postado em 24/06/2010 08:22
Excelência para consumo próprio. É essa a realidade da produção do mel no Distrito Federal. Produtos que saem dos apiários locais ;mel, geleia real, pólen e própolis ; já ganharam nada menos do que sete prêmios da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA). O mel ficou em primeiro lugar cinco vezes e levou a segunda colocação uma vez. O pólen, altamente nutritivo e que começa a ser incorporado na alimentação, ficou na segunda posição uma vez também. Ausência de impurezas, sabor rico e suave e leveza foram determinantes para a conquista dos títulos pelo mel. Tudo isso é obtido com coleta e manuseio cuidadosos, em pequena escala, priorizando qualidade e não quantidade. A diversidade da vegetação do cerrado, que tem grande quantidade de árvores com flores melíferas, é outro fator determinante. Por ser extraído em porções reduzidas e ter alto valor agregado, o produto somente é comercializado nas fronteiras do DF. Atacadistas e exportadores que compram mel a granel, em grandes quantidades, pagam R$ 6 em média pelo quilo. Vendendo potes em feiras locais, os apicultores brasilienses cobram em média R$ 18 por igual peso, valor que consideram justo.Segundo a Associação Apícola do DF (Api-DF), existem aproximadamente 160 produtores de mel afiliados à entidade. Desses, de 25 a 30 atuam de forma mais profissionalizada. ;O restante tem uma produção essencialmente caseira, vendem para família e amigos;, relata o apicultor Nilo Macedo, presidente da Api-DF.
Marcas
Os apicultores mais engajados criam marcas para os seus produtos, inscrevem-se em competições, participam ativamente de feiras regionais e observam rigorosamente regras de pureza. ;O mel é um alimento que já vem completo da natureza, sem resíduos. Qualquer contaminação é resultado de coleta ou do processamento errados. Por isso, tudo tem que ser feito com roupas e equipamentos higienizados;, explica Macedo. Ele conta que alguns produtores têm, em suas propriedades, as chamadas casas de mel, ambientes para extrair o alimento das colmeias e manuseá-lo de forma esterilizada. Esses locais só podem funcionar com o selo de aprovação do Departamento de Defesa Agropecuária e Inspeção de Produtos de Origem Vegetal e Animal (Dipova), da Secretaria de Agricultura do Distrito Federal. Quem não têm condições de construir um aparato do tipo ; uma casa de mel pode custar R$ 50 mil ; tem a opção de processar o alimento no Palácio do Mel, estrutura construída na Granja do Torto há cinco anos com apoio do governo local, que oferece todo o maquinário necessário e também tem certificação do Dipova.
A produção de mel no DF é de, em média, 4 toneladas por ano. Medição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2008, dá conta de 3,6 toneladas originárias do Distrito Federal naquele ano, valor insignificante frente às 37,8 mil toneladas produzidas no país todo no mesmo período, a maior parte destinada à exportação.
O mercado externo valoriza muito o mel brasileiro, principalmente em razão do tipo de abelha usada na extração, as chamadas africanizadas (1). Mas, a despeito da qualidade de sua produção, os apicultores do DF não demonstram interesse em ganhar o mundo. ;O preço é estabelecido pelo produtor e não tem porque mudar;, diz Nilo Macedo. ;O consumidor do Distrito Federal tem alto poder aquisitivo e é fiel. A estratégia de vender para um mercado interno exigente vem dando frutos;, acrescenta Reginaldo Barrozo de Resende, responsável nacional pela carteira de apicultura do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O selo concedido pela Secretaria de Agricultura aos produtores locais de mel não permite comercialização em outras unidades da Federação. Trâmites burocráticos junto ao Ministério da Agricultura poderiam resolver a questão, mas, a exemplo do que ocorre com as exportações, não há interesse dos produtores em mudar essa realidade.
1 - Resistência
A produção de mel no Brasil foi feita com abelhas europeias de até os anos 1950. Naquela década, 80% das colmeias do país foram dizimadas por doenças. Por isso, um especialista foi à África para trazer animais mais resistentes. Durante experimentos com as abelhas africanas, um acidente provocou um enxame e elas se disseminaram, chegando a causar pânico entre a população por serem muito agressivas. Mais tarde, técnicos cruzaram a abelha italiana com a africana, obtendo uma prole mais produtiva e menos agressiva.
Assista a reportagem sobre o tema na edição de hoje do Correio Notícias, a partir das 16h
Premiações
1996
1; lugar melhor mel do país
Congresso Brasileiro de Apicultura em Teresina
1998
2; lugar melhor mel cristalizado
Congresso Brasileiro de Apicultura em Salvador
2000
1; lugar melhor mel do país
Congresso Brasileiro de Apicultura em Florianópolis
2002
2; lugar melhor pólen do país
Congresso Brasileiro de Apicultura em Campo Grande
2006
1; lugar melhor mel do país
Congresso Brasileiro de Apicultura em Aracaju
2008
1; lugar melhor mel do país
Congresso Brasileiro de Apicultura em Belo Horizonte
2010
1; lugar melhor mel do país
Congresso Brasileiro de Apicultura em Cuiabá
Produto de Planaltina
Bancário aposentado e apicultor, José Carlos Fiúza, 56 anos, foi o vencedor do último prêmio da CBA de melhor mel do Brasil, concedido em maio deste ano em Cuiabá (MT). Ele é dono de uma chácara em Planaltina, onde coleta e processa o alimento sob a marca Doce Mel. Do apiário de Fiúza sai, aproximadamente, uma tonelada de mel por ano. Para garantir a qualidade de seu produto, cuidados mil. Roupas, luvas e ferramentas utilizadas para retirar o mel da colmeia são limpos com água e álcool. Dentro do fumegador, equipamento que ejeta fumaça para afastar as abelhas na hora da coleta, nenhuma madeira de cheiro forte pode ser queimada, já que isso influenciaria o sabor do mel. ;Queimamos sabugo de milho, que é bastante neutro;, informa Fiúza.
No período de safra ; meses de seca, quando as flores têm mais néctar; a manutenção das caixas cheias de telas de arame onde as abelhas trabalham é feita a cada quinzena. É preciso verificar se a abelha-rainha está velha, se ela se machucou, garantir espaço para armazenamento. Na entressafra, quando as chuvas esvaziam os nectários das plantas e elas guardam menos néctar, a verificação é mensal. Depois de colhido, o mel é transportado para uma casa de mel no próprio terreno da chácara de José Carlos Fiúza. O ambiente é azulejado e todo esterilizado. Lá, uma centrífuga ajuda a descolar o extrato retirado das flores das telas da colmeia. Assim, sem adição de qualquer substância, o mel está pronto para ser consumido.
A produção de mel no DF começou, com métodos ainda rudimentares, há cerca de 30 anos. A técnica foi trazida para Brasília por agricultores gaúchos que hoje ocupam as terras do Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD-DF), área às margens da BR-250.
Com a construção do Palácio do Mel para processamento do produto, a atividade apícola tornou-se barata. Uma caixa com telas de arame, para formação de um enxame, sai a R$ 200. Uma primeira coleta fornece de 20 quilos a 30 quilos de mel e pode render até R$ 300, cobrindo o investimento.
O mel e outros derivados do néctar produzidos no DF em geral não são vendidos em supermercados, e podem ser encontrados em feiras. A mais famosa é a Feira do Mel do Jardim Botânico, que ocorre anualmente em maio. Informações sobre o calendário desses eventos podem ser obtidas junto à Api-DF, pelo telefone 3242-9600.