Ana Maria Campos
postado em 23/06/2010 05:42
A direção nacional do DEM já comunicou ao ex-governador Joaquim Roriz (PSC) que terá projeto próprio nas próximas eleições e estará fora da coligação em torno de sua candidatura ao Governo do Distrito Federal. Os democratas tentaram construir uma coligação com o PPS e o PSDB, mas a tendência dos tucanos é optar pela aliança com Roriz. A legenda que comandou o Distrito Federal nos últimos três anos, com José Roberto Arruda e Paulo Octávio, pretende dar um passo à frente em relação aos aliados nacionais, anunciando a disposição de lançar cabeça de chapa na disputa de outubro. O nome para a corrida ao Executivo é o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF). O senador Adelmir Santana (DEM) deve concorrer à reeleição.A chapa própria do DEM será discutida hoje pela executiva nacional em reunião ao meio-dia. Em seguida, o comando regional da legenda deverá anunciar a chapa, em princípio puro-sangue. O PPS é o aliado preferencial para uma negociação em torno do vice e da segunda vaga ao Senado. A convenção regional do DEM só deve ocorrer no próximo dia 30. Mas ontem o presidente nacional do partido, deputado federal Rodrigo Maia (RJ), ao participar de uma reunião em São Paulo com a cúpula do PSDB, avisou que os democratas não trilharão o mesmo caminho que os tucanos. Prefere lançar candidato ao GDF.
A vontade de Fraga de concorrer ao Palácio do Buriti se uniu à recusa do comando nacional do DEM em seguir com Roriz devido ao trauma da crise provocada pela Operação Caixa de Pandora, que contaminou pelo menos três democratas ilustres: Arruda, Paulo Octávio e o ex-presidente da Câmara Legislativa Leonardo Prudente. Todos foram pressionados a deixar o partido. Por isso, há um constrangimento dos caciques do DEM em apoiar Roriz e acabar reacendendo o desgaste, uma vez que o ex-governador também é citado no escândalo. A expectativa é de que Fraga herde o eleitorado de Arruda, principalmente a parcela da população que não vota num candidato do PT e também não quer a volta de Roriz. Ex-secretário de Transportes do governo do DEM, Fraga dará um palanque no DF para o tucano José Serra.
O outro deverá ser o de Roriz. O ex-governador trabalha para ter o PSDB a seu lado. O partido ainda não anunciou uma decisão oficial, mas está praticamente acertado com Roriz e deve divulgar hoje essa pretensão. A ex-governadora Maria de Lourdes Abadia está em São Paulo desde segunda-feira tratando do assunto. Ela e o vice-presidente nacional do PSDB, Eduardo Jorge Pereira, defendem a aliança com o ex-governador. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também se movimenta para viabilizar a parceria. Nos últimos dois dias, Abadia foi pressionada a fechar uma aliança com o DEM, mas insistiu em manter a dobradinha com o ex-governador.
Os argumentos usados são os de que Roriz, primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto no DF, tem grande penetração nas classes D e E, mesma faixa na qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é bem posicionado e deverá puxar votos para a candidata petista, Dilma Rousseff. Embora o DF represente uma parcela pequena do eleitorado nacional, o jogo apertado com o PT sinaliza que não há como desperdiçar votos. Há ainda um discurso pronto: se Roriz fora do DF é um aliado incômodo(1), Dilma também teria seus pontos fracos nos estados.
Análise jurídica
Nesta tarde, Roriz recebe um grupo de presidentes de partidos para avaliar os aliados que terá nas próximas eleições. Abadia chega hoje a Brasília e é possível que o presidente regional do PSDB, Márcio Machado, já seja portador da notícia relacionada à decisão tomada pelo comando da campanha de Serra. Na reunião de ontem em São Paulo, os tucanos fizeram primeiro uma análise jurídica sobre os casos envolvendo risco de impugnação de candidaturas por causa da aplicação retroativa da Lei da Ficha Limpa. Essa dúvida envolve Roriz, que renunciou em 2007 para escapar de processo por quebra de decoro parlamentar no Senado. A avaliação dos tucanos foi de que situações como a do ex-governador do DF deverão receber o aval do Supremo Tribunal Federal (STF) para seguir na campanha.
1 - Telhado de vidro
O discurso de contra-ataque de tucanos para ofensivas relacionadas ao apoio de Joaquim Roriz a José Serra está praticamente pronto. Caso haja críticas à parceria com o ex-governador, a campanha tucana deverá citar exemplos de aliados da petista Dilma Rousseff, como Fernando Collor (PTB-AL), Gim Argello (PTB-DF), o suplente de Roriz e Renan Calheiros (PMDB-AL).