postado em 23/06/2010 06:43
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) abriu procedimento para investigar um suposto golpe que lesou várias pessoas que matricularam seus filhos no Colégio Sênior. A escola, que ficava na 616 Sul, fechou as portas em 8 de fevereiro deste ano, no primeiro dia de aulas do ano letivo, sem nenhum comunicado prévio. Segundo a denúncia, os donos do estabelecimento de ensino e também professores Marcelo Gonçalves e André Luiz Diniz, em novembro de 2009, ofereceram descontos de até 20% para aqueles que pagassem as mensalidades com 12 cheques pré-datados. Quando o colégio encerrou as atividades, Marcelo e André aconselharam os pais a sustarem os cheques e garantiram que iriam ressarcir as cobranças referentes aos meses de janeiro e fevereiro.No entanto, a dupla não cumpriu a promessa e fez pior: entregou todos os cheques ao agiota Márcio Diniz. Este, por sua vez, repassou os documentos para a empresa de cobrança Cobrasil, que tem sede em Taguatinga, e já protestou dezenas de cheques. A servidora pública Ana Lúcia de Souza, 40 anos, foi uma das lesadas e exige uma solução. ;Eu comprei o material escolar, descontaram a primeira mensalidade por um serviço não prestado e ainda sujaram o meu nome. Eles agiram de má-fé e têm de pagar por isso;, reclama.
O titular da 1; Promotoria de Defesa do Consumidor (Prodecon), Paulo Binicheski, concorda com Ana Lúcia. Para ele, Marcelo e André conduziram o caso de forma suspeita. Ele intimou os dois para explicarem, na próxima quinta-feira, na própria promotoria, o motivo de terem passado os cheques para um agiota. A audiência também contará com a presença dos pais e do agiota Márcio.
Antes de colher o depoimento dos professores, o promotor já adiantou que irá exigir que eles devolvam os valores e cancelem os protestos que estão em aberto. ;Eles terão que devolver os cheques. Essa é a primeira providência. Depois, iremos avaliar o que realmente aconteceu. Eles podem responder por estelionato, fraude e até mesmo por formação de quadrilha, se ficar provado que houve conluio entre os donos do colégio, o agiota e a empresa;, afirma Binicheski.
Até agora, apenas sete pais recorreram ao Ministério Público. O promotor pede que todos que se sentiram enganados procurem a Prodecon. A Delegacia do Consumidor (Decon) também abriu inquérito para apurar o suposto golpe. Para o presidente do Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinproep/DF), Rodrigo de Paula, o fechamento repentino de uma unidade de ensino não prejudica apenas a vida financeira de quem confiou na instituição, mas também compromete a vida escolar dos estudantes. ;O problema também é do ponto de vista pedagógico. Isso abala o aprendizado dos alunos, que estão acostumados com um ambiente e são obrigados a mudar repentinamente de escola. Deve haver uma punição exemplar;, considera Rodrigo de Paula.
O presidente do sindicato dá algumas dicas para que os pais não caiam em golpes como esse. ;Um dos sintomas de que a escola não está com uma situação financeira boa é fazer muitas promoções, tendo como contrapartida oferecer descontos. Muitas acabam fazendo o que aconteceu agora com o Sênior. A situação não é nova aqui no Distrito Federal;, relata.
A aposentada Maria Teodolina de Farias, 69 anos, contou que a neta de 17 só voltou a estudar recentemente. ;Ela resistiu muito à ideia de ir para outra escola. Já estava acostumada, o que prejudicou muito o aprendizado. Além de me preocupar com ela, tinha os cheques, que sujaram o meu nome. Me sinto enganada e traída;, detalha.
Não é a primeira vez que Marcelo e André se envolvem em uma confusão dessa natureza. Em 2006, o Colégio NDA, na Asa Norte, fechou as portas da mesma maneira, prejudicando centenas de estudantes. Os docentes eram sócios da escola e agiram de maneira semelhante, exigindo dos pais o pagamento das mensalidades com cheques pré-datados. Na ocasião, os pais conseguiram reaver os documentos. A reportagem do Correio ligou para os dos proprietários do Sênior, mas eles não atenderam a reportagem.
Memória
Portas fechadas
Em março de 2008, alunos e professores da Escola Dom Pedro II, localizada na 703 Norte, tomaram um susto quando chegaram ao colégio. Todos se depararam com as portas do colégio fechadas. Apenas um cartaz afixado na grade informava que a instituição havia falido e que a documentação dos estudantes seria enviada via correios. A maioria dos alunos ficou abalada com a notícia. Na ocasião, a Promotoria de Defesa do Consumidor (Prodecon) do Ministério Público do DF agiram para evitar que os direitos dos alunos fossem lesados. Alguns cheques foram descontados sem nenhum aviso prévio e os pais tiveram que recorrer à Justiça.