fim de semana;, disse.
Moradores do Gama também se desgastaram com o tempo de espera nos pontos e terminais de ônibus. Os poucos rodoviários que arriscaram partir do terminal eram obrigados a parar mais à frente e desembarcar os passageiros e ainda sob vaias dos colegas. Revoltados com os companheiros de uma cooperativa de micro-ônibus que circulou, os grevistas atearam fogo em pneus e bloquearam a via. A confusão só terminou com a intervenção da Polícia Militar. Ninguém foi preso.
Em Samambaia, houve protesto em frente à garagem de uma empresa de ônibus. Cerca de 100 rodoviários formaram uma barreira no portão, impedindo que qualquer veículo saísse de lá. Mesmo assim, o transporte de passageiros corria solto na frente deles, porém do outro lado da BR-060. Então, um grupo de cobradores e motoristas se deslocou para lá e ameaçou os motoristas de transporte pirata. Só assim, o serviço foi interrompido.
Comércio
Segundo vice-presidente da Federação do Comércio do DF (Fecomércio), Antônio Augusto de Moraes, a paralisação influencia de forma negativa no setor. ;Muitos funcionários chegaram atrasados ou nem conseguiram comparecer ao trabalho. Isso repercute diretamente nas vendas, já que o número de vendedores não é suficiente e prejudica no atendimento ao cliente,; analisa. A princípio, apenas os atrasos serão tolerados. ;A lei determina que 60% dos ônibus circulem. Portanto, enquanto não se prove que o índice não foi respeitado, os comerciários que faltaram ao trabalho poderão ter o ponto cortado;, explicou. Na UnB, o Restaurante Universitário não abriu porque os funcionários não conseguiram chegar devido à greve de ônibus.
"Se essa greve continuar, provavelmente vou passar a semana toda no trabalho e só volto para casa no fim de semana;
Mônica Lopes, empregada doméstica
Mônica Lopes, empregada doméstica
Relate no site como você enfrentou o primeiro dia de greve dos rodoviários
Opinião do internauta
Leitores do Correio comentam a crise no transporte público provocada pela greve dos rodoviários:
Daniel Carvalho
;Governador, eu admiro suas palavras, só que queremos atitude. Mostra para os empresários que o GDF não é fonte de dinheiro para esses capitalistas. Cobra dos empresários os novos ônibus que são exigidos por lei.;
Gelsimar Francisco de Sousa
;Governador, não entendo porque são contra o aumento de salário do rodoviários. Será que ninguém vê a responsabilidade desses profissionais, com uma carga horária acima do normal? Veja bem os salários dos funcionários públicos e policiais todos aprovam e a segurança e a saúde continuam péssimas.;
Antonio Santos
;Se está dando prejuízo, por que o Canhedo e os outros empresários não vendem as empresas? Esse Canhedo enquanto estiver em Brasília e no comando do transporte vamos continuar com essa péssima qualidade de transporte e um dos mais caro do país.;
Júlio Albuquerque
;Várias empresas de ônibus devem rios de dinheiro em multa para o Detran. Essas dívidas não são cobradas. Os ônibus continuam andando e nada acontece. Vamos nós, cidadãos, dever um real de IPVA para ver o que acontece.;
Marcos Moraes
;Fico perplexo como na capital da República pode acontecer tal fato. Somos servidos pela pior e mais velha frota do país. Além do mais, os empresários decidem quando e com que frequência os ônibus devem circular. Nós, pobres usuários, temos que nos adequar a estes absurdos. Quem será por nós?;
Gisley Silva
;A capital do Brasil chegou a esse ponto. É o fim. Mas nós, brasilienses, já estamos acostumados com isso Toda semana tem uma greve. Daqui a alguns dias será que vai ter greve de propina?;
Maria Célia
;Onde estão as autoridades do DF? A Justiça manda rodar 60% e eles fazem de conta que nem sabem disso. Estamos largados nas mãos desses incompetentes que estão aí no poder e só olham para o próprio umbigo. A greve tem apoio dos empresários para conseguirem aumento de passagens. TRT, onde está a moral dos juízes?;
Saídas legais
Ônibus que vêm do Entorno podem servir como alternativas:
- Veículos de Águas Lindas (GO) (empresa Taguatur) que seguem para a Rodoviária do Plano Piloto passam por Ceilândia
- Ônibus de Santo Antônio Descoberto (GO) (empresa Santo Antônio Descoberto) que seguem para a Rodoviária do Plano Piloto passam por Taguatinga
- Coletivos que saem da Rodoviária do Gama e vão até Valparaíso. De lá, embarcam direto para o Plano Piloto na Viação Anapolina (Vian).
- Ônibus que saem de Planaltina de Goiás (empresa Rápido Brasília) passam por Planaltina e Sobradinho
- O metrô é a saída para os moradores de Ceilândia, Samambaia, Águas Claras, Guará, Taguatinga e Asa Sul
Eu acho...
"Além da redução do número de ônibus, tenho outro problema: uso passe livre, então só posso utilizar determinadas linhas. Pirata, não confio. Vou ficar dependendo de carona.;
Cledemildo Rodrigues, 31 anos, estudante, morador de Planaltina
Eu acho...
"A greve atrapalha muito a vida. Tenho medo de sair para o trabalho e não ter como voltar. Se a paralisação continuar, vou ter que apelar para o transporte pirata.;
Rogério Santos Lima, 27 anos, eletricista, morador de Planaltina