postado em 28/06/2010 08:20
O candidato do PT ao governo do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, oficializou ontem o casamento ; há muito antecipado e anunciado ; entre petistas e peemdebistas na chapa que disputará este ano o comando do Palácio Buriti. Na convenção regional do PT, realizada ontem no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, o vice de Agnelo, Tadeu Filippelli (PMDB), foi apresentado à militância petista, que o recebeu sem hostilidade mas também sem entusiasmo. Depois de anos em lados opostos durante a campanha eleitoral, a militância dos dois partidos optou por aceitar em silêncio a aliança dos antigos adversários, com a convicção de que a união sem amor das duas siglas é a única saída para abater Joaquim Roriz (PSC), político que também formalizou ontem sua candidatura ao GDF.No front petista, aliados de Agnelo revelam que muitos partidários ainda não engoliram a coligação com o PMDB e que o argumento utilizado para acalmar os ânimos dos insatisfeitos é que ; depois da recepção de Filippelli ontem na convenção ; no decorrer da campanha, o vice terá ;tamanho de vice; nos palanques, sem nunca protagonizar o evento.
O candidato ao governo não nega as divergências internas, mas afirma que as arestas serão aparadas durante a campanha. ;Isso (as diferenças entre PT e PMDB) vai ser superado no curso da batalha. Quando se tem objetivo, meta, todos se unem em torno disso e permitem que qualquer divergência do passado seja superada;. Filippelli, por sua vez, afirma que política é feita de circunstâncias. ;Acredito que, na política, tudo é feito pelo momento e que todos os partidos que vinham na disputa devem se unir para um novo caminho;, defende.
A presidenciável do PT, Dilma Rousseff, era esperada na convenção, mas não apareceu. Sua participação se limitou a fotos em banners e a uma mensagem lida por emissário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ;Vamos somar forças para convocar a sociedade e virar a página do passado, retornando à condição republicana no Distrito Federal;, escreveu a candidata. Lula também mandou mensagem para Agnelo, afirmando que ;Brasília tem pressa; e que a aliança PT/PMDB é um ;momento histórico; para a capital do país. Mas foi o recado dado pelo emissário de Lula que soou melhor para o candidato ao governo. O presidente mandou dizer que nunca defendeu a existência de dois palanques no Distrito Federal para Dilma, em resposta às tentativas de negociação do senador Gim Argello (PTB) para lançar uma chapa alternativa, que teria o governador Rogério Rosso na liderança. ;Essa é a mensagem, era preciso deixar isso claro;, festejou Agnelo.
;Estranheza;
Os candidatos ao Senado pela chapa, o senador Cristovam Buarque (PDT) e o deputado Rodrigo Rollemberg (PSB), vestiram vermelho para homenagear o PT. Cristovam admitiu que causa ;estranheza; uma mesa composta por ele, Filippelli e petistas, mas argumentou que o objetivo maior é derrotar Roriz. ;As eleições são dois lados, Roriz e o resto. Filippelli veio para o lado de cá e fez o favor de tirar o Roriz do PMDB. Essa estranheza pode até existir, tem lógica;. O senador até arriscou um palpite favorável à situação do candidato do PSC diante da Lei da Ficha Limpa: ;Se a Ficha Limpa for por causa da renúncia, acho que ele pode ser salvo. Quando renunciou não era crime;.
A candidatura de Rollemberg ao Senado é comemorada por petistas. Nos bastidores, o argumento é que o parlamentar do PSB pode ;puxar; votos para a coligação. Mas alguns militantes ligados ao deputado Geraldo Magela (PT), preterido para disputar o Senado, manifestaram certa hostilidade a Rollemberg que comparou a aliança dos antigos adversários às costuras feitas por Lula na Presidência. ;O presidente Lula conseguiu trazer todas as mudanças para o Brasil porque soube fazer alianças;.
A aliança multipartidária coloriu a convenção. Aproximadamente 4 mil petistas e mil peemedebistas agitaram bandeiras e sopraram vuvuzelas, saudando a chapa que reúne sete partidos, até agora. A coligação ainda conversa com o PTB. O PPS do Distrito Federal estaria impedido de entrar formalmente na aliança por determinação da executiva nacional da sigla, até agora. O presidente nacional do partido, Roberto Freire, chegou até a cogitar uma intervenção na cúpula local. Apesar da ameaça, o deputado federal Augusto Carvalho (PPS) afirmou estar muito próximo de fechar a coligação com os petistas. A convenção regional da sigla está marcada para hoje à noite.
Pelo menos nove ônibus levaram os militantes até o Parque da Cidade. Claque contratada pelo candidato a deputado federal João Maria (PT) formou uma longa fila para ganhar o cachorro-quente prometido pelos responsáveis pelo transporte dos trabalhadores. Apesar da preocupação da Polícia Militar, que mobilizou cerca de 30 homens para a segurança do evento, não houve tumulto. A autônoma Neuza Farias, 51 anos, moradora do Novo Gama, afirma que a militância já está pacificada e que as brigas ficaram no passado. Ela já foi filiada ao PT e, ontem, foi representar o PMDB. ;Um era a paixão e o outro, a consciência. Agora, eu vou carregar as duas bandeiras;.
Além dos cargos majoritários, o presidente regional do PT, Roberto Policarpo, espera que a coligação emplaque a maioria na bancada do DF na Câmara dos Deputados e na Câmara Legislativa. ;Nossa missão é eleger cinco deputados federais nesta eleição e fazer uma bancada distrital que possa nos orgulhar.;
Impugnação
Pelo entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Lei do Ficha Limpa valerá para as eleições deste ano. Entre outros tópicos, a regra afirma que estão inelegíveis os candidatos que, no passado, renunciaram para escapar de um processo de cassação, caso de Joaquim Roriz. A Procuradoria Regional Eleioral deve impugnar a candidatura do ex-governador, mas os advogados dele disseram que recorrerão até a última instância para mantê-lo na disputa.