Cidades

Veículos que fazem transporte pirata cobram até R$ 20

Com o serviço clandestino liberado pela fiscalização, muitos motoristas de carros particulares estão extorquindo os passageiros

postado em 23/06/2010 06:12
Sem ônibus nas ruas, o transporte pirata lucra em todo o Distrito Federal. Alguns motoristas chegaram a transportar mais de 400 pessoas em um dia. Os preços cobrados pelo serviço variam de R$ 2 a R$ 20, a depender do destino. Os carros irregulares circulam com total liberdade em pontos movimentos como a Rodoviária do Plano Piloto depois que o Transporte Urbano do DF (DFTrans) liberou o que chama de ;transporte solidário;. A única exigência é a de que não haja cobrança acima do valor normal do bilhete ; entre R$ 2 e R$ 3. Ontem, ninguém recebeu multa.

Na segunda-feira, o órgão de fiscalização apreendeu quatro carros que seguiam para o centro de Brasília carregados de pessoas que pagaram cada uma R$ 20 pela viagem. ;Não podemos proibir esse tipo de transporte durante uma greve. Quase apanhamos quando abordamos os carros. Mas sem isso, como as pessoas vão chegar ao trabalho? A única saída é continuar em cima daqueles que cobrarem um valor abusivo e puni-los;, informou o gerente de fiscalização do DFTrans, Pedro Jorge Brasil.

Sem segurança
Quem depende do transporte público se vê obrigado a entrar em um carro irregular. ;Eu paguei R$ 5 para vir trabalhar. Acho um absurdo. Tem van saindo superlotada, sem nenhuma segurança;, lamentou o auxiliar administrativo Luiz Felipe Bispo, 21 anos, morador do Paranoá. A auxiliar de serviços gerais Rosemeire Rodrigues Silva, 35, moradora do Gama, não vai ao trabalho há dois dias. ;Se eu pagar mais de R$ 10 de passagem depois fico sem dinheiro para nada. Além disso, o pirata não aceita o cartão de vale transporte;, reclamou. ;Hoje (ontem), eu tive de andar em um Passat velho e sem cinto de segurança;, queixou-se a estudante Mayara da Silva, 17 anos, que também vive no Gama.

Ontem à noite, o presidente da Associação dos Usuários de Transporte Público do DF (Atrac), Vidal Guerra, fez um protesto solitário na Rodoviária do Plano Piloto. Ele carregava uma faixa com os dizeres: ;Chega de ganância dos empresários do setor de transporte. O trabalhador quer chegar em casa com segurança. Exigimos respeito;. Há 1,2 mil pessoas cadastradas na Atrac. ;Vamos organizar um grande protesto. O trabalhador não aguenta mais esse transporte de péssima qualidade e a tarifa insuportável;, desabafou Guerra.

O povo fala
Como você circula pelo DF durante a greve?

;Na segunda-feira, tive muita sorte para ir ao trabalho. Um amigo passou, me viu no ponto de ônibus e ofereceu carona. Ontem, o jeito foi apelar para um ônibus do Entorno. Passa lotado, mas é a única alternativa.;

Antônio Lima, 52 anos, açougueiro, morador de Samambaia


;No primeiro dia de greve, esperei por 3h e não consegui nada. Minha esposa e eu perdemos um dia de trabalho. Ontem, ela pegou um pirata e pagou mais caro. Quem tem dinheiro, vai. Quem não tem, fica em casa e corre o risco de ser demitido. Sei que vou pagar caro também, por ônibus do Entorno que passam lotados.;

Francisco Luciano da Mata, 40 anos, auxiliar de serviços gerais, morador de Ceilândia


;Normalmente, pego ônibus para ir ao trabalho, mas segunda e terça-feira tive que usar o metrô. Como as pessoas estavam viajando que nem sardinha em lata, deixei três carros passarem até conseguir entrar.;

Jonathan Santana, 20 anos, técnico em Informática, morador de Taguatinga


;Todos os dias pego dois ônibus para chegar ao trabalho, no Lago Norte. Mas, com a greve, vou de metrô até a Rodoviária do Plano Piloto e minha patroa me busca na estação. Na segunda-feira, não consegui nem chegar ao metrô, porque as lotações estavam muito cheias, e acabei perdendo um dia de trabalho.;

Fernanda Alves, 20 anos, empregada doméstica, moradora de Samambaia

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