Cidades

Faltam 10 mil leitos nos hotéis em Brasília

Com capacidade reduzida para atender à demanda estimulada pelo mundial, o setor vive um dilema: se construir para suprir o deficit, passado o campeonato, a taxa de ociosidade será ainda superior à atual, calculada em 42% ao ano

postado em 26/06/2010 07:00

Com capacidade reduzida para atender à demanda estimulada pelo mundial, o setor vive um dilema: se construir para suprir o deficit, passado o campeonato, a taxa de ociosidade será ainda superior à atual, calculada em 42% ao anoBrasília precisará de pelo menos mais 10 mil leitos de hospedagem para receber os turistas na Copa do Mundo de 2014. Enquanto o governo local tenta encontrar alternativas para suprir esse deficit, representantes do setor hoteleiro levantam um dilema: o que fazer com os espaços criados depois que a competição acabar? A preocupação é que os novos empreendimentos possam não ser viáveis economicamente. Apesar de ficarem cheios entre terça e quinta-feira, os hotéis da capital do país sofrem com a ociosidade no restante da semana.

Ainda não há nada definido sobre o que será feito até a Copa. Uma das possibilidades seria a expansão do Setor Hoteleiro Norte para uma área verde perto do Colégio Militar, onde caberiam cerca de 14 prédios. A Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), dona dos terrenos, confirma que o caso está sendo estudado. Um outro espaço vago, na região do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, também poderá abrigar hotéis. ;Estamos tranquilos. Vamos criar mais leitos e continuar trabalhando para sediar o jogo de abertura;, diz o gerente de projetos da Copa em Brasília, Sérgio Graça.

Por ora, as indefinições políticas no Distrito Federal e o ano de eleições adiam atitudes concretas. ;Ninguém tem informação precisa sobre o que está sendo feito em relação aos hotéis. E o tempo está correndo. Existe um grande risco de a Copa em Brasília ser um fiasco ou mesmo nem acontecer;, teme o presidente do Sindicato de Restaurantes, Hotéis, Bares e Similares do DF (Sindhobar), Clayton Machado. ;A situação preocupa. Brasília está atrasada. Faltam investimentos em infraestrutura, serviços e treinamento de pessoal;, completa Anamaria Ferrão, consultora na área de hotéis e restaurantes.

Com capacidade reduzida para atender à demanda estimulada pelo mundial, o setor vive um dilema: se construir para suprir o deficit, passado o campeonato, a taxa de ociosidade será ainda superior à atual, calculada em 42% ao anoEm tese, a cidade terá de estar pronta para a Copa do Mundo um ano antes, em 2013, quando ocorre a Copa das Confederações. Sérgio Graça, o gerente de projetos, sustenta que não há motivo para alarde e dá a entender que a solução para a carência de leitos é óbvia. ;É bem claro que existe um deficit de hospedagem em Brasília. Então, precisamos de mais hotéis, independentemente de Copa;, afirma. Existem cerca de 75 hotéis espalhados pelo DF. Grandes redes do país e do mundo estão presentes na capital. São de 22 mil a 24 mil leitos disponíveis.

O movimento nos hotéis em Brasília se concentra no meio da semana(1), quando é difícil achar vaga. ;Se não fizer reserva com antecedência, fica complicado;, diz o engenheiro Guido Villavicencio, 47 anos, paulistano que precisa vir à capital do país a trabalho, em média, a cada dois meses. Em contrapartida, entre quinta e terça-feira, os hotéis amargam uma taxa de ocupação que costuma não passar de 30%. ;É uma característica das cidades baseadas no turismo de negócio. Não tem como fugir disso;, analisa o secretário de Turismo, Delfim da Costa Almeida.

No ano passado, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih), a taxa de ocupação de hotelaria no DF foi de 58%, contra 65% da média nacional. Esse cenário serve como argumento para que representantes do setor não apostem na construção de novos hotéis como saída para o deficit de leitos. ;Ninguém vai querer investir em um empreendimento desse porte para, depois da Copa, ter dois, três dias de ocupação garantidos. Se não existe uma política de turismo estruturada nessa cidade, o que faremos com os hotéis construídos?;, provoca Clayton Machado, do Sindhobar.

O investimento para erguer um hotel de médio porte é, por baixo, de R$ 30 milhões. Machado acredita que quem entrar no mercado poderá ter prejuízo, se nada mudar no que diz respeito às ações do governo local para aquecer o turismo da cidade. ;É melhor transformar os clubes em albergues e explorar os hotéis-fazenda do Entorno;, sugere. ;Brasília não precisa de mais hotel. Precisa é distribuir melhor a ocupação durante a semana e convencer os turistas a ficarem mais na cidade;, acrescenta o vice-presidente da Abih no DF, Plínio Rabello, da rede Bonaparte.

Enquanto a Copa não chega, donos de hotéis da capital do país continuam a lidar com o paradoxo da ocupação quase máxima versus falta de hóspedes. ;Eu queria poder pegar as vagas dos dias ociosos e vender durante a semana;, brinca a gerente de operações do Sonesta Hotel, Chananda Tubert. Com frequência, o setor lança promoções para atrair os próprios brasilienses, principalmente em datas especiais, como o Dia dos Namorados. Para hospedagem aos sábados e domingos, alguns hotéis chegam a vender diárias pela metade do preço.

Manifestações aquecem o mercado
Há uma semana, o Correio mostrou como as manifestações de entidades de classe movimentam a economia da cidade. Além de lotarem os hotéis, demandam serviços de transporte e alimentação, além de contratarem carros de som e mandarem confeccionar faixas, bonés e camisetas.



Flats, uma alternativa
Os lançamentos de flats em Brasília em 2010 ; cujo preço do metro quadrado varia entre R$ 8 mil e R$ 11 mil ; têm a ver com o superaquecimento do mercado imobiliário, mas também revelam a tentativa de empresas em suprir o deficit de vagas em hotéis da cidade durante a semana. Além disso, as construtoras estão de olho na Copa do Mundo de 2014. Os hotéis de longa estadia querem se firmar como uma alternativa de hospedagem para os turistas.

A Odebrecht Realizações Imobiliárias investiu cerca de R$ 100 milhões no Brisas do Lago, empreendimento de luxo lançado este mês às margens do Lago Paranoá, com 750 apartamentos em formato de flat. A obra deve ser concluída em 2013. ;Brasília precisará ter mais leitos para a Copa. Esse foi um dos nossos focos;, reconhece o diretor da empresa, Sérgio Macedo.

No último ano, a João Fortes Engenharia lançou três prédios com flats em Brasília, um total de 928 unidades. ;A cidade precisa de mais leitos, independentemente da Copa, mas a competição dará ainda mais segurança aos investidores, servirá como mais uma garantia de que a aposta valerá a pena;, acredita o diretor de negócios da empresa, Luiz Rimes.

Pensando na aposentadoria e na Copa de 2014, a empresária Cláudia Silva comprou três flats, um deles no valor de R$ 440 mil. No que ela pagou R$ 180 mil, dois anos atrás, houve uma valorização de 80% ; hoje ele já vale R$ 330 mil. ;Vou alugar todos durante os jogos aqui em Brasília. E se vacilar, até o lugar onde moro colocarei à disposição;, comenta.

Até o fim do mês que vem, a Construtora Vilela e Carvalho lançará um empreendimento na região na nova Super Quadra Park Sul, com cerca de 300 flats. ;Será uma alternativa de hospedagem durante a Copa mais perto do aeroporto, de shoppings e hipermercados;, sustenta a diretora de empreendimentos da empresa, Ludmila Fernandes.


Cara a cara

Sérgio Graça, gerente de projetos da Copa em Brasília,
;É bem claro que existe um deficit de hospedagem em Brasília. Então, precisamos de mais hotéis, independentemente de Copa;


Clayton Machado, presidente do Sindhobar
;Ninguém vai querer investir em um empreendimento desse porte para, depois da Copa, ter dois, três dias de ocupação garantidos. O que faremos com os hotéis construídos depois?;

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